BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) apreendeu ontem os seis computadores da Casa Civil supostamente usados para montar o dossiê com os gastos com cartões corporativos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. O delegado responsável pelo inquérito, Sérgio Menezes, disse que as investigações não se limitarão ao vazamento das informações.
Os cinco lap tops e um computador de mesa serão periciados pela Superintendência Regional da PF de Brasília com o apoio técnico do Instituto Nacional de Criminalística (INC). Nunca a PF chegou tão perto do gabinete presidencial ocupado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa investigação.
Além da apreensão dos computadores, o delegado Sérgio Menezes foi ao Palácio do Planalto para levantar informações básicas sobre o funcionamento do setor de onde partiram informações que alimentaram o dossiê. O delegado queria, basicamente, saber quem tinha acesso aos computadores, que tipo de informações passavam pela área e como eram armazenadas.
Menezes esteve no Planalto à tarde, na companhia de agentes, para os primeiros passos do inquérito, aberto ontem, 15 dias depois de divulgadas as primeiras informações do dossiê. Os computadores estavam na sala-cofre do Palácio do Planalto desde que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou que uma perícia seria feita nas máquinas pelo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), ligado à Casa Civil.
Com a análise dos computadores, a PF tentará identificar quem formatou o documento, quem alimentou o arquivo com as informações, buscará dados da preparação do dossiê, como data e hora, e espera chegar ao funcionário responsável pelo vazamento das informações sigilosas. O delegado não informou quais serão os próximos passos do inquérito depois da apreensão das máquinas. Até o momento, disse por intermédio da assessoria, não marcou nenhum depoimento.
Restrições
Apesar da insistência do governo em apurar somente o responsável pelo vazamento do dossiê, Menezes mostrou-se incomodado com as notícias de que a investigação será limitada. Ele avisou que, ao contrário do que foi divulgado pelo governo, sua apuração não terminará com a simples identificação do responsável pela divulgação das informações.
Quando chegar ao servidor, avisou, vai interrogá-lo e questionar quem fez o dossiê, por que foi divulgado, a mando de quem foi vazado e com que finalidade. Apesar de o ministro da Justiça, Tarso Genro, dizer que a apuração seria limitada, se o delegado se deparar com alguma outra irregularidade terá a obrigação legal de investigá-la. Caso contrário, pode ser acusado do crime de prevaricação.
Na investigação do dossiê dos "aloprados" que tentaram prejudicar a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo, por exemplo, o delegado responsável pelo inquérito, Diógenes Curado, não deu por encerrada a investigação quando identificou os responsáveis pela papelada.
Nos interrogatórios, insistia na pergunta sobre quem foi o mandante. Ao final, o delegado chegou a indiciar o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), decisão que foi derrubada por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A dificuldade para limitar as investigações foi uma das razões que levaram o governo a temer a entrada da PF no caso.
Esse receio levou o governo a orquestrar a tese de que apenas o vazamento dos dados constitui crime e, portanto, somente esse fato deveria ser objeto de análise pela Polícia Federal.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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