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terça-feira, dezembro 08, 2009

Lula trabalha pela sexta eleição seguida, fato único no mundo ocidental. Por enquanto, só quem pode protestar, fica em silêncio, se contenta com SP

O Poder não tem agravantes, variantes, ou fatores preponderantes. Quem o ocupa não quer sair mais, quaisquer que sejam as explicações. No início do primeiro mandato, Lula foi ao Gabão, voltou empolgado e inebriado: “Puxa, 50 anos no Poder”. Era uma confissão, para quase todos faltou compromisso.

Agora Lula abre o jogo, se esquiva de todos os golpes, como se a sucessão fosse uma luta de boxe e ele um Muhammad Ali.

Reeeleição de Morales

Mais um, que induzido, que palavra, mudou a Constituição, “ganhou” ontem mais um período. Não fez nada, ficou no Poder por causa do povão que o apoiou. O que esse povão podia fazer? Entre a elite dominadora e um deles mas desinteressado, tanto fazia. A opção era votar em Morales ou ficar em casa.

Todos se reeelegem,
depois querem mais

Começou com Menem, que não podia ser reeeleito. Ganhou o segundo mandato, queria o terceiro, foi preso por corrupção. Fez acordo, desistia, seria solto. Quem não aceitaria?

Fujimori, na sequência de Menem

O peruano com dupla nacionalidade, conseguiu facilmente um mandato. Queria o terceiro, descobriram que havia roubado mais do que o “compreensível”, fugiu para o Japão. Mas querendo o Poder a qualquer custo, voltou, foi preso, ficará o resto da vida na cadeia.

FHC, o desconstitucionalista

Jamais acreditou que chegaria a presidente. Não foi preso, cassado, perseguido ou incomodado, teve o aval dos ditadores para se candidatar em 1978, em plena fúria da crueldade. Mesmo assim ficou só como suplente, já era alguma coisa.

A reeeleição que
ninguém tentara antes

O primeiro a recusar a reeeleição, foi Prudente de Moraes, o consolidador da República. Não aceitou de jeito nenhum. O primeiro a pretendê-la, foi Campos Salles, ninguém aceitava seu nome, por causa do vergonhoso acordo quer assinou em Londres, “RENEGOCIANDO” a “dívida”. Em 1900. FHC cometeu crimes piores, 95 anos depois.

Nem JK ou Jânio
pensaram na reeleição

Juscelino cumpriu 5 anos tumultuados. Eleito apenas por 36 por cento dos brasileiros, mudou para pior o futuro do país, “plantando” para todo o sempre a catástrofe da nova capital, dando outra dimensão à corrupção bem distante e quase invisível.

Jânio, o trêfego peralta

Nem pensou em reeleição, em cumprir os 5 anos do mandato e tentar outro. Lançou movimento diferente: explorar a popularidade e a vitória folgada para “voltar nos braços do povo”. Foi derrotado precisamente por causa de Brasília, que desestruturada, não permitiu que os generais se entendessem.

Brizola, governador no Rio Grande do Sul, atraiu o comandante do III Exército, general Machado Lopes, os generais tiveram que aceitar o parlamentarismo. E “plantavam” a semente de 1964, que começava em 6 de janeiro de 1963, quando o parlamentarismo foi derrubado.

A morte de Tancredo, o impeachment de
Collor, permitiram a chegada de FHC

Ninguém acreditava, nem ele. De tal modo, que em 1993, tendo que enfrentar Lula em 1994, e “sabendo” que perderia, FHC reduziria o mandato presidencial de 5 para 4 anos. Ganhou (?), achou pouco, ficou mais 4 anos, queria outros 4, deveria ter o destino de Menem. FHC foi o pior presidente da história, seu governo foi o RETROCESSO DE 80 ANOS EM 8.

No exterior, Chávez, Uribe,
e todos os outros que querem

Chávez (e sua “revolução bolivariana”), foi o mais audacioso e o que mais imediatamente compreendeu, que é fácil se aproveitar do Poder e explorar o povo. Em vez de uma reeeleição, jogou tudo na “eternidade”, lançando o MANDATO ININTERRUPTO até 2030. Vai indo bem.

Na Colômbia, quase subterraneamente, Uribe ganhou o direito de se reeeleger e a reeeleição propriamente dita. Correa, do Equador, foi na mesma balada, todos tentarão mais um mandato, terminado esse. Menem, Fujimori e FHC perderam o terceiro porque ainda não surgira a Era Chávez.

Terminemos por hoje, aqui no Brasil. Escondido pelo biombo da inexistente Dona Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, nem pensa em se despedir do mandato. Falta praticamente 1 ano, ele descobriu (ou inventou) a pólvora: a força do exterior se reflete e se projeta de maneira quase incontrolável no interior. Por isso, diariamente acorda mais cedo para viajar.

Ao mesmo tempo em que finge fazer campanha para a sua “candidata”, vai monitorando e mobilizando a sua própria permanência. Já teve três hipóteses ou opções, agora se concentra apenas em uma, não há duvida, a mais suculenta e abrangente.

Seria a prorrogação de todos os mandatos no Executivo, Legislativo e Judiciário, até 2012. Aí então, todos “limpariam a pedra”, e poderiam disputar mandatos mesmo já exercidos. Só que a partir daí não haveria mais REEELEIÇÃO para ninguém.

Aguardem. Com essa fórmula, Lula ganharia mais 2 anos até 2012 e mais 5 até 2017. (São os cálculos). Deixaria o Poder com 72 anos, seria o patriarca do nordeste paulista.

Tomem nota e não esqueçam: tudo estará resolvido até 31 de março (ou 2 ou 3 dias depois) com a desincompatibilização. Lula não precisa sair. Se sua jogada der certo, ficará no Poder como candidato. Se não der, ficará também, como alavanca e ponto de apoio, mas de quem?

* * *

PS- E não desgrudem das palavras e das ações de José Serra. A propaganda eleitoral do PSDB, com ele e Aécio se elogiando aleatoriamente, pode não ser por acaso. Se ele deixar o governo, é que o plano de Lula não deu certo.

PS2- Se ficar no governo, é que disputará novo mandato em São Paulo, até 2015. E em 2017, com 75 anos, tentará a conquista do Planalto-Alvorada. Mocíssimo.

PS3- Para quem disse, “em 2002, com 60 anos, é a minha vez”, a certeza de que política e eleitoralmente, o tempo pode ser vencido. Serra então com 75 anos e Lula com 72, serão companheiros, comensais, confraternos e coadjuvantes. E pensando no futuro, juntos e sem divergências.

Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa

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