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sexta-feira, julho 22, 2022

Renúncia de Draghi não poderia vir em pior hora para Itália




Draghi renunciou após três partidos de sua ampla coalizão retirarem apoio ao governo

Por Bernd Riegert* (foto)

Mudanças de governo são relativamente comuns na Itália. Porém a saída do premiê Mario Draghi é extremamente prejudicial para o país, que enfrenta uma de suas maiores crises em décadas, opina Bernd Riegert.

No quesito longevidade no cargo, Mario Draghi não pode ser criticado: ele não se saiu pior do que outros primeiros-ministros italianos. Tendo se mantido 18 meses, Draghi está acima da média dos 67 governos que o país teve desde a Segunda Guerra Mundial.

A Itália está acostumada a crises e mudanças constantes do governo. De fora, parece haver uma particular falta de estabilidade, mas proporciona um espetáculo político divertido. Em casa os eleitores italianos tendem a acompanhar esse espetáculo com uma mistura de fascínio e repulsa.

A renúncia de Draghi, como a de tantos outros antes, teve algo de novela, com drama, inveja e ressentimento. Havia um pouco de tudo, mas não um motivo político verdadeiro. No centro, estava a neurose do líder do movimento populista de esquerda Cinco Estrelas, Giuseppe Conte, que torpedeou a grande coalizão de "unidade nacional".

A situação atual poderia abrir espaço para Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que identificou uma oportunidade de liderar um novo governo após as próximas eleições. Ela está à frente nas pesquisas de opinião, mas ainda há dúvidas de se poderia criar uma coalizão de direita com Silvio Berlusconi, do Força Itália, e Matteo Salvini, da Liga, e formar um governo mais estável do que os anteriores. Talvez os dois partidos social-democratas também consigam formar uma maioria de esquerda durante a campanha eleitoral.

Draghi, que não tem filiação partidária, foi colocado à frente de um governo de unidade nacional como tecnocrata, após o colapso dos governos populistas de esquerda liderados pelo Movimento Cinco Estrelas (M5S).

E ele acertou em diversos pontos: providenciou que a Itália superasse a crise da pandemia de covid-19, e obteve doações e empréstimos sem precedentes da União Europeia para a reconstrução do seu país altamente endividado. Também cuidou para que Roma tivesse mais poder na UE do que durante seus antecessores eurocéticos. Como ex-presidente do Banco Central Europeu, tem conhecimentos de economia, mas não pôde evitar o aumento dramático da inflação.

Uma Itália forte seria melhor para todos

Um Draghi visivelmente exausto decidiu que era hora de sair – mas essa decisão é uma má notícia para a Itália e também para a União Europeia. Uma Itália forte e pragmática é necessária para enfrentar a iminente recessão e a crise energética, e para ser um parceiro confiável na crise com a Rússia devido à guerra na Ucrânia. Em vez disso, o país está mais uma vez envolvido em disputas políticas internas menores, e seu sistema partidário complexo e fragmentado está enfraquecendo a UE.

Se as reformas iniciadas por Draghi. após décadas de impasse, forem novamente paralisadas, isso pode significar um desastre para a economia e a sociedade italiana. Os mercados já reagiram com a queda das ações. Haverá ainda mais pressão sobre os bancos italianos já em dificuldades, e o aumento das taxas de juros não é uma boa notícia para os títulos do governo.

O próximo governo, especialmente se for liderado por populistas de direita simpatizantes com a Rússia, terá grande dificuldade em conduzir o país extremamente endividado através dos tempos tempestuosos que se anunciam. Mas, se a Itália entrar em moratória e o euro for pressionado, a União Europeia balançará. A Itália é grande e importante demais.

Draghi foi saudado no início de seu mandato como a última chance de fazer a combalida Itália se recuperar e deslanchar. Será que essa oportunidade foi perdida?

A próxima eleição estava prevista para o início de 2023, quando, de qualquer forma, Draghi teria que renunciar. Agora, o drama começa seis meses antes, mas bem no meio de uma tempestade perfeita de inflação e de efeitos da guerra.

*Bernd Riegert é jornalista da DW

Deutsche Welle

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