Por Carolina Parada e Karina Baracho
Ainda não foi desta vez que a sociedade baiana obteve respostas sobre o caso Neylton. Ontem, durante a primeira audiência relativa ao caso, realizada no Fórum Ruy Barbosa, nenhuma novidade sobre o crime foi revelada. A sessão uniu pela primeira vez os quatro acusados de envolvimento no caso - os seguranças Jair Barbosa da Conceição e Josemar dos Santos, apontados como executores do homicídio, a ex-subsecretária municipal de Saúde, Aglaé Amaral, e a ex-consultora do órgão, Tânia Maria Pedroso, acusadas de serem as mandantes da execução, e todos negaram a participação no crime. A sessão foi presidida pelo titular da 1ª vara Crime, juiz Cássio Miranda, e acompanhada pela promotora do Ministério Público, Armenia Cristina, e pelos defensores dos acusados, os advogados Vivaldo Amaral, Wilson Feitosa, Márcio Mello e Sadeck. Os depoimentos foram feitos isoladamente e o de Jair começou por volta das 9h30. Aparentando muita tranqüilidade, ele negou o crime, mas entrou em contradição diversas vezes. Afirmou não ter visto Neylton entrar na repartição no dia do crime e que fez quatro rondas durante o turno de trabalho, mas não percebeu “nada de estranho” no prédio. Acrescentou que foi torturado física e psicologicamente por policiais para que confessasse o crime e que não sabe o motivo que fez Josemar acusá-lo pela morte do servidor. O depoimento foi encerrado após quase duas horas. Em seguida, o segurança Josemar foi quem prestou declarações. Contrariando o depoimento de Jair, Josemar afirmou que no dia do crime a vítima, que não tinha autorização para entrar na repartição, o que é necessário para quem trabalha fora do expediente, foi recebida e autorizada a entrar no prédio por Jair. Josemar também negou que o colega tivesse feito rondas no prédio naquele dia, reforçando que só ele fez esse serviço no sábado. Josemar acrescentou que Jair, alegando cansaço, se ausentou da portaria por quase três horas. “Ele disse que precisava descansar e não vi problema nisso. Era sábado e o movimento estava tranqüilo. Eu e Anderson poderíamos segurar o serviço até ele voltar”, declarou, acrescentando não ter desconfiado de nada. Josemar, que teria confessado o crime e apontado Jair como executor e Tânia e Agláe como mandantes, também negou a participação e alegou que fez a confissão à polícia porque foi espancado. Disse também que a delegada Dilma Nunes, responsável pelo inquérito, teria lhe dito que Jair estava o acusando de ser homossexual e de ter algum envolvimento com a vítima. Segundo Josemar, esta afirmação da delegada foi que motivou a declaração dele de ter flagrado a vítima e Jair em “atos libidinosos” momentos antes do crime. Acrescentou que toda a história que relatou sobre o espancamento e morte da vítima foi inventada por ele, mas não soube explicar por que “acertou” detalhes comprovados pela perícia técnica, já que os relatos eram apenas ficção, como também não soube explicar por que a entrada do servidor não foi registrada no livro de ocorrências da portaria, como deveria ser feito. “Quando pressionamos para que elas apontassem nomes, voltamos para a Real Sociedade Espanhola, segundo informações partidas pelas mesmas”, explicou a promotora. Destacou que foram apresentados documentos por Tânia, relacionados à Real Sociedade Espanhola, mas que serão averiguados, pois “podem ser panos de fundo”, uma espécie de desvio para as investigações. Tânia Pedroso foi a última a ser ouvida pelo juiz Cássio Miranda, às 14h30. Questionada sobre o local onde foi detida, um hotel no bairro do Rio Vermelho, mesmo estando sem malas, ela disse com pouca tranqüilidade: “Fui ao escritório do meu advogado e fiquei com medo de voltar para casa. Ele, então, me orientou para que eu fosse me hospedar num hotel”, referindo-se ao seu primeiro advogado, Ruy João.
Tânia: Neylton errava e o secretário sabia
; Indagada sobre a possibilidade de superfaturamento nos valores pagos para a empresa de vigilância da SMS, ou outras irregularidades, Tânia informou que não teve contato com algumas contas. “Não posso afirmar, pois não examinei os valores destinados à empresa de segurança”. Ela acrescentou que “Neylton sempre fazia ordens de pagamento erradas. Constantemente, beneficiava indevidamente algumas instituições. Mas era um erro de inteligência e não de vontade”. Ainda de acordo com ela, essas “irregularidades” não causaram nenhum dano à secretaria, pois foram “identificadas e corrigidas por mim”. Explicou que o secretário municipal de Saúde, Luiz Eugênio Portela, sabia de todos os “erros” cometidos pelo funcionário. “Eu fazia um relatório mensal com tudo explicado e junto com a doutora Aglaé o encaminhava ao secretário”. Isso, todavia, não foi confirmado por Portela, que, em entrevista coletiva à imprensa no mês passado, fez questão de mostrar o trabalho que Neylton fazia. “Ele apenas alimentava as planilhas, não tinha autonomia para fazer pagamentos; tudo que passava por ele ainda era mandado para um outro setor, que analisava, e a partir daí fazia a liberação das verbas”. Tânia informou que foi convidada para trabalhar como consultora da Real Sociedade Espanhola, mas não aceitou, “por causa de conflito de interesses, já que prestava serviços para a Secretaria”. Ainda de acordo com ela, numa conta mensal da instituição na SMS, foi conseguida a redução de cerca R$ 1 milhão. “O valor apresentado pelo almoxarifado foi de R$ 2 milhões, passou pela coordenação de administração, ficando por pouco menos desse valor, e eu comprovei R$ 1,350 milhão”. Questionada sobre a força tarefa realizada em conjunto com o MPE e Ministério Público Federal (MPF) para análise de possível improbidade dentro da secretaria, ela disse que já prestou depoimento aos dois órgãos. “Mas não faço idéia de nada desse tipo. Não acredito que a morte de Neylton tenha relação com o trabalho dele lá dentro. Mas disso se valeram para me prejudicar, assim como a Aglaé”. Afirmou não conhecer os vigilantes. “A única explicação que eu tenho é que esse valor que ele disse que iria receber e talvez tenha recebido, deve ter sido para dizer o nosso nome”. Destacou que não telefonou para Neylton. “Só entrei em contato com ele na sexta-feira para saber se ele tinha conseguido protocolar uns documentos”, disse, em relação ao telefonema feito na véspera do crime, por volta das 11h30. “Estou sendo perseguida pelo sistema. Não mandei matar ninguém”, disse Aglaé. Questionada se a perseguição que afirmou estar sofrendo poderia ser fruto da auditoria feita por ela na SMS, foi sucinta: “Não faço parte mais do quadro de funcionários da secretaria”. Mas acrescentou que o que está acontecendo pode ser “uma armação. Estão usando o meu nome”. (Por Karina Baracho)
Fonte: Tribuna da Bahia
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