Um dos presos é advogado e integrante do Conselho de Administração do banco
SÃO PAULO - A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Santa Tereza e prendeu 10 empresários, advogados e servidores públicos supostamente envolvidos em um esquema de desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dois financiamentos sob suspeita foram autorizados e liberados no início do ano - um no valor de R$ 130 milhões, outro de R$ 220 milhões, dinheiro que teria sido repassado para a Prefeitura de Praia Grande (SP) e para o caixa de uma loja de uma rede varejista.
A maioria dos alvos da Santa Tereza teria ligações com a Força, mas a PF descartou motivação política na investigação. Jaber Saadi, superintendente regional da PF, afirmou taxativamente: "Não confundam questão política com a Polícia Federal, que nunca se prestaria a fazer um trabalho político. A PF nunca faria uma apuração para ser usada politicamente. Que isso fique bem claro."
Ricardo Tosto, advogado tributarista e empresarial, foi capturado às 6 horas no condomínio onde reside, no Morumbi. Há cerca de 5 meses ele assumiu cadeira no Conselho de Administração do BNDES, por indicação da Força Sindical. Tosto é advogado e amigo do deputado e presidente da Força, Paulinho da Força (PDT-SP).
A PF vasculhou 18 endereços de suspeitos onde foram recolhidos US$ 220 mil, carros de luxo, talões de cheques e documentos. As prisões, em caráter temporário por 5 dias, e as buscas foram ordenadas pela 2ª Vara Federal de São Paulo. Segundo a PF, 4% do montante financiado pelo BNDES eram desviados para divisão entre os integrantes da organização criminosa.
Pelo menos 200 projetos com dinheiro público, sob análise dos federais, estariam no ponto para serem aprovados. Eles se referem a contratos de obras de prefeituras dos Estados de São Paulo, Rio, Paraíba e Rio Grande do Norte. "Os investigados usam de influências políticas em Brasília para conseguirem a liberação dos empréstimos", disse o delegado Rodrigo Levin, que coordenou a Santa Tereza.
A PF informou que a apuração sobre desfalques no BNDES teve início casualmente, quando estava em curso inquérito sobre tráfico de entorpecentes, prostituição e tráfico internacional de mulheres. O centro da investigação é uma casa noturna dos Jardins. "Ali se fazia a prostituição e cuidavam do envio de meninas de programa para o exterior", destacou Ricardo Saadi.
"Descobrimos que essa casa, com faturamento elevado, era utilizada para lavagem de dinheiro do BNDES. O prostíbulo somente se mantém em funcionamento porque seus proprietários oferecem vantagens ilícitas a autoridades e servidores públicos responsáveis pela fiscalização."
O primeiro alvo da PF foi um empresário de Praia Grande. Segundo a PF, antes de constituir uma construtora para fechar contratos com prefeituras, ele foi traficante de drogas. Ele é um dos 3 sócios da casa noturna.
Os federais informaram que empresas interessadas em financiamentos do BNDES se aproximaram de um grupo com prestígio dentro do banco. "Esse grupo indicava uma agência de consultoria para fazer o projeto que deveria ser apresentado ao banco para que obtivessem a liberação de verbas", anotou Levin.
Nega
O advogado Ricardo Tosto negou todas as acusações por meio de nota do seu escritório de advocacia, o Leite, Tosto e Barros. "As operações em que uma empresa e uma prefeitura teriam supostamente sido beneficiadas por empréstimos do BNDES aconteceram antes de o advogado Ricardo Tosto integrar o Conselho do banco, não tendo, nem remotamente, a sua participação", diz nota divulgada pelo escritório do advogado. O escritório também diz no texto que "a associação absurda com 'prostituição e tráfico internacional de mulheres' é uma aberração".
Fonte: Tribuna da Imprensa
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