Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quinta-feira, dezembro 02, 2021

Delegado que pediu extradição de Allan dos Santos foi afastada da Interpol pela direção da PF

Publicado em 2 de dezembro de 2021 por Tribuna da Internet

Aos colegas, delegada responsável por extradição de Allan dos Santos disse  estar 'incrédula' com ordem da PF para abandonar posto na Interpol

Delegada quer saber por que está sendo afastada da Interpol

Rayssa Motta e Fausto Macedo

A ordem para retornar ao trabalho na superintendência da Polícia Federal em Brasília pegou a delegada Dominique de Castro Oliveira de surpresa. Em mensagem enviada aos colegas nesta quarta-feira, 1º, ela disse que o sentimento é de incredulidade. “Há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada”, escreveu.

Há 16 meses, Dominique atuava na Interpol. Ela foi a responsável pela ordem de prisão do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que foi colocado na lista de difusão vermelha da organização – sistema de alerta para captura de foragidos internacionais.

CUMPRIU O DEVER – Na prática, a delegada apenas recebeu o mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal, reviu a documentação relacionada, produziu a minuta e encaminhou o pedido para publicação.

“Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu”, diz outro trecho da mensagem encaminhada a outros  delegados.

Dominique é reconhecida pelos colegas pela produtividade. Na Interpol, ajudou a capturar foragidos internacionais da máfia ‘Ndrangheta. O trabalho na organização de polícia internacional não tinha prazo determinado para acabar.

SEM JUSTIFICATIVA – Em nota, a Polícia Federal negou que o remanejamento da delegada tenha relação com o processo de extradição de Allan dos Santos, mas não explicou o motivo da troca. O Estadão apurou que a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) analisa se há medidas cabíveis no caso.

No mês passado, o comando da corporação também exonerou a chefe da Diretoria de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça (DRCI), a delegada Silvia Amelia, que assinou o pedido de extradição.

###
SENSAÇÃO DE REVOLTA PELA INJUSTIÇA

Acabo de ser comunicada de que a direção determinou minha saída da INTERPOL e apresentação na SR/DF. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu.

Naturalmente, o sentimento que me invade neste momento não é o melhor. Além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada, inclusive por não ter nenhuma função de confiança na INTERPOL, nem mesmo a substituição da chefia. Porém, ao comentar minha “expulsão” da INTERPOL com um colega muito admirado, ele me devolveu a seguinte pergunta: “O que você fez de certo?”

ALTA PRODUTIVIDADE – Nos 16 meses em que trabalhei na INTERPOL fui a delegada que mais produziu, sendo que em alguns meses produzi mais que todos os demais delegados, juntos.

No recorde de prisões de foragidos internacionais que batemos esse ano, 9 de cada 10 representações foram elaboradas por mim. Pela minha atuação no Projeto I-CAN (International Cooperation Against ‘Ndrangheta) recebi elogios do Ministério da Justiça italiano e da Secretaria-Geral da INTERPOL, em Lyon.

Mesmo com a trágica morte de meu companheiro Victor Spinelli, em maio passado, não peguei um único dia de licença médica e apenas 15 dias após sua morte trabalhei duro, entre lágrimas, para prender o número 01 dos foragidos internacionais da ‘Ndranghet’ no mundo.

FIZ O QUE É CERTO – Isso sem falar das relações pessoais e institucionais sólidas que criei: com os adidos estrangeiros, com o STF e PGR, com as representações regionais e com os analistas do “salão”. Nunca uma pergunta ficou sem resposta ou uma demanda deixou de ser atendida por mim.

Eu tenho uma história de mais de 18 anos de atuação na Polícia Federal como Delegada de Polícia Federal, a grande maior parte na atividade-fim, como investigadora, chefe de equipe, coordenadora de operações e, principalmente, líder. Coisas que só podem ser valorizadas e respeitadas por quem sabe discernir e já fez o que é certo.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Quem afasta e remaneja delegado na Interpol é o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, aquele que foi nomeado por Bolsonaro após a demissão do ministro Sérgio Moro, aquele que não admitia interferências na corporação. Na Polícia Federal, segundo a jornalista Naíra Trindade, esse Maiurino é conhecido como o “Delegado Maçaneta”, porque não fez carreira investigando crimes e arriscando a vida, mas como “assessor” de diretores, abrindo portas para eles passarem. O apelido diz tudo neste caso. (C.N.)

Em destaque

Comissão de Transmissão de Governo: Desafios e Tensões na Transição Administrativa em Jeremoabo

Com o objetivo de garantir uma transição administrativa transparente e organizada, o atual prefeito de Jeremoabo, Deri do Paloma, formalizou...

Mais visitadas