Por: Paulo G. M. de Moura, cientista político
A pesquisa CNT/Sensus contribuiu para semear mais confusão às contradições entre os levantamentos recentes que o Ibope e o Datafolha publicaram. Aliás, não é de hoje que os institutos de pesquisas vêm tendo sua credibilidade questionada. Tem-se constatado contradições entre os levantamentos de opinião que esses institutos publicam quase simultaneamente, e também, erros grosseiros entre as projeções que apresentam em relação a resultados eleitorais que, não raras vezes, contradizem inclusive pesquisas de boca de urna cujo potencial de erro deveria ser baixíssimo.A explicação mais comum ampara-se no argumento de que se tratam de pesquisas diferentes, feitas com metodologias diferentes, em momentos diferentes. O argumento é apenas em parte procedente, pois é neutralizado quando, diante de situações e perguntas similares, revelam-se respostas e tendências flagrantemente opostas. Algumas hipóteses podem contribuir para explicar as controvérsias dos institutos de pesquisa. Creio que o problema mais sério provém da volatilidade dos eleitores, num contexto de intensa guerra simbólica travada na mídia pelas principais forças políticas com candidatos em disputa. A segmentação dos meios de comunicação e de seus públicos também contribui para agravar a situação.As modernas tecnologias do marketing político e da propaganda negativa, monitorados por pesquisas quantitativas e qualitativas periódicas e regulares, e a comunicação em tempo real, conferiram à luta política contemporânea características novas. Temos, portanto, um eleitorado relativamente bem informado; saturado por denúncias de corrupção que atingem a classe política indistintamente, na guerra de imagens travada entre adversários. Diante disso, o eleitor aprendeu a desconfiar de tudo que ouve e vê no noticiário, especialmente dos políticos. Não descarto, inclusive que parcelas dos entrevistados nessas pesquisas estejam camuflando suas intenções de voto e opiniões reais sobre os temas pesquisados, ante a desconfiança generalizada que vai se instaurando também sobre a credibilidade dos institutos. Além, disso, os veículos de comunicação atuais são segmentados, atingindo diferentes setores da opinião pública de forma diferenciada. Ou seja, não há reações padronizadas aos fatos, como fazem supor algumas análises conclusivas publicadas por comentaristas da imprensa.Essa combinação de fatores tende a produzir impactos e reações diversas sobre os diferentes segmentos da opinião pública, mesmo em curto espaços de tempo que separam levantamentos de opinião divulgados pelos institutos. A esse fator, agrega-se a desqualificação de jornalistas que se dedicam a analisar pesquisas eleitorais sem o devido preparo e rigor. Nem mesmo nos cursos de Ciência Política das universidades brasileiras preparam-se profissionais com a qualidade necessária para esse fim, como fazem as universidades americanas, por exemplo. Os poucos profissionais preparados para isso no país, ou estudaram no exterior, ou aprenderam no mercado com profissionais que receberam esse preparo no exterior. Jornais importantes do país, no entanto, têm publicado com ares de verdades absolutas, enormes asneiras sobre a leitura que jornalistas despreparados fazem de pesquisas.Pesquisas quantitativas feitas com rigor técnico têm validade científica para mensurar a opinião dos entrevistados sobre aquilo que eles foram perguntados, no momento em que eles foram perguntados. A entrevista domiciliar por amostragem aleatória estratificada, aplicada segundo os setores censitários do IBGE, é a metodologia mais rigorosa e que melhor possibilita controle de qualidade. Mas é mais cara e mais demorada, e, mesmo assim , não está imune aos problemas decorrentes da volatilidade da opinião pública ante o impacto da mídia segmentada sobre os diferentes setores do eleitorado, e sob bombardeio de guerras de denúncias. Divulgas, essas denúncias podem provocar mudanças rápidas de comportamento em parcelas da opinião pública, logo após a realização do campo de uma pesquisa que não captou seu impacto, e, mesmo desatualizada pelos fatos, a pesquisa termina publicada, gerando influência sobre o comportamento dos eleitores e dos atores políticos.Resolver essas vulnerabilidades é um desafio aos institutos cuja credibilidade está em questão. Tratar com mais seriedade a publicação de análises de pesquisas é um desafio aos órgãos de imprensa que se pretendem sérios. E saber lidar com o impacto das pesquisas sobre o comportamento dos eleitores é um desafio para os estrategistas dos candidatos. Sob essas circunstâncias, fica difícil correr riscos analisando pesquisas sob esse tipo de suspeição, por mais sérios que se pretendam os institutos.Há alguns consensos, no entanto. Sobre o eleitor de Lula, por exemplo, sabe-se que se compõe de uma parcela de cerca de 30% do eleitorado brasileiro que é de esquerda por convicção, e que não abandonou Lula apesar do mar de lama em que mergulhou o petismo no poder. A outra parcela significativa do eleitorado de Lula se compõe da clientela do “bolsa-esmola”. Isto é, de gente com baixo grau de instrução e informação, e, portanto, mais dificilmente e mais lentamente atingida por informações sobre a guerra de propaganda negativa travada entre governo e oposição. A imagem de Lula está protegida, portanto, por essa camada de “teflon” que o isola das denúncias perante seu eleitor ideológico, e do seu eleitor miserável e deseducado, devido à desinformação.A esses fatores, deve-se agregar a proteção que a própria estupidez da oposição confere à imagem de Lula. O PT não hesita em convocar o filho de Alckmin a dar explicações na Assembléia Legislativa de SP, nem bem uma denúncia que o PT plantou na mídia veio a público. Como as denúncias contra o filho de Alckmin estão relacionadas ao trato da coisa pública, o fato de ele ser filho do candidato e ex-governador não o exime, pelo contrário, das devidas explicações. Estranhamente, a oposição não trata o filho de Lula da mesma forma. Não estamos lidando aqui - nem no caso do filho de Alckmin, nem no caso do filho de Lula - da vida privada dos homens públicos e seus familiares, como sugere Lula ao pedir à oposição que poupe sua família. Lulinha da Silva recebeu R$ 15 milhões de uma concessionária de serviços públicos de telefonia, investimento que, até onde se sabe, jamais teria sido captado pela lei do mercado, não fosse o beneficiado filho do presidente da República. O fato é conhecido há meses. Curiosamente, nem sequer entrevistado sobre o assunto Lulinha foi (viva nossa imprensa imparcial e independente). Chamá-lo ao banco da CPI sob os holofotes da mídia então, nem sequer a oposição cogita. E querem que Lula desabe nas pesquisas por inércia?A quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Paulo Okamoto é um bom caminho, mas julgo a medida insuficiente. Na minha opinião, além da exposição pública de Lulinha da Silva às suas contradições e vulnerabilidades, somente a mãe do caseiro Nildo em frente às câmeras de TV, dizendo aos eleitores nordestinos pobres o que pensa sobre o que Lula fez e disse contra seu filho, teriam o poder de corroer a imagem do molusco na proporção necessária. Mas, para fazer isso, a oposição precisa decidir antes, se quer mesmo ganhar a próxima eleição presidencial.
Fonte: Diegocasagrande
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