Posted on by Tribuna da Internet
Carlos Newton
As manifestações de domingo deixaram claro que o prazo de validade do governo Jair Bolsonaro ainda estava longe de se esgotar. Mas bastaram 24 horas para demonstrar que um presidente que tem um filho irresponsável como Carlos Bolsonaro nem precisa de inimigos. O próprio rebento se encarrega de empunhar a metralhadora giratória do fogo amigo e alvejar tudo que estiver à sua frente, sem perceber que está destruindo também o próprio pai.
DIZEM AS PESQUISAS – Apesar de todas as maluquices da família, o presidente Bolsonaro ainda vinha bem junto à opinião pública. Embora na última pesquisa os analistas tenham dado destaque à queda de sua aprovação, peço licença para fazer uma leitura diferente. De acordo com os dados do Ibope, em levantamento realizado para a Confederação Nacional da Indústria, a avaliação teria piorado, porque o percentual dos que consideram o governo como ruim ou péssimo subiu de 27% para 32%, enquanto os que acham o governo ótimo ou bom também são 32%, ante 35% na pesquisa anterior.
A meu ver, porém, a análise deve ser feita de outra forma, porque a metodologia atual dá margem a dúvidas. Por exemplo: quem considera o governo como regular (32%) está aprovando ou rejeitando a gestão?
VÍCIO DE ORIGEM – Na minha opinião, regular significa aceitável, pois não há como entender que possa significar inaceitável. Portanto, a pesquisa fica contaminada por esse vício de origem. A metodologia mais adequada, a meu ver, ao indagar como o entrevistado avalia o governo, seria apresentar apenas 3 opções: 1) Aprova; 2) Desaprova; 3) Não quer opinar. Com esse primeiro quesito, poder-se-ia saber, com maior precisão de amostragem, qual é realmente o grau de aprovação do governo, porque a pergunta é direta e não suscetível de dúvidas.
DETALHAMENTO – Dentro dessa metodologia mais direta, quem respondeu que aprova o governo seria então indagado em que classificação enquadraria o governo: 1) Ótimo; 2) Bom; ou 3) Regular.
Ao entrevistado que respondeu desaprovar a gestão, a múltipla escolha também seria adaptada à sua opção inicial e ele então diria de que forma classifica o governo: 1) Péssimo; 2) Ruim; e ou 3) Regular.
É evidente que essa mudança de metodologia traria um resultado muito mais preciso do que os dados que se obtêm com a múltipla escolha tradicional, que apresenta de uma só vez as quatro possibilidades que podem induzir a erro na segunda opção: 1) Ótimo ou bom; 2) Regular; 3) Ruim ou péssimo; 4) Não quer opinar.
EFEITO ANTILULA – Se as pesquisas fossem feitas assim, separando os que aprovam e os que desaprovam, não haveria certas contradições que se verificam hoje. Na pesquisa do Ibope, por exemplo, 45% declararam confiar em Bolsonaro, mas apenas 40% aprovam seu governo.
Essa disparidade absurda confirma minha definição preferida de estatística – é “a arte de torturar os números até que eles confessem o resultado que pretendemos”. Foi uma das coisas que aprendi ao trabalhar durante seis anos no IBGE.
PRAZO DE VALIDADE – Quanto à nossa afirmação de que o prazo de validade de Jair Bolsonaro ainda estava longe de se esgotar, o motivo era claríssimo. Em suas várias camadas, a classe média é largamente majoritária no país. E a aversão que desenvolveu contra Lula e o PT faz com que a maioria continue apoiando Bolsonaro, sob alegação de que seu governo pode ser muito ruim, mas será sempre superior ao PT.
Este é o sentimento atual da classe média, e parece que ia demorar a ser alterado, mas de súbito entra em cena o tresloucado Carlos Bolsonaro,