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sexta-feira, abril 26, 2019

É hora de juntar a turma que não aceita radicalismos nem fanatismos na política

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Charge do Cau Gomez (Arquivo Google)
Altamir Tojal
Um aspecto que merece registro no episódio do recuo de Toffoli e Moraes no caso da censura ao site O Antagonista e à revista Crusoé foi uma mobilização da cidadania nas redes sociais que não se via desde o acirramento da polarização entre bolsonarismo e lulismo, uma operação que foi capaz de sufocar até então o insurgimento no debate político de manifestações autônomas a ela.
A polarização aqui, a exemplo do que ocorre ou ameaça ocorrer globalmente em menor ou maior grau, também vem tendo o efeito de interditar ou pelo menos bloquear a participação no debate e no combate de outras correntes que podem constituir alternativas.
CORAÇÕES INQUIETOS – Pessoas que identificam nos campos bolsonarista e lulista o idêntico desprezo pela democracia e a mesma incapacidade de superar a tragédia social e econômica do país tiveram suas vozes abafadas pela cacofonia e a gritaria da polarização. Outras se afastaram, perplexas e paralisadas desde a campanha eleitoral do ano passado. Muitas deram seus votos a uma das duas correntes por horror e medo da outra, mas desde então sentem o desconforto aumentar.
É possível que alguns ou mesmo muitos dos corações inquietos e atormentados com a polarização sectária já estejam procurando se juntar na busca de uma saída do estado de perplexidade e da lamentação improdutiva. A reação cidadã neste episódio da censura pode ter sido, portanto, um estímulo para estas pessoas juntarem a turma.
GRANDE ONDA LIVRE – Logo na eclosão dos protestos contra a censura ocorreram tentativas de relativizar e até mesmo de apoiar a manobra lastreada no inquérito aberto supostamente para proteger o STF e seus ministros. Mas o relativismo e os apoios mais ou menos explícitos foram suplantados pela grande onda livre e espontânea de repulsa nas redes sociais e de parte de instituições, principalmente na imprensa e no ministério público.
Foi uma demonstração de que – apesar da polarização – existem temas com potencial de unir e mobilizar pessoas e produzir resultado político. A bola da vez foi a liberdade de expressão, cada vez mais assumida não só como direito mas também como poder individual.
CONTINUÍSMO DA CRISE – O campo de batalha neste episódio foi o da informação e opinião materializadas em pressão da opinião pública nas redes. Não chegaram a ocorrer grandes manifestações nas ruas, mas poderiam acontecer se não houvesse o recuo.
Seguramente existirão outras situações, manobras e episódios com potência para produzir união e mobilização em grande escala e consequente efeito político. O ‘jogo da polarização’ estava até agora conseguindo adiar a reação das pessoas, apesar do ‘continuísmo’ do desemprego, do colapso dos serviços públicos, da corrupção, dos privilégios e da escalada do terrorismo da aliança crime-estado contra os pobres.
Para ficar somente aqui na nossa aldeia, estão vivas as lembranças das jornadas de 2013, da campanha contra a corrupção, dos impeachments e da greve dos caminhoneiros. Há quem diga que estes acontecimentos, cada um deles mais ou menos enigmáticos, não mudam nada ou mudam para continuar igual. São geralmente os que mais os temem que mais os subestimam.
IMPULSO VIRTUOSO – É bem possível que, na origem de cada um desses acontecimentos, corações inquietos e atormentados tiveram o impulso virtuoso de ‘juntar a turma’.
Na verdade, mesmo esse mal afamado “Inquérito da Mordaça”, enquanto não for arquivado incondicionalmente, ainda está longe de esgotar suas possibilidades de deflagrar reação e mobilização na sociedade, não só pela vexatória intenção de blindar ministros como pela possível conexão com a ideia de quebrar resistências à missão na qual parte da corte – possivelmente a maioria – está empenhada de decidir contra a prisão em segunda instância e assim implodir a Lava Jato.
DIFERENÇA E DIÁLOGO – O momento que estamos vivendo é, portanto, de ameaça de retrocesso no combate à impunidade e agravamento da tragédia social numa atmosfera política dominada pela polarização entre o grupo derrotado que a provocou e um governo voluntarista e incapaz de vencer a crise.
Numa situação como esta – em que dois campos políticos supostamente antagônicos só admitem outras correntes que se submetam a seus comandos – será alentador ver materializada a vontade de juntar turmas dispostas a encontrar caminhos alternativos. Melhor ainda se as pessoas não se submeterem a dogmas e líderes e seguirem pensando diferente e mesmo se opondo, mas sendo capazes de dialogar e de agir.

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