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domingo, maio 02, 2010

Tradição junina perde espaço e indústria de entretenimento avança no interior

Fernando Amorim | A TARDE
Lourdes  Moreira da Trindade diminuiu a fabricação artesanal de licor de 500 para  50 garrafas
Donadilson Gomes
Depois da substituição dos coretos por grandes palcos, o São João na Bahia vive nova fase de mudanças. A indústria do entretenimento descobriu a festa que atrai para o interior 960 mil pessoas de Salvador, de outros estados e até de outros países. A tradição da fogueira, do licor e do forró com sanfona e zabumba está perdendo cada vez mais espaço para as festas de camisa, camarotes e megaespetáculos, com a presença de artistas da axé music. Nas cidades de Amargosa, Cruz das Almas e Senhor do Bonfim, a festa atrai patrocínios de cervejarias, operadoras de telefonia, montadoras de automóveis e redes varejistas. Os empresários não divulgam o volume de negócios gerados pela festa, mas a realidade fala por si.

Uma boa analogia do processo é a história do São João em Senhor do Bonfim, um dos maiores da Bahia, ao lado da festa em Cruz das Almas e Amargosa. “A festa começou na década de 30, quando a população se reuniu para construir um coreto na praça”, conta o fotógrafo Monaceis Santos, que reúne em um acervo de imagens a história da cidade a 384 km de Salvador. “O sanfoneiro tocava o baião para seis casais, que dançavam em torno do coreto”, lembra.

Depois saíam pela cidade com milho, farofa e bebidas, puxando, de casa em casa, quem não tinha ido ainda para a festa. Na década de 70, a prefeitura tira a festa do coreto e coloca em um palco, patrocinado por ela, lembra Santos. “O que era apenas uma manifestação da cultura popular começa a se modificar por conta de interesses econômicos aí”, diz ele.

“Para nós, o São João é um evento que está dentro do contexto de entretenimento”, diz o sócio da Ner Entretenimento, Nei Hávila, que faz a produção da banda Asa de Águia, uma das primeiras bandas de axé a investir nas festas juninas. São 10 anos no forró do Piu-Piu, em Amargosa. “Enquanto negócio, não existe diferença em operar um empreendimento pop, o carnaval ou São João”, diz.

Hávila acredita que o que vale hoje em dia é a pluralidade. “A gente vê banda de forró tocando axé, banda de axé tocando forró”, segundo ele, sem nenhum problema. “Isso é muito bem aceito. As festas são bem vendidas, o povo vai e se diverte”, explica, lembrando que os grandes eventos atraem turistas.



Tradição - Não são poucos os interesses envolvidos no São João. É verdade que cada vez mais os grandes empresários ganham dinheiro com a festa, porém, junho continua a ser bom para quem precisa de renda extra e não tem medo de trabalho. É assim com a comunidade quilombola de Tijuaçu, a 20 km de Senhor do Bonfim. O consumo do milho de lá é uma tradição na cidade. “Esse ano a chuva veio tarde, não sei se vai ter muito”, avisa a agricultora Maria das Graças, 42 anos. O pai, o avô e o bisavô, todos vieram do plantio e comércio do milho.

Aos 81 anos, Lourdes Moreira da Trindade, continua “de teimosa” a produzir o licor que é reconhecido como um dos melhores da cidade. O esforço para esmagar o jenipapo no pano se justifica só para manter a tradição, porque ganhar dinheiro está difícil. “Subiu o preço do jenipapo, do açúcar, e tem mercado vendendo o litro por R$ 3”, reclama. O dela não sai por menos de R$ 8. “Se for para vender barato, prefiro fazer para amigos”.

A produção de dona Lourdes, aposentada de uma fábrica de fumo é artesanal e ela já desistiu de tentar competir com a industrial, que em alguns casos usa máquinas para tirar suco da fruta. “Não paro porque é tradição”, diz. Hoje, em vez de 500 garrafas produz 50.

Leia a reportagem completa no jornal A TARDE deste domingo

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