Publicado em 20 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Natália Santos e Weslley Galzo
Estadão
Primeiro interrogado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques negou que policiais da instituição tenha sido usados para boicotar ou dificultar o deslocamento de eleitores no dia da votação no ano passado. Em sessão que começou tensa, o policial aposentado tentou blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro das acusações de uso da estrutura da PRF no pleito de 2022.
Ao ser questionado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA) sobre a sua proximidade com Bolsonaro, o ex-diretor da PRF disse que nunca teve “relação íntima” com o ex-presidente e que sequer votou nele em eleições passadas porque “não morava no Rio de Janeiro”. Silvinei é investigado pela Justiça do Rio de Janeiro por improbidade ao pedir voto em Bolsonaro nas eleições do ano passada.
DISSE O POLICIAL – “Eu nunca utilizei do cargo para benefício eleitoral do presidente, se fosse assim nós teríamos que autorizar metade dos servidores públicos daquela época”, afirmou Silvinei em sua defesa. “As fotos que tenho com o presidente Bolsonaro foi porque ele deixou eu tirar, e as fotos foram postadas na minha hora de folga”, prosseguiu. “Não seria eu que mudaria o resultado da eleição”, concluiu.
Silvinei que se disse alvo da “maior injustiça da história” deixou a parlamentar irritada ao não dar informações precisas as suas perguntas. O deputado bolsonarista deputado Éder Mauro (PL-PA), que não é membro da CPMI, interrompeu a senadora aos gritos dizendo que o depoente não poderia ser pressionado. Houve bate-boca e a sessão teve que ser interrompida no momento em que Eliziane mandou o Éder Mauro calar a boca.
Os debates acalorados se estenderam por todo o dia. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) disse que a oposição acusa os governistas de defender ditadores, mas que seriam eles os autoritários. “Maduro são vocês!”, disse em referência ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Em resposta, o senador Esperidião Amin (PP-SC) rebateu: “Vocês quem?”.
Silvinei é alvo de inquérito aberto pela Polícia Federal por conta da atuação da PRF durante os dias de votação na eleição do ano passado. A investigação apura se a ação policial teria como objetivo atrapalhar a chegada de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula Silva, sobretudo no Nordeste, reduto político do petista.
CRIME IMPOSSÍVEL – No início do depoimento, Silvinei classificou com “crime impossível” o uso das operações para obstruir o processo eleitoral. “Como nós teríamos 13 mil policiais no Brasil explicando a forma criminosa de operar sem ter uma conversa no Telegram, sem ter uma reunião?”, questionou.
O policial negou interferência no deslocamento de eleitores e atribuiu as operações no Nordeste à estrutura que a corporação dispõe na região. “Isso não é verdade. Porque é no Nordeste brasileiro é que temos nove estados, nove superintendências. Temos a maior estrutura da PRF no Brasil, a maior quantidade de unidades da PRF”, disse.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse ter solicitado informações à PRF e acusou Silvinei de apresentar informações erradas à comissão. “O seu efetivo nos quatro Estados do Sudeste é maior do que o dos nove Estados do Nordeste. Mais uma vez você dá um dado errado à CPMI”, afirmou.
PAGAMENTO DE DIÁRIAS – Silvinei, contudo, não respondeu à deputada. Ele também não explicou à relatora os motivos de a PRF ter destinado a maior parte dos R$ 3,6 milhões disponíveis para pagamento de diárias no segundo turno à região Nordeste. Ele ainda atribuiu aos chefes locais da corporação a responsabilidade pelas ordens para a realização das operações.
A relatora chegou a sugerir que Silvinei fosse preso, mas o pedido não encontrou guarida com o presidente da CPMI. “Se ele (Arthur Maia) tivesse disposição para isso, eu estava com elementos suficientes (para pedir a prisão). Ele falou que não quis, talvez para contemporizar por ser o primeiro depoimento”, disse Eliziane. “A gente não pode normalizar a prática de mentira. Ele desde o primeiro momento que chegou aqui ficou mentindo”, completou.
No dia do segundo turno das eleições de 2022, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chegou a se reunir às pressas com Silvinei para ordenar a suspensão das blitzes. Na véspera da votação, Moraes expediu decisão para proibir que a PRF abordasse veículos utilizados no transporte público de eleitores. Chegado o dia 30, porém, as redes sociais foram tomadas por vídeos de ônibus no Nordeste paralisados por policiais rodoviários.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Sinceramente, dá um desânimo constatar como autoridades gastam recursos públicos e perdem tempo discutindo bobagens. Os números falam mais alto. Foram parados mais ônibus e caminhões com eleitores no Nordeste, porque é o transporte mais comum por lá. No entanto, o maior volume percentual de apreensão de ônibus com eleitores, eu prejudica a votação, foi na Região Sul, com destaque para Santa Catarina, um dos Estados onde Bolsonaro ganhou a eleição. Mas quem se interessa? Continuam fazendo uma denúncia absolutamente vazia, e o idiota do ex-diretor da Policia Rodoviária não apresenta os números, não sabe se defender, permite ser esculhambado publicamente. (C.N.)