Publicado em 5 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Elio Gaspari
O Globo/Folha
Churrascos, verbas ou mesmo troca de ministros não resolverão as dificuldades do governo com o Congresso. Lula foi eleito com a escassa vantagem de 1,8 ponto percentual e tem uma base parlamentar instável, mas acredita que pode resolver problemas do atacado com soluções do varejo.
O Congresso tem uma maioria conservadora pressionada por uma minoria radical, até troglodita. O presidente, contudo, vocaliza uma agenda que o afasta de um equilíbrio.
AGRO FASCISTA – Um exemplo: durante a campanha eleitoral ele disse que “o agronegócio, sabe, que é fascista e direitista. (….) porque os empresários que têm um comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China, não querem desmatar.” Coisas da campanha.
Em maio, quando o ministro da Agricultura foi desconvidado para a abertura do Agrishow de Ribeirão Preto, voltou a crer na ação de “fascistas”. Isso, levando o líder do MST na sua comitiva para a China.
Há grandes empresários do agro que o apoiaram. Essa retórica pode agradar ilustrados das cidades, mas para os empresários do campo, tornam-se um fator de isolamento. Quando um parlamentar ligado aos agricultores, reivindica uma verba, ele pode até vir a votar com o governo na terça-feira, mas na quinta atende de novo sua base.
SEM DINHEIRO – As arcas da Viúva não têm dinheiro suficiente para garantir uma base parlamentar alimentada pelo varejo.
Num tempo bem mais confortável, o governo de Lula tentou isso com o mensalão e deu no que deu. Também não se vai a lugar algum dizendo que o problema é de coordenação.
Trocando-se o ministro Alexandre Padilha pelo ilusionista Issao Imamura, o problema continuará do mesmo tamanho. Coordenar o quê?
ZANIN NO STF – É muito provável que Cristiano Zanin seja aprovado pelo Senado e assuma cadeira no STF. Desde que sua escolha se tornou pública ele está debaixo de chumbo. Pode-se estranhar que Lula tenha escolhido o advogado que, com êxito, defendeu-o no processo da Lava-Jato, mas ele não foi seu advogado em outros litígios.
Nos EUA, o advogado particular do presidente mandado para a Suprema Corte foi Abe Fortas, indicado em 1965 por Lyndon Johnson.
Em 1969 ele foi obrigado a renunciar porque remunerou-se por palestras numa universidade que havia recebido dinheiro de uma empresa que tinha processos no tribunal. Se esse rigor vigorasse no Brasil, surgiriam vagas em todos os tribunais, de todas as instâncias.