Publicado em 17 de janeiro de 2021 por Tribuna da Internet
Roberto Nascimento
Todo político precisa ter um olhar no passado e um instinto de sobrevivência altamente aguçado. E a política também é a arte da conciliação. No início do governo Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, flertou com o governo, principalmente com o ministro Paulo Guedes, aquele que odeia pobre e fez uma desconsideração com as empregadas domésticas, sobre a ida delas com as patroas em viagens à Disney.
Pois bem, Maia começou articulando com Guedes a tramitação das pautas econômicas, dentre elas a Reforma da Previdência, finalmente aprovada em 13 de novembro de 2019, com pesadas restrições aos aposentados e a tunga de 50% na pensão das viúvas, dentre outras monstruosidades.
AGRADOU AO EMPRESARIADO – Maia então, se tornou o queridinho do empresariado, segmento que não suporta regulação e carga tributária, sempre buscando mais lucros sem ônus.
Começou até a ser lembrado pelo sistema como um bom candidato para presidente em 2022. A partir desse momento, ficou carimbado como inimigo do governo e veio a ordem para Guedes se afastar dele.
Desde então, Maia foi boicotado e também não ajudou mais o governo na Reforma Administrativa e na Reforma Tributária, que o governo reteve, depois enviou fatiadas ao Congresso e até hoje não completou o projeto tributário.
PEDIDOS DE IMPEACHMENT – Nesse ínterim, a impopularidade de Bolsonaro na classe média e importantes parcelas do setor produtivo já deu origem a 61 pedidos de impeachment na Câmara. E a pergunta que não quer calar: por que Rodrigo Maia, não pautou nenhum pedido?
Primeiro, porque estava pactuado com o governo e o Supremo para desidratar a Lava Jato e impedir prisão antes da quarta instância. Além disso, não tinha certeza se conseguiria os votos de 2/3 dos deputados e senadores para sacramentar a cassação do presidente, o qual, escaldado como um gato, fez acordo com o Centrão (grupo de deputados fisiológicos do baixo clero, que votam pela quantidade de cargos que recebem do governo).
LEMBRANCA DE CUNHA – O terceiro motivo foi porque Maia, olhando pelo retrovisor, apareceu no espelho a imagem de Eduardo Cunha preso. Como presidente da Câmara na época do governo Dilma Rousseff, o deputado Cunha pautou um dos mais de vinte pedidos de cassação da presidenta, por ter feito as ditas pedaladas fiscais.
Depois, Cunha foi perseguido, acabou preso pela Lava Jato e perdeu o mandato. É disso que Maia tem medo, aliás, pavor.
Um político jamais pode morrer abraçado ao inimigo, afogados no mar. Os políticos brigam em público e se reconciliam em privado. Quem perde sempre é o povo eleitor. Até quando, hein?
O CASO DA VACINA – O calote que a Índia deu no Bolsonaro é uma bela lição. Será que ele achou, que o governo indiano iria priorizar um pedido do Brasil em detrimento da população (1 bilhão e 300 mil habitantes) do país asiático? Ledo engano. Primeiro os teus, depois os outros. É assim no mundo todo, menos aqui.
Nosso presidente fez tudo o que Trump quis e nada veio para nós em troca. Duvido que Trump, mesmo com toda a bizarrice dele, iria mandar a vacina da Pfizer para o Brasil.
Não tem saída para Bolsonaro: ou ele aceita a Coronavac da China ou a Sputnik da Rússia. Não se pode ter vacina, nem político de estimação. O importante é imunizar o povo através da vacinação, seja qual for a origem da vacina. Não há vacina de esquerda ou vacina de direita. Há sim, a vacina que salva vidas e evita a mortandade e o desespero dos amazonenses, sem ar para respirar.