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segunda-feira, abril 10, 2006

.Campeão com autoridade

Por:Bruno Agostini


Botafogo conquista facilmente seu 18º título carioca na vitória
por 3 a 1 sobre o Madureira, e ainda faz o artilheiro


O Rio de Janeiro é alvinegro pela 18ª vez. Depois de nove anos de jejum, o título do centésimo Campeonato Carioca vai para General Severiano novamente. Absoluto nas duas partidas da final, o Botafogo voltou a vencer o Madureira com autoridade: 3 a 1, com dois gols de Dodô e um de Reinaldo - Fábio Júnior marcou para o tricolor suburbano. Para completar a gloriosa festa, o atacante, que chegou ao Botafogo muito contestado - e virou o grande herói das finais - ganhou também o troféu de artilheiro da competição, com nove gols. Fez barba, cabelo e bigode.
A partida começou com o Botafogo cauteloso, embora estivesse longe de jogar na retranca. Apesar da vantagem, o time do técnico Carlos Roberto atacava com afobação e abria muitos espaços na defesa. O Madureira, na correria e força de vontade, pressionava. Em rápidos contra-ataques, Josafá explorava o buraco deixado entre o meio-campo e a defesa botafoguense. Mas faltava competência aos atacantes, que, afoitos, teimavam em chutar de longe. Ora a bola saía pela linha de fundo, ora encontrava as luvas de Lopes, que nem precisava se esforçar para defender.
Aos oito minutos, Ruy errou jogada no ataque e o Madureira chegou com perigo pela primeira vez. André Lima desperdiçou excelente chance, tocando mal a bola, que quase sobrou para ele mesmo. Com arrojo o goleiro Lopes defendeu nos pés do meia, na quina da pequena área, para alívio botafoguense.
O Madureira dominava e a massa alvinegra sofria. Restava vaiar as jogadas do Madureira.
Aos 13 minutos a torcida do Botafogo pediu pênalti sobre Dodô, ignorado pelo árbitro. Era o primeiro sinal de que o time se acertara em campo. Dois minutos depois, Zé Roberto pegou a bola em seu campo e avançou sem receber combate. A poucos metros da área do Madureira, já sem fôlego e equilíbrio, chutou para a fácil defesa de Renan.
Mas aos 18 minutos o grito de ''é campeão'' ecoou pela primeira vez a plenos pulmões. Dodô recebeu na intermediária, ajeitou e chutou com força. A bola, caprichosamente, resvalou em Djair e traiu o goleiro Renan, que nada pôde fazer: Como diriam os mais antigos, foi lá onde a coruja dorme, no ângulo direito: 1 a 0. A festa alvinegra começava a se desenhar inevitável.
O hino do clube embalava a coreografia da torcida: bandeirinhas e bandeirões, camisas, bexigas amarelas, estrelas solitárias, mãos espalmadas. Não faltou nem mesmo a ola para tirar do chão os torcedores.
A festa nas arquibancadas não parou mais desde aí. Aos 44 minutos, Dodô ainda teve tempo de acertar a trave, em linda cobrança de falta que quase entra no mesmo lugar do gol.
- Ainda não está nada ganho. Temos que manter a pegada no segundo tempo porque o Madureira vem com tudo - dizia o técnico Carlos Roberto na saída para o vestiário no intervalo, com o coro dos jogadores.
Não foram necessários mais do que quatro minutos no segundo tempo para o Botafogo garantir a taça. Zé Roberto fez linda jogada pela direita, tabelando com Reinaldo, invadiu a área e tocou na saída do goleiro, por cima, esbanjando categoria. A bola entraria mansamente, mas Dodô estufou as redes garantindo a artilharia isolada.
- Olhei para o Zé, para a bola, fiz as contas e não teve jeito. Tive que me isolar na artilharia. Mas ele ficou feliz - explicou, depois da partida, o gol que ganhou de presente do meia.
Os gritos de guerra e a coreografia febril e feliz tomaram conta de todo o anel do Maracanã. Rojões espocavam liberando tirinhas alvinegras sobre a geral.
- Ai, ai, ai, ai. Tá chegando a hora. O dia já vem, raiando meu bem, eu tenho que ir embora - gritavam os botafoguense o clássico refrão.
O Madureira sentiu o golpe fatal e demorou a voltar ao jogo. A pane durou cerca de cinco minutos, onde a monotonia era a tônica da partida. Nem o Botafogo atacava, nem o abatido Madureira conseguia acertar nenhuma jogada.
O time de Alfredo Sampaio, valente, voltou a incomodar, valorizando a conquista do Botafogo. Aos 12 minutos, Fábio Júnior, aos trancos e barrancos, entrou trombando com os zagueiros. O atacante levou a melhor. Na cara e na coragem tocou por baixo do goleiro Lopes, diminuindo para 2 a 1, estampando ares de preocupação nos mais pessimistas torcedores.
Mas o gol não foi capaz de diminuir a empolgação alvinegra. Animados com o título iminente os torcedores a tudo aplaudiam. Fosse um carrinho voluntarioso que abortava mais um contra-ataque do Madureira, fosse um passe bisonho que saía pela lateral.
Cansado de perder algumas chances de liquidar a fatura, Reinaldo recebeu bom passe depois de inteligente corta-luz de Zé Roberto e fechou a conta: 3 a 1, campeão incontestável.
Nesta hora, os vendedores de sorvete trocaram de mercadoria. Saíram os picolés, entraram as faixas de campeão, consumidas freneticamente: ''Uma é R$ 3, duas é R$ 5!'', gritavam, sendo solicitados por muitos.
Nilton Santos, Jairzinho, Gottardo, Gonçalves, Beth Carvalho e outros botafoguenses ilustres ou anônimos só tinham mais uma coisa a fazer ali: comemorar. Mas só até terça.
- Agora é hora de festejarmos o título. Mas sem exageros. Na terça-feira já é hora de começar a pensar no Fortaleza - lembrou o guerreiro Scheitd, capitão do time, preocupado com a estréia do Botafogo no Campeonato Brasileiro, no próximo fim de semana.
Madureira: Renan, Marcus Vinícius, Paulo César, Odvan e Paulo Roberto; Roberto Lopes, Djair, Maicon (Marquinho) e André Lima; Josafá (Rafael) e João Rodrigo (Fábio Júnior). Técnico: Alfredo Sampaio.
Botafogo: Lopes, Ruy, Rafael Marques, Scheidt e Bill (Júnior César); Thiago Xavier, Diguinho (Ataliba), Joilson (Gláuber) e Zé Roberto; Reinaldo e Dodô. Técnico: Carlos Roberto.
Local: Maracanã.
Árbitro: Wágner Tardelli.
Renda e Público: R$ 615.500 e 44.550 presentes.
Cartões amarelos: André Lima, Josafá, Roberto Lopes (Madureira), Scheidt, Reinaldo, Dodô (Botafogo). Gols: Dodô (18min). No segundo tempo, Dodô (4min), Fábio Júnior (12min), Reinaldo (35min)
Fonte: JB Online

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