Pedro do Coutto
Na política e em sua irmã gêmea, a economia, que é, sem dúvida, uma base para a compreensão da política, os imprevistos surgem repentinamente e alteram planejamentos, programas e até horizontes traçados na teoria. O velho político Benedito Valadares tinha uma frase bastante verdadeira: “A teoria, na prática, é outra coisa”. É o que acontece.
Vejam os leitores e leitoras o que está ocorrendo com os projetos do governo Lula. Quando as proposições parecem se encaixar perfeitamente, surgem fatos que se revelam na prática e levam à interrogações e até confirmações de que omissões existiam.
MOVIMENTO – Agora, por exemplo, o deputado Aguinaldo Ribeiro, relator do projeto de reforma tributária, anunciou que a matéria deve ser votada ao longo do mês de julho. Entretanto, estados iniciam um movimento para obterem compensação de R$ 100 bilhões que se evaporaram nas obras fiscais do governo Bolsonaro para conter o preço da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha.
No O Globo, a reportagem bastante ampla sobre o assunto é de Manuel Ventura e Vitória Abel. Na Folha de S. Paulo, com destaque e profundidade iguais, escreveram Idiana Tomazelli e Daniele Brand. As dúvidas existentes na compensação de perdas fiscais pelos estados, tornam-se uma matéria bastante complexa, pois os cortes que atingiram o ICMS, tributo estadual, não possuem alíquotas iguais em todos os estados da federação. Os percentuais variam, como variam também os números absolutos sobre os quais recaem as percentagens tributárias.
Uma nova situação surgiu e vai exigir uma atenção redobrada dos parlamentares e também do governo no acompanhamento das propostas que surgiram em múltiplas direções, incluindo os tradicionais jabutis que representam e carregam consigo interesses econômicos setoriais que podem resultar em grandes lucros se não forem analisados com muita atenção.
COMPROMISSO – A atenção às vezes falha em função de interesses que se afirmam na área administrativa. É sempre assim e sempre será desta forma. O que falta no país é o compromisso com o desenvolvimento econômico e social. O entusiasmo, no governo JK, era para interesses econômicos, mas também havia um impulso intenso para o êxito do desenvolvimento econômico. Setores desejavam, como sempre vão desejar, lucros cada vez mais altos. Mas, no governo Juscelino Kubitschek havia também a emoção de ter a realidade brasileira sido alterada para outra melhor.
De uns anos para cá, ao contrário, passou a predominar o interesse de lucros e de transações sombrias, como é o caso da privatização da Eletrobras, em detrimento de qualquer outra motivação. Trata-se do lucro pelo próprio lucro, prática nociva. O lucro para a maioria dos segmentos atuais é um objetivo em si, não importando o custo dos interesses da população e do país. A reforma tributária vai dar muito trabalho. Os interesses vão se fazer sentir e representar no Legislativo e inclusive no Palácio do Planalto.
SAQUES – Renan Monteiro, O Globo desta quarta-feira, revela com base nos dados do Banco Central, que os saques da caderneta de poupança no mês de maio superaram em R$ 11 bilhões os depósitos. No período de janeiro a maio, os saques somaram R$ 69,2 bilhões, parcela do total das aplicações que oscila em cerca de R$ 1 trilhão. Os saques são efeitos dos juros altos do mercado, a começar pelos da Selic que impulsionam os demais e que tornam impraticável o pagamento em dia de compras comerciais e de pagamentos de prestações que se acumulam.
Uma caderneta de poupança vem rendendo ao ano cerca de 6%. Os bancos cobram 2,5% ao mês de juros. Agora mesmo a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, para financiarem a operação “Desenrola”, atendendo 30 milhões de inadimplentes que devem até R$ 5 mil, estabeleceram a taxa mensal de 1,99%.
Conforme escrevi ontem, o índice representa cerca de 30% ao ano, considerando-se os montantes de juros sobre juro. Na manhã de ontem, o IBGE informou e a GloboNews acentuou que a inflação do mês de maio foi de apenas 9,23%. Falando sério, o índice está baixo demais. Choca-se com a realidade efetiva vista todos os dias pela população. O IBGE continua seus cálculos através dos preços mínimos. Eles existem, mas quem tem tempo de ir a três supermercados para comparações?
CRIPTOMOEDAS – No mercado norte-americano, as criptomoedas levaram o governo a acionar na justiça o Fundo Binance, o maior do país no setor, por práticas estranhas aos interesses dos aplicadores. E, na terça-feira, estenderam as investigações ao Fundo Coinbase, onde teriam ocorrido manipulações no montante de US$ 2 bilhões contrárias aos interesses de aplicadores.
Confesso que não entendi até hoje como funciona esse mercado. Trata-se de um setor extremamente profissional cujas regras e os lances que mudam os valores das criptomoedas não são divulgados amplamente. Uma explicação deve ser feita por quem conhece o assunto, sobretudo para evitar que pessoas desinformadas possam fazer investimentos que não sejam bem sucedidos. O Banco Central deve tomar essa providência.
VITÓRIA – A brasileira Bia Haddad venceu brilhantemente ontem o confronto com a tunisiana Ons Jabeur por dois sets a um. Passou para as quartas de final. O jogo começou às 6h da manhã, transmitido pela SportTV. A partida demorou duas horas e meia. Bia Haddad, à medida que a partida se desenrolava, melhorava a sua atuação arrasadora.
Na semifinal masculina, está programado um confronto excepcional; Djokovic contra Alcaraz. Será uma partida espetacular. Acompanho o tênis há muitos anos. Vi excelentes partidas ao longo do tempo. Todos tenistas extraordinários, unindo o estádio atlético à arte do jogo.