Carlos Chagas
Serve para melar um pouquinho mais o quadro sucessório paulista o anúncio feito segunda-feira por Eduardo Suplicy, de que disputará no PT a indicação para concorrer ao governo do estado. Condições não lhe faltam: é senador de 6 milhões de votos e deixará qualquer companheiro para trás, seja Antônio Palocci, seja sua ex-mulher, Marta Suplicy. A pimenta que tornará ainda mais indigesta a disputa pelo palácio dos Bandeirantes refere-se à primeira conseqüência da decisão de Eduardo, que será o afastamento da já combalida candidatura de Ciro Gomes, desejada pelo presidente Lula mas rejeitada pela maioria do PT.
Mesmo sem dominar a cúpula do partido, o senador levará o resultado para as bases, que mais se aproximam dele. E deixará em sinuca o outro lado, ainda indeciso entre Geraldo Alckmin e Aluísio Nunes Ferreira.
Por mais estranho que pareça, a pulverização do eleitorado favorecerá Paulo Maluf, valendo lembrar paralelo igual verificado nos idos de 1962, quando depois de duas vezes derrotado para a presidência da República e duas para o governo de São Paulo, desgastado e ridicularizado, Ademar de Barros despontou como vencedor.
Os reflexos dessa situação inusitada se farão sentir na sucessão presidencial a ser disputada no mesmo dia. José Serra arriscaria o Planalto sem a garantia de uma retaguarda imprescindível em São Paulo ou optaria por uma reeleição tranqüila? Suplicy se esforçaria por tornar Dilma Rousseff vitoriosa entre os paulistas? E Maluf, serviria de fiel da balança, podendo inclinar-se para os tucanos ou para os companheiros?
Confusão nas Gerais
Em Minas não é menos complicada a armação sucessória. O PT oscila entre Patrus e Pimentel enquanto o governador Aécio Neves, da mesma forma como José Serra, para chegar ao Planalto necessita sedimentar a retaguarda com seu candidato, o vice-governador Anastásia. No PMDB, o ministro Hélio Costa reage à possibilidade de apoiar o candidato do PT, qualquer que seja, batendo de frente com o ex-governador Newton Cardoso.
O presidente Lula hesita em definir-se, irritando o PT mineiro, de um lado, e de outro fornecendo motivos para o PMDB nacional fazer caretas na hora de oferecer o companheiro de chapa de Dilma Rousseff. Com as dificuldades que agora cercam Michel Temer, até que Helio Costa preencheria a vaga, mas sua disposição é de não recuar na pretensão de ocupar o palácio da Liberdade, com base no mote popular de que melhor ter um pássaro na mão do que dois voando. Para complicar, Aécio Neves não sabe o que fazer com Itamar Franco, a quem já prometeu uma das candidaturas ao Senado, capaz de ser a sua própria, caso malogrem seus sonhos presidenciais.
Lobão no páreo
Senão com um suspiro de alívio, pelo menos aproveitando razoável moratória encontram-se o presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff, depois que ventos de tempestade começaram a soprar sobre Michel Temer. Chegaram a engolir em seco quando parecia provável a indicação do presidente da Câmara, mas precisariam aceitá-la. O Lula não gosta dele, para Dilma tanto faz a certidão de batismo de seu vice. Tornando-se mais difícil a indicação do presidente licenciado do PMDB para companheiro de chapa da ministra, outros nomes começam a ser especulados. Helio Costa não quer, Nelson Jobim é cristão-novo, Geddel Vieira Lima fixou-se na Bahia. Sendo assim, desponta o nome do ministro Edison Lobão, com a vantagem de ser do Nordeste e tido pelo presidente da República como grata surpresa no comando do ministério das Minas e Energia.
Panorama visto da ponte
Eram quinze, hoje são dezoito os diretórios estaduais do PMDB que endossam a proposta de um candidato próprio do partido à presidência da República. Com cautela, o governador Roberto Requião continua trabalhando as bases peemedebistas, fiado na evidência de que em maioria elas rejeitam o acordo celebrado pela direção nacional, de apoio a Dilma Rousseff.
Requião não faz críticas à candidata do PT, muito pelo contrário, transitando numa avenida de duas mãos. Caso a convenção nacional do PMDB venha a optar pela aliança com a candidata do governo, poderá apoiá-la. Mas se por hipótese Dilma não decolar, com quem ficaria o presidente Lula? Serra, Aécio, Marina, Ciro e Heloísa não são hipóteses plausíveis. Vai daí que…
Fonte: Tribuna da Imprensa