Por: Rui Nogueira
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está mal no Sul-Sudeste e Norte-Centro Oeste. Geraldo Alckmin (PSDB) – para quem só agora saiu da toca paulista – equilibra bem a disputa nessas regiões, mas o abismo, revela com clareza a 81ª pesquisa nacional da Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), está na região Nordeste. Hoje, o perfil do eleitor que declara intenção de voto em Lula é este: 41% está no Nordeste, 90% ganha entre zero e cinco mínimos, e 42% têm instrução só até a 4ª série.
A combinação “Nordeste-eleitor pobre país afora” expõe com clareza o candidato a enfrentar: o líder operário “igual a nós” cada vez mais travestido de Antônio Conselheiro. Até para reforçar o papel de vítima das elites, Lula vai radicalizar o discurso de “pai dos pobres”. Ainda mais depois que ele ficou sem resposta para a quadrilha exposta em praça pública pelo Ministério Público!
Lula ganhou a eleição de 2002 angariando, finalmente, o voto inteiro da classe média. No governo, tornou-se o candidato do pobre que nunca havia votado nele. Hoje, não deixa dúvida a pesquisa Sensus, equilibra-se sobre duas pernas: a dos tais pobres-novos-eleitores-do-Lula (não necessaraiamente do PT) e uma porção considerável da classe média do Sul-Sudeste que, pelo menos por enquanto, acolhe o raciocínio de que os políticos são todos iguais e corrupção sempre existiu.Segurança do conhecidoSob qualquer ângulo que se olhe a pesquisa, a diferença entre Lula e Alckmin na região Nordeste é descomunal. E as porcentagens levam ao ponto óbvio da questão: o que é que um candidato saído do Sul maravilha pode dizer e prometer ao Nordeste para reverter esse quadro? A resposta, é preciso também lembrar, terá de contornar outra obviedade: em relação a Lula, o eleitor nordestino se agarra ao fator segurança/conhecimento do candidato presidente à reeleição – é a chamada “segurança do conhecido”.
Um alerta: para o Nordeste, onde se concentra a maioria do eleitor de baixa renda, não adianta apenas prometer a manutenção dos programas de transferência de renda do Bolsa Família. A região está forrada com esse dinheiro, mas há algo mais a puxar a simpatia do eleitor de baixa renda pelo governo Lula: os ganhos reais com o salário mínimo e a desvalorização do real, que aumentaram significativamente o poder de compra da população de renda mais baixa. É essa combinação que reforça a intenção de voto com base no quesito “segurança do conhecido”.
Para essa população, não adianta falar em “choque de gestão”. Pode acontecer de alguém inventar que o candidato tucano quer eletrocutar os nordestinos. Choque de gestão pega no Sul-Sudeste e, a bem da verdade, nem isso o candidato Alckmin precisa prometer ao eleitor dessas regiões. Disso ele já está convencido. Para o Nordeste, além de prometer a manutenção do Bolsa Família, ampliando-o com critério, isto é, para a população que é realmente pobre e ainda não é atendida, o candidato de oposição a Lula tem de dizer se tem ou não uma política de manutenção do ganho real do salário mínimo. Mas para isso, que fique claro, precisa também dizer como é que vai desvincular o reajuste do mínimo do reajuste do benefício mínimo da Previdência sem ferrar os aposentados.
Mais: o candidato de oposição a Lula precisa firmar um compromisso com um investimento de qualidade evidente para alavancar o desenvolvimento da região. Algum problema em apresentar um projeto decente de execução da transposição do rio São Francisco, enfrentando padres, bispos e ongueiros? Algum problema em mostrar que Lula queria “revolucionar” a vida dos nordestinos com farta distribuição de comida doada pelo Fome Zero e esmolários afins, e que o Nordeste só manteve e evoluiu nos programas de transferência de renda depois que o governo foi obrigado a voltar à Rede de Proteção Social, rebatizada de Bolsa Família?!
AliançasNenhum problema com nada disso, mas tudo será nada se os palanques eleitorais do tucano Alckmin derivarem para uma perdição política. Por exemplo: não é possível que alguém no PSDB possa achar que um palanque cearense com Ciro Gomes (PSB) seja considerado um palanque aliado de Alckmin. É melhor se armar com a fidelidade de um candidato como o governador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), ainda que ele eventualmente enfrente problemas para se reeleger.
O primeiro passo para tirar o atraso em relação a Lula está aí, na montagem de alianças com líderes políticos que convençam a população do Nordeste que ela não terá nada a perder com a derrota de Lula. Que os ganhos são proporcionados por políticas de Estado, que não dependem do governo de plantão.
Seria bom, também, que os aliados parassem de falar em José Serra para a Presidência. Devem trabalhar com o que têm e não como que não vão ter. Do contrário, estão plantando a semente da cristianização de uma candidatura que mal saiu do hangar. Mas respeitem Lula porque ele tem uma proximidade política e afinidade de pele com o eleitor pobre e de baixa renda como nenhum outro presidente teve.
[ruinogueira@primeiraleitura.com.br]Publicado em 11 de abril de 2006.
Fonte: Primeira Leituta
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