Publicado em 28 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O ministro Fernando Haddad, excelente reportagem de Manuel Ventura, O Globo desta terça-feira, está elaborando um projeto para fixar a meta de inflação não mais em 12 meses, mas num período de 18 a 24 meses, o que, a meu ver, não muda nada. Não implica em qualquer alteração na realidade dos preços, e representa apenas uma alteração no tempo de cálculo que nada influirá no processo de concentração de renda e nem na preservação do valor dos salários.
Trata-se de iniciativa inspirada na essência do Plano Real do governo FHC que alterou o padrão da moeda e, com isso, conteve a projeção inflacionária, diluindo-a numa escala de 1000%. A ideia agora do ministro Fernando Haddad, que segundo Manuel Ventura, com o apoio da ministra Simone Tebet, tem como objetivo apenas tornar mais distante o cálculo da inflação aparente sobre a realidade econômico-social.
MERCADO DE EMPREGOS – Os preços não baixarão por causa da proposição e o poder aquisitivo dos assalariados em nada vai evoluir. Da mesma forma, o mercado de empregos, de importância decisiva para a recuperação econômica brasileira, não vai aumentar em função da ideia que na teoria pode fornecer uma visão ilusória no deserto das soluções concretas. Mas nada vai significar em matéria de conteúdo.
Em termos de inflação, é fundamental que tanto o IBGE quanto a Fundação Getúlio Vargas afastem-se do esquema de basear o cálculo em preços mínimos que variam quanto aos produtos nos vários supermercados do Rio e de São Paulo. A questão é a seguinte, num supermercado o feijão está mais barato, mas o arroz está mais caro. Em outro, o tomate está com preço menor, mas o preço da batata é maior.
Os pesquisadores do IBGE podem percorrer diariamente diversos supermercados e consignarem os preços mínimos para os seus cálculos. Mas os consumidores não têm tempo de fazer a mesma maratona para selecionarem onde realizarão as suas compras através de escalas praticadas. A questão dos preços mínimos é um artifício, uma forma de não revelar a verdadeira taxa inflacionária dos alimentos.
ALTERAÇÃO – O que Fernando Haddad defende é que seja alterado o período de janeiro a dezembro, e passe a ser considerado um espaço de tempo de 18 a 24 meses. Com isso, eis aí uma armadilha favorável a Roberto Campos Neto, pois o Banco Central não necessitaria trocar os índices da Selic com tanta frequência. É tudo que Campos Neto, que lidera a oposição ao presidente Lula, deseja. Haddad parece ter sido envolvido por opiniões monetaristas. A sua iniciativa está errada.
Vale frisar, mais uma vez, que com a previsão do índice inflacionário este ano em 5%, e a Selic permanecendo congelada, os juros reais brasileiros crescem ainda mais um ponto, passando a quase 9% ao ano. Se o trabalho de milhões de brasileiros e brasileiras continuar perdendo para a inflação real, os problemas do país não serão resolvidos.
JULGAMENTO – O julgamento para tornar Jair Bolsonaro inelegível deve terminar nesta semana. Renata Galf e Géssica Brandino, Folha de S. Paulo de ontem, destacam a estratégia que Bolsonaro pretende colocar em prática em sua defesa.
Diz ele, na sua fala aos embaixadores estrangeiros, que apenas propôs uma troca de ideias. Não faz o menor sentido. O PL terá que procurar outro candidato para 2026 e candidatos para 2024 para as prefeituras do Rio e de São Paulo.
ENFRAQUECIMENTO – A decisão anunciada pelo presidente Vladimir Putin sobre a situação dos combatentes mercenários que contratou representa a comprovação de seu grande enfraquecimento político.
Manteve os mercenários livres de qualquer punição. Não é este o estilo da Rússia. Dissidentes isolados são presos nas ruas, mercenários rebelados não sofrem nada.