Publicado em 10 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Roberto Nascimento
Uma parcela significativa da sociedade brasileira, na elite e na classe média, sofre de amnésia política. Com impressionante facilidade, esses brasileiros esquecem os horrores das ditaduras que ocuparam o poder no Brasil através de golpes de estado.
Pelo contrário, essa parcela da sociedade continua a alimentar um sentimento golpista e militarista, há um claro saudosismo da ditadura de Vargas e do regime autoritário de 1964.
NEM PERCEBEM… – A história do autoritarismo golpista no Brasil está longe de terminar, porque muitos ainda não se dão conta dos efeitos negativos que as ditaduras impõem ao povo, incentivando uma polarização política que tem potencial de destruir a unidade nacional, porque os tiranos usam a estratégia de dividir o povo para se perpetuarem no poder.
Não resta sombra de dúvida de que a arquitetura do golpe estava preparada no entorno de Bolsonaro. O ex-ministro da Justiça, delegado Anderson Torres, tinha uma minuta de golpe em sua casa, e o fiel escudeiro de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens, tinha no celular um rascunho de planos para uma intervenção GLO (Garantia da Lei e da Ordem), nos termos do artigo 142, tão citado por Bolsonaro.
Como pretendem que se acredite na inocência do ex-presidente? Quer dizer que o golpe era estruturado sem que o então chefe do governo tivesse conhecimento das articulações? Ele não sabia de nada? Isso não é crível nem possível.
ATENTADO FALHOU – Até uma bomba foi colocada num caminhão de combustível, para explodir na área externa do Aeroporto de Brasília, causar uma confusão capaz de provocar a intervenção militar para garantia da lei e da ordem, que representaria o golpe.
Felizmente para nós, simples mortais, os articuladores dessa nova ditadura falharam nas ações autoritárias, porque são uns completos incompetentes.
Estavam desesperados para permanecer no Poder, mas se atrapalharam na cronologia golpista, iniciada no quebra-quebra em 12 de dezembro, quando Lula foi diplomado presidente, até a invasão das sedes dos três Poderes em 8 de janeiro.
PERDÃO A MAURO CID – O tenente-coronel Mauro Cid está preso em uma unidade militar em Brasília. Segundo nota do jornal O Globo, o oficial tem recebido suporte psicológico e religioso.
Vozes da caserna vêm manifestando contrariedade com a prisão decretada e advogam perdão para o militar, uma espécie de anistia.
Nesse sentido, em entrevista concedida ao jornal O Globo, o psicanalista, filósofo e escritor René Dentz assinalou que “o perdão é uma possibilidade, não uma obrigação”, aludindo ao fato de que vivemos em uma sociedade totalitária, que não dá uma segunda chance.
E SE HOUVESSE O GOLPE? – Mas será que o bolsonarismo daria uma chance aos demais brasileiros que não se alinhassem com suas pautas retrógradas, caso o golpe saísse vitorioso?
Claro que não. Os esquerdistas e a própria oposição democrática amargariam a prisão, sem qualquer possibilidade de anistia.
Acredito que não haveria perdão, porque perdoar, como bem disse o psicanalista, faz parte de um processo civilizatório, e o totalitarismo não se enquadra na cultura democrática. Pelo contrário, faz parte do atraso, uma espécie de retorno ao período das trevas. Era justamente isso que os golpistas pretendiam.