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sábado, abril 19, 2008

Menina chegou ferida ao apartamento

SÃO PAULO - Havia uma trilha de sangue ao apartamento que o assassino tentou disfarçar. Ela começava no carro de Alexandre Nardoni, de 29 anos, e continuava a partir da entrada do apartamento. Por tudo isso, a perícia chegou à conclusão de que a menina Isabella de Oliveira Nardoni, que faria 6 anos ontem, chegou ferida ao apartamento do 6º andar do Edifício London, na Rua Santa Leocádia, na Vila Isolina Mazzei, Zona Norte. Essas são algumas das revelações do laudo da perícia do Instituto de Criminalística (IC), que colocam Alexandre na cena do crime.
Mas isso não é tudo. Os peritos também constataram que a marca de esganadura no pescoço da menina é compatível com as mãos da madrasta Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, de 24. A trilha de sangue foi produzida por pingos que caíram de uma altura de 1,2 ou 1,3 metro de altura, o que é compatível com a altura do pai da menina. A trilha começa no carro de Alexandre, o Ford Ka estacionado na garagem do prédio, e só foi revelada por causa do uso do luminol (substância química que manchas invisíveis a olho nu).
Havia sangue de Isabella na lateral direita da cadeira do bebê e entre os bancos, perto do freio de mão do veículo. Além disso, havia sangue no encosto do banco do motorista. As primeiras análises haviam dado negativo, mas os exames de DNA confirmaram a presença do sangue no veículo. Sabe-se ainda que a fralda encontrada de molho no apartamento foi utilizada para envolver a cabeça da menina do carro até o apartamento.
Além da porta do apartamento, a trilha continuava, passando ao lado da mesa com seis lugares e do sofá de couro preto. Em seguida, os pingos mostraram que o assassino de Isabella levou a menina no colo pela sala onde estava a televisão de plasma de 50 polegadas até o corredor em direção dos quartos.
Uma gota foi identificada, por exemplo, em frente à porta do banheiro. O criminoso entrou na primeira porta à esquerda - o quarto de Cauã e Pietro, que fica antes do de Isabella. Ele pôs Isabella em cima da cama enquanto cortava a rede da tela de proteção, daí a mancha de sangue no lençol encontrada no quarto. Os exames de DNA comprovaram que o sangue de fato era de Isabella.Foi então que o assassino escorregou e pisou no lençol da cama. É ali que foi encontrada a pegada característica do chinelo que Alexandre vestia na noite do crime. A tela foi cortada rapidamente com uma faca e com uma tesoura. Na camisa do pai havia micropartículas de naílon da tela de proteção, indicando que ele teve contato com a tela. Isabella foi segura pelas mãos e solta primeiro pela mão esquerda e depois pela direita. Havia uma mancha de sangue em forma de dedos de criança a cerca de 5 centímetros do parapeito da janela do apartamento.
O fato de Isabella ter chegado ferida ao prédio desmente o álibi do pai de Isabella. De fato, Alexandre afirmou, ao ser interrogado, que a menina estava bem quando chegou ao prédio. Isabella dormia. Alexandre afirmou que a levou no colo até o quarto da menina, mas a perícia encontrou o lençol esticado na cama dela.
Alexandre contou à polícia que levou Isabella sozinho até o apartamento enquanto sua mulher e seus dois outros filhos aguardavam na garagem. Segundo ele, quando voltou ao apartamento encontrou a tela da janela rompida e a criança havia sido jogada pela janela. Não havia sinais de arrombamento no apartamento.
A trilha de sangue no apartamento foi desfeita às pressas pelo criminoso. Para tanto, ele usou um pano de chão. O que o bandido não contava era que a trilha de pingos de sangue e a presença de manchas no pano fossem detectadas pelo uso do luminol. Foi por meio dele ainda que os peritos do IC encontraram sangue na sola do sapato da madrasta de Isabella.
Os peritos também analisaram as fitas de vídeo do sistema de segurança do Edifício London e do prédio em frente ao local do crime. Em nenhum momento foi observada a presença de qualquer pessoa estranha ou veículo entrando no prédio no dia do crime.
Além disso, os peritos usaram um homem de 1,9 m de altura para exemplificar que seria impossível que alguém escalasse o muro dos fundos do prédio para entrar no imóvel. Assim, os peritos concluíram que não havia nenhuma possibilidade de que uma terceira pessoa tivesse invadido o prédio e matado a menina.
Portanto, os dois únicos adultos que estavam no apartamento naquela noite era o pai e madrasta da menina. Essa certeza se deve ainda a um dos princípios de toda perícia criminal: todo contato deixa uma marca. Nenhuma outra pessoa deixou marcas dentro do apartamento além dos dois acusados. Todas as marcas e vestígios no lugar foram feitos pelo casal e pelas três crianças.
Já o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) demonstrou que Isabella morreu depois de cair do 6º andar. A menina sofreu uma embolia que provocou a parada respiratória. Antes, os legistas constataram que a menina havia sofrido uma tentativa de esganadura - quando alguém tenta matar uma pessoa apertando-lhe o pescoço. Os médicos constataram ainda a existência de fraturas e traumas em Isabella.
Eles verificaram ainda a existência de um corte na testa da menina e de escoriações e hematomas na perna e sinais de esganadura no pescoço, o que demonstra o processo de violência a que Isabella foi submetida naquela noite de 29 de março. Foram essas as principais provas usadas pela polícia para convencer o pai de Isabella e a madrasta a contar o que ocorreu na noite do crime.
Para os policiais, os resultados da perícia não deixavam dúvida de que eles foram os autores do crime. Aliados aos testemunhos que desmentiam os dois suspeitos, os laudos deram aos policiais do 9º Distrito Policial a convicção do que precisavam para acusar o casal.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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