Jussara SoaresO Globo
O episódio envolvendo a campanha publicitária do Banco do Brasil aumentou a pressão sobre o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo (Segov), alvo de críticas da ala ideológica do Palácio do Planalto. Na última sexta-feira, o ministro irritou o grupo ao dizer que a Secretaria de Comunicação (Secom), subordinada a ele, errou ao enviar e-mail determinando que as propagandas mercadológicas das estatais sejam aprovadas pelo governo, contrariando legislação vigente.
A nova disputa que se desenha no Planalto ocorre após Bolsonaro ordenar que um comercial do BB fosse retirado do ar. A propaganda, que explora o tema da diversidade, era estrelada por atores e atrizes brancos e negros, jovens tatuados usando anéis e cabelos compridos.
RESPEITO À FAMÍLIA – O presidente Bolsonaro afirmou, mesmo após Santos Cruz dizer que intervenções eram indevidas, que não quer “dinheiro público usado dessa maneira” e argumentou que “a massa quer respeito à família.”
Para auxiliares do presidente que disputam o poder de influência no governo com os militares, Santos Cruz se intromete em muitas áreas do Executivo e não se alinha às pautas mais conservadoras, bandeiras de campanha de Bolsonaro.
Embora a disputa entre essas duas alas seja equilibrada, também passou a pesar contra o ministro o fato de ser o mais alinhado ao vice-presidente Hamilton Mourão. Durante a crise envolvendo o vereador do Rio Carlos Bolsonaro e Mourão, na última semana, ele teria saído em defesa do vice e buscado conciliação.
PRESSÃO DO FILHO – O grupo, do qual o filho do presidente faz parte, já pede abertamente para que Bolsonaro diminua o poder de Santos Cruz, que já vinha sendo considerado tão influente quanto o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Uma manobra proposta pela ala ligada ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho defende a redistribuição de atribuições que atualmente estão na Secretaria de Governo, como o Programa de Parceria de Investimento (PPI) e a Secom, área de interesse particular de Carlos Bolsonaro.
Foi cogitado inclusive que a Comunicação, incluindo o relacionamento com a imprensa e o departamento responsável pelas propagandas institucionais, ficasse ligada diretamente à Presidência. Entretanto, assessores de Bolsonaro o alertaram que não era sensato ter uma execução orçamentária tão próxima dele.
Nova disputa – Não é a primeira vez que o destino da Secom é alvo de disputa no governo. Ainda na transição, a área foi transferida para Segov pela rixa entre Carlos e Gustavo Bebianno, indicado ministro da Secretaria-Geral da Presidência e então responsável pela Comunicação.
Atualmente, a Secom é comandada por Fábio Wajngarten, que substituiu Floriano Barbosa, há duas semanas. Os dois têm em comum o fato de serem próximos a Carlos. A nomeação de Wajngarten foi comemorada pelo grupo da ala ideológica como uma derrota de Santos Cruz, que gostaria de indicar um militar de confiança para a função.
A desconfiança em relação a Santos Cruz começou a ganhar força ainda no início do governo. Ele teria atuado pessoalmente para impedir que Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio e primo dos filhos do presidente, fosse nomeado no Planalto. Ele atuaria no governo como um homem de confiança de Carlos. Léo, por fim, foi contratado na semana passada para o gabinete do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Senado. O salário é de cerca de R$ 17,5 mil.
FANATISMO – Em entrevista ao Globo , Santos Cruz disse, na sexta-feira à noite, que a decisão da Secom de interferir na publicidade de estatais “não tem validade”, porque fere normas do próprio governo. O ministro revelou ainda ter cobrado informações do funcionário da Secom responsável pelo comunicado às estatais. O e-mail foi assinado pelo publicitário Glen Valente, que assumiu nesta semana o cargo de secretário de Publicidade e Promoção da Secom, e é uma indicação de Wajngarten.
No último sábado, ao ser questionado como vai controlar esse tipo de conteúdo das propagandas, Bolsonaro disse que seus ministros devem seguir “a regra do jogo”. Mais tarde, no entanto, ele negou que estivesse falando de Santos Cruz, a quem chamou de irmão. “Não tem nada a ver. Tem um novo chefe da Secom (Fábio Wajngarten), tem uma semana, estamos ajustando ainda” — justificou.
Na entrevista ao Globo, semana passada, Santos Cruz afirmou desconhecer que era alvo de críticas de integrantes da ala ideológica, mas disse que o fanatismo pode atrapalhar o governo ao tentar influir de maneira radical. “Acho que o fanatismo atrapalha. Seja de direita ou de esquerda, acaba atrapalhando” — disse Santos Cruz.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Os “olavetes” não têm jeito, mesmo. Enquanto não destruírem o governo, eles não sossegam. Chamá-los de “ala ideológica” significa esculhambar as ideologias. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Os “olavetes” não têm jeito, mesmo. Enquanto não destruírem o governo, eles não sossegam. Chamá-los de “ala ideológica” significa esculhambar as ideologias. (C.N.)