Por Vladimir Hernandez, BBC News 05/05/2007 às 13:19
A aranha armadeira tem um veneno que brevemente vai ser usado como medicamento contra a impotência masculina. Uma toxina do veneno produz ereções firmes e duradouras.
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A utilização do veneno da aranha ?Phoneutria nigriventer? - muito comum em toda a América do Sul e em países que importam banana porque ela se abriga nos cachos - como tratamento da impotência masculina é uma realidade muito próxima, se depender dos cientistas norte-americanos e brasileiros, da Faculdade de Medicina da Geórgia e da Universidade Federal de Minas Gerais, em colaboração com a Fundação Ezequiel Dias. A investigação científica analisou, primeiro, a evidência de que homens picados pela armadeira tiveram priapismo ? ereções prolongadas e dolorosas sem excitação sexual nem ejaculação. A pesquisa de dois anos concluiu que o veneno contém uma toxina chamada Tx2-6, que causa ereções. Outros testes, como a inoculação de ratos para análise dos efeitos colaterais, estão sendo realizados nos Estados Unidos antes da aprovação oficial para uso humano. Os resultados das pesquisas em andamento na Faculdade de Medicina da Geórgia devem sair dentro de um mês. A picada da aranha é potente e pode ser mortífera. No entanto, os pesquisadores brasileiros e norte-americanos entrevistaram homens que, além de ter se recuperado bem da picada, tiveram vidas sexuais mais intensas, motivo pelo qual eles e suas mulheres agradecem à armadeira. A toxina identificada no veneno já foi testada com êxito em outros animais além do rato. Até o momento, os cientistas acreditam que a combinação de uma versão do veneno da armadeira com remédios para disfunção erétil ? como Viagra, Cialis e Levtra ? pode produzir resultados melhores. (Tradução e edição de José Ramos de Almeida) Informações gerais As aranhas armadeiras pertencem ao gênero Phoneutria, família Ctenidae. Caracterizam-se pela disposição dos olhos em três fileiras (2 ? 4 ? 2) e pela presença de uma escópula (escova de pêlos na face interna dos palpos). As espécies podem atingir um comprimento total de até 15 centímetros. Ocorrem em toda a América do Sul, sendo exportadas para outros países devido ao fato de abrigarem-se em cachos de banana (?banana spiders?). Estas aranhas apresentam hábitos noturnos, caçando suas presas ativamente, usando apenas seu veneno (não constroem teia). Costumam abrigar-se em fendas de barrancos, sob cascas de árvores ou troncos caídos, em bananeiras, bromélias e palmeiras, habitando também as imediações das residências humanas, escondendo-se durante o dia em pilhas de madeiras, tijolos ou telhas. No interior das casas escondem-se em sapatos, atrás de cortinas e no meio de roupas. Todas as espécies são causadoras de acidentes, apresentando um comportamento bastante agressivo, picando quando se sentem ameaçadas. Desta forma, assumem uma atitude típica, apoiando-se nos dois pares de pernas traseiros, erguendo os dois pares de pernas dianteiros e os palpos, abrindo os ferrões e eriçando os espinhos. Acompanham o movimento do agressor, sendo muito rápidas, procurando a defesa no ataque. Veneno e mecanismos de ação O veneno de uma aranha armadeira é composto por polipeptídeos básicos, com peso molecular entre 5.000 dáltons e 6.000 dáltons, apontando a possibilidade de que o mesmo poderia ter vários componentes farmacológicos distintos, cada um correspondendo a um ou mais efeitos. Estudos experimentais demonstraram que o veneno atua basicamente sobre os canais de sódio, induzindo a despolarização das fibras musculares e de terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo. Estas observações justificariam a sintomatologia dolorosa no local da picada (maioria dos casos) e as manifestações sistêmicas (casos graves), conseqüente à liberação de neurotransmissores do sistema nervoso autônomo, principalmente catecolaminas e acetilcolina. Clínica Na quase totalidade dos casos a dor é o sintoma mais freqüente, sendo de intensidade variável ? às vezes insuportável ? podendo irradiar-se até a raiz do membro. No local ou nas proximidades da picada pode-se verificar a ocorrência de edema, sudorese, hiperemia, parestesia e fasciculação muscular. Raramente pode ocorrer de o paciente não apresentar nenhuma sintomatologia após a picada, indicando que provavelmente não ocorreu a inoculação de veneno. Assim, de acordo com a gravidade do envenenamento, os acidentes podem ser classificados em: ACIDENTES LEVES O tipo mais freqüente, com sintomatologia local. Secundariamente à dor, pode-se verificar eventualmente taquicardia e agitação. ACIDENTES MODERADOS Paralelamente às manifestações locais podem ocorrer alterações sistêmicas, tais como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese profusa, agitação psicomotora, visão ?turva?, vômitos (ocasionais), dor abdominal, priapismo e sialorréia discreta. ACIDENTES GRAVES São raros, praticamente restritos a crianças. Além das manifestações leves e moderadas, verifica-se a ocorrência de vômitos profusos e freqüentes, bradicardia, hipotensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas, choque, dispnéia, graus variáveis de depressão neurológica (incluindo o coma), convulsões, edema pulmonar agudo e parada cardiorrespiratória. Tratamento SINTOMÁTICO Na presença de dor local deve-se administrar um analgésico sistêmico e/ou proceder à infiltração anestésica local, com lidocaína a 2%, sem vasoconstritor. Estes procedimentos, isolados, são suficientes na maioria dos casos. Outro procedimento auxiliar, aparentemente útil no controle da dor, é a imersão do local em água morna, ou uso de compressas quentes. ESPECÍFICO Nos casos com manifestações sistêmicas em crianças e em todos os acidentes graves é indicada a soroterapia. Nestas situações, os pacientes devem ser internados para melhor controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâmicos e tratamento de suporte e das possíveis complicações. A possibilidade de ocorrência de óbito é muito rara. Recomenda-se o uso de soro antiaracnídeo polivalente, na dose de 5 a 10 ampolas, por via intravenosa.
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