Pedro do Coutto
O presidente Lula da Silva ampliou a sua carga de ataques a Roberto Campos Neto com o objetivo claro de derrubá-lo da Presidência do Banco Central. Numa entrevista à TV 247, na tarde de terça-feira, o presidente da República afirmou que “Roberto Campos Neto não tem compromisso com a lei de autonomia da instituição” e também não se importa com o nível de emprego e com o crescimento econômico no país. A matéria foi comentada na edição de ontem em O Globo por Renan Monteiro e Manuel Ventura.
A ofensiva do próprio governo seguiu, é claro, o rumo traçado pelo presidente. Em entrevista ao Estúdio I, GloboNews, na tarde de terça-feira, o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, também criticou Campos Neto, inclusive assinalando que o presidente do Banco Central foi votar nas eleições de 30 de outubro com a roupa amarela da campanha de Jair Bolsonaro. “Esse comportamento não tinha cabimento para um homem que preside o banco Central e que possui mandato”, frisou.
ATAQUES – O mandato, entretanto, digo, não é a parte fundamental da questão, pois ninguém pode presidir o BC quando recebe ataques cerrados do presidente da República. O exercício da função fica impossível, uma vez que o relacionamento é marcado ao menos pela desconfiança e pelas restrições políticas que o presidente colocou em destaque.
O chefe da Casa Civil reforçou a investida e também na edição de ontem de O Globo, a reportagem de Renan Monteiro e Manuel Ventura inclui uma crítica do ministro Fernando Haddad aos juros do BC. “A taxa está exageradamente elevada”, disse, acrescentando que existe espaço para cortes.
Na entrevista à GloboNews, Rui Costa acentuou que quando a inflação bateu 10%, em 2021, Campos Neto elevou a taxa Selic para 13,75%. Mas quando a taxa caiu para 5,7% em 2022, o índice da Selic não recuou, criando juros real de 8% (taxa menos a inflação). Enquanto isso, Lula enviou ontem ao Senado os nomes dos novos diretores do Banco Central que lhe foram encaminhados por Haddad. O presidente do BC não foi consultado sobre os nomes que irão compor a nova Diretoria.
RECURSO – Em outro pronunciamento, Lula anunciou que o governo está preparando um recurso ao Supremo contra dispositivos incluídos no estatuto da Eletrobras quando de sua recente privatização. A reportagem, O Globo, é de Malu Gaspar, Renan Monteiro e Vítor da Costa.
O recurso encontra-se sendo elaborado em conjunto pela Casa Civil e pela Advocacia-Geral da União. Há cerca de um mês, o presidente Lula classificou a forma de privatização da Eletrobras como uma “bandidagem”.
NOVA REGRA FISCAL – Idiana Tomazelli, Alexa Salomão, Renato Machado, Natália Garcia e Leonardo Viceli, Folha de S. Paulo desta quarta-feira, publicou reportagem sobre a decisão do presidente Lula em adiar para a sua volta da China a definição sobre a nova regra fiscal.
O presidente da República e parte de sua equipe de governo consideraram insuficientes os recursos destinados à Saúde e à Educação no país. Os dois setores são considerados naturalmente como fundamentais para a população brasileira. Para Lula, as aplicações financeiras em Educação e Saúde não são custeio, mas sim investimentos.