Por: Arquivo JC
SÃO PAULO (AE) - A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que o esquema do mensalão era operado por uma "sofisticada organização criminosa" comandada pelo PT é uma confirmação do que a OAB já vinha denunciando há tempos.
A afirmação é do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato. Segundo ele, "havia uma verdadeira quadrilha assaltando o Estado brasileiro". Na sua avaliação, a denúncia apresentada por Fernando de Souza "foi uma peça muito bem elaborada que a cidadania brasileira estava esperando ansiosamente".
O procurador aponta o ex-ministro José Dirceu como "chefe do organograma delituoso" e três ex-dirigentes petistas - José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira - como integrantes do "núcleo principal da quadrilha".
O presidente nacional da OAB reitera que a denúncia do procurador-geral ao STF "foi muito importante por sustentar às claras que havia uma verdadeira quadrilha agindo no governo". Busato lembrou que a OAB denunciou também o mesmo tipo de prática em algumas prefeituras administradas pelo PT.
Ainda sobre a denúncia apresentada pelo procurador-geral, o presidente da OAB destacou que os cidadãos brasileiros estavam precisando desse tipo de providência.
"Já estávamos absolutamente desiludidos com relação ao Congresso Nacional e sua incapacidade de punir politicamente todos aqueles que estão envolvidos com esse escândalo que estamos presenciando há mais de dois anos."
"Responsável pela formação da quadrilha é Lula"
Brasília (AE) - O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o responsável pela "quadrilha e a organização criminosa" denunciada ontem ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
"O grande responsável pela formação da quadrilha é o presidente da República, e é isso que está dito de uma maneira explícita politicamente na denúncia do procurador", afirmou Tasso, em aparte ao discurso do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), no plenário do Senado.
"Estou provocando senadores do PT que se manifestem sobre isso", desafiou Tasso. Ontem, nenhum dos senadores que participaram da CPI os Correios quis comentar a denúncia do procurador-geral. No momento, só estava no plenário o petista Sibá Machado (AC), que integrou a CPI dos Correios e escutou calado o desafio de Tasso.
O presidente do PSDB disse, ainda, que é uma organização criminosa, montada pelo núcleo central do PT, a partir do governo Lula", que está sendo denunciada, e enfatizou: "Isso talvez tenha sido a denúncia mais grave já feita na história do Brasil, em termos de governo federal. O PT montou uma quadrilha a partir do governo federal".
Segundo Tasso, a situação é grave e envolve diretamente o presidente Lula. "Uma denúncia como esta não pode deixar de envolver o presidente, que é o responsável pelo governo federal", acentuou.
Em aparte, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) concordou com Tasso, observando que o procurador-geral só não citou o nome de Lula porque não quis. "Mas ele (Lula) é o grande responsável, sim. Tudo isso aconteceu em volta dele, e parece que ele não sabe o que acontece em volta dele", afirmou o senador gaúcho. Segundo ele, se ele não sabe o que está acontecendo ao lado dele, seria o caso de ser pedida uma análise psiquiátrica dele, para ver se ele pode ou não presidir o País.
Simon elogiou o procurador-geral da República, dizendo que ele teve coragem de dizer as coisas, destacando a diferença entre ele e seu antecessor, Geraldo Brindeiro, que tinha fama de "engavetador de processos".
Líder do PT acusa procurador-geral
BRASÍLIA (AE) - O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), reagiu, ontem, com críticas e cobranças à denúncia encaminhada ontem pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, ao Supremo Tribunal Federal (STF), apontando a existência de uma organização criminosa que operou o chamado mensalão para garantir a manutenção do PT no poder.
Chinaglia acusou o procurador de ter sido "mordido pela mosca azul" - expressão utilizada em relação a pessoas que passam a ambicionar o poder - e cobrou investigação sobre suposto superfaturamento na construção do prédio-sede do Ministério Público Federal (MPF) em Brasília. Em discurso no plenário da Câmara, pontuado por ironias, o líder do governo contestou também conclusões da CPI Mista dos Correios.
"Usando a palavra da moda, causou-me estranheza que o procurador-geral da República chamasse o presidente da CPI dos Correios (senador Delcídio Amaral), bem como o seu relator (deputado Osmar Serraglio) e outros para anunciar à imprensa o seu trabalho. Penso que ali Sua Excelência talvez tenha sido mordido pela mesmíssima mosca azul de alguns que entram (na condição de) minhoca na CPI e imaginam saírem de lá como se fossem najas (espécie de cobra)", discursou Chinaglia.
"Homem destemido"
O deputado levantou suspeita sobre a conduta do relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), acusando-o de ter excluído do seu relatório tudo que foi produzido na comissão sobre as franquias da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
"O sub-relator pediu a quebra do sigilo de oito franquias, obteve de apenas duas e, dessas, descobriu que, num prazo de cinco anos, foram sacados R$ 8 milhões da boca do caixa. Por que o relator excluiu isso do seu parecer final?", questionou Chinaglia. "Será que Sua Excelência (Serraglio) introjetou a denúncia da oposição de que o Correio era comandado pelo PMDB, e então ficou com medo? Sua Excelência é homem destemido", afirmou Chinaglia.
O líder do governo fez também elogios aos trechos em que a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) envolve o PSDB no esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza e ao fato de o procurador Antonio Fernando ter deixado de fora do seu relatório o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chinaglia ressaltou que o trabalho do procurador foi feito com independência.
Investigações ainda não envolvem Lula
BRASÍLIA (AE) - O Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse que, até o momento, não há nada que envolva o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações da Procuradoria a respeito do mensalão. Segundo a assessoria de imprensa, os procuradores estão realizando diligências para dar continuidade às investigações, mas isso não significa dizer que o objetivo seja o de atingir a figura do presidente Lula.
A Procuradoria deve denunciar novos envolvidos no esquema do mensalão, depois de receber os resultados dessas diligências. Fontes da Justiça admitem que o número de envolvidos pode chegar a 70 pessoas.
Ontem, o procurador divulgou oficialmente uma parte do seu trabalho, no qual denunciou 40 pessoas como participantes do esquema do mensalão.
Entre os denunciados estão os ex-ministros que já integraram o núcleo duro do governo: José Dirceu, Luiz Gushiken. Também foram denunciados o ex-presidente do PT, José Genoino; o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares; o dirigente do PT, Silvio Pereira; e os publicitários Marcos Valério e Duda Mendonça.
A denúncia do procurador traça o roteiro por meio do qual se processou a engenharia financeira que permitiu a existência do mensalão. Segundo o procurador, o esquema teve início logo após a eleição de Lula, em 2002, e objetivou garantir "a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político".
Fonte: Jornal da Cidade
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