O ESTADO DE S. PAULO
Gasto público no trimestre contraria discurso de Dilma
Pressionados por uma conta bilionária herdada do ano eleitoral, os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foram poupados pelo ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.
Dos R$ 40,1 bilhões de gastos autorizados por lei para este ano, apenas 0,1% (R$ 54,4 milhões) foi pago no primeiro trimestre.
No mesmo período, foram pagos R$ 5,4 bilhões de contas pendentes deixadas por obras e serviços contratados durante o governo Lula, parte deles ainda quando Dilma Rousseff comandava o PAC, na condição de ministra-chefe da Casa Civil.
Levantamento. A liderança do PSDB, oposição ao governo, fez um levantamento do ritmo de execução das obras do PAC desde o início do programa, em 2007. Considerou os pagamentos feitos no ano e as contas pendentes deixadas naquele mesmo período para avaliar o desempenho do programa em cada ano.
Em 2009, ano da série em que o ritmo do PAC teria sido mais acelerado, segundo os critérios usados pelo levantamento, os gastos atingiram 75,5% do valor autorizado pela lei orçamentária. Isso significa que o PAC, cujos projetos levam o carimbo de prioridade no governo, nunca tirou do papel todos os gastos autorizados por lei.
O ano eleitoral de 2010 poderá ultrapassar o desempenho obtido em 2009 assim que o governo acabar de quitar as obras e serviços contratados no ano passado.
Política externa mudou, diz Garcia
Se o Itamaraty ainda hesita em admitir publicamente, o assessor para assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, entrega de bandeja: "Há mudanças na política externa? Claro que sim". Ele afirma que a presidente Dilma Rousseff está decidida a imprimir sua marca na diplomacia - a começar pela questão dos direitos humanos, particularmente cara à ela - e o contexto internacional mudou.
Com a transição entre governos, o próprio Garcia parece ter recalibrado o discurso. O Brasil "não tem simpatia por autocratas", diz, e "nenhuma afinidade com o Irã". Olhando para o passado, porém, ele defende que os abraços de Lula no líbio Muamar Kadafi ou no sírio Bashar Assad não são motivos de constrangimento. O "professor", como é chamado, subiu ainda o tom das críticas à intervenção na Líbia, um "precedente autorizando, sempre que houver uma guerra civil, a ONU a interferir em proveito de uma força". A seguir, a entrevista.
Entrevista - 'Brasil deve ser o único país que paga pensões ao deus-dará'
Indicado pelo PMDB, Garibaldi Alves Filho (RN) não pensou duas vezes em deixar o Senado para comandar o Ministério da Previdência Social. Aos 64 anos, terá de administrar um "abacaxi", como ele mesmo disse na posse - o rombo de cerca de R$ 100 bilhões nas contas da previdência social -, sem promover reformas impopulares, e lidando com projetos-bomba do senador Paulo Paim (PT-RS) no Congresso.
Em entrevista ao Estado, Garibaldi confirma que a Previdência passará só por pequenos ajustes. Para já, a mudança em debate está restrita à aprovação de projeto de lei criando um fundo de previdência complementar para o funcionalismo público. Não há nada em estudo para fazer alterações na Previdência do trabalhador da iniciativa privada (INSS). O ministro admite, porém, que há pontos que precisam ser atacados: "O Brasil deve ser o único país que paga pensões ao deus-dará".
O ministro defendeu a substituição do fator previdenciário, que chamou de "Geni da Previdência", por outro mecanismo mais transparente. A seguir, trechos da entrevista:
Quando o sr. tomou posse foi criticado por servidores ao dizer que estava pegando um "abacaxi". Em três meses, quantos deles descascou?
Tive que ser realista e os servidores sabem muito bem que tenho o maior apreço pela Previdência Social e por eles. O que eu digo é que o abacaxi realmente existe. Mas não é que eu estou gostando!
A presidente Dilma já deixou claro que não haverá uma reforma previdenciária ampla, mas admite ajustes pontuais. Qual o ponto chave?
Existe um projeto na Câmara que trata do fundo de previdência complementar para o servidor público. Há uma grave distorção (entre a previdência do servidor público e a da iniciativa privada) e o País perdeu a capacidade, às vezes, de se indignar. Os servidores não chegam a um milhão de pessoas e a necessidade de financiamento é de R$ 52 bilhões. Por outro lado, a outra Previdência (INSS) tem uma necessidade R$ 42 bilhões para beneficiar 24 milhões de pessoas. Não responsabilizo os servidores. Para mim está muito claro que as vantagens atribuídas aos servidores no curso de suas carreiras, como as incorporações de vencimentos, acabaram gerando essa distorção. É essa despesa que o País não pode continuar a pagar. Por isso existe o projeto criando um fundo de pensão para os servidores. Hoje os servidores não têm teto de aposentadoria (no INSS é de R$ 3.689).
Guerra cobra fim de racha interno no PSDB
O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), abriu a reunião com os oito governadores tucanos hoje, em Belo Horizonte, com um alerta: "Não podemos disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos com o partido debilitado como está". Candidato único à sua própria reeleição, Guerra aproveitou a reunião dos comandantes do PSDB nos Estados para cobrar o fim do racha interno que, a seu ver, imobiliza a legenda. "Chamo a atenção dos governadores porque precisamos de mobilidade do partido que, neste momento, infelizmente, está sem unidade".
À despeito da boa avaliação obtida pela presidente Dilma Rousseff na pesquisa CNI/Ibope desta semana, com 73% de aprovação pessoal, o presidente do PSDB disse que daria nota mediana ao governo. "Um glorioso 5". Ele destacou que a presidente tem adotado um discurso que agrada a oposição, por ter "subscrito capítulos" do discurso do adversário tucano José Serra, no que se refere à política externa e à preocupação com a gestão. "Mas uma coisa são palavras e outra é a ação", destacou, desfiando um rosário de críticas ao governo que "promoveu cortes orçamentários sem fixar prioridades, aumentou seu poder de arbítrio para controlar o Congresso e opera com um ministério muito fraco". Tanto é assim, completou, que a inflação "está voltando como Serra disse na campanha".
Bastidores: Como Agnelli foi derrubado
Oficializada na quinta-feira pelo conselho de administração, a saída de Roger Agnelli da presidência da Vale foi comemorada no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda. O saldo final da disputa em torno do comando da mineradora revela que Agnelli, 51 anos, vai sair depois de um desgaste político sem precedentes imposto pelo governo.
Sai porque defendeu a empresa das ingerências partidárias, sai porque não teve "jogo de cintura" - como admitem até seus aliados -, mas sai sem que essas sejam as verdadeiras razões de sua queda.
Na semana passada, a reportagem do Estado ouviu dois diretores da Vale e um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro. Em comum, todos mantêm relacionamento direto com a mineradora e todos são ou foram (nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) intermediários de conversações e negociações da empresa com o governo.
Caso Bolsonaro põe imunidade em xeque
As declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre negros e homossexuais, consideradas racistas e homofóbicas, desencadearam na semana passada um ácido debate sobre os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar. Falou-se tanto em cassação de mandato quanto na possibilidade de não haver nenhuma punição possível. Tecnicamente, o deputado está protegido pelo artigo 53 da Constituição de 1988, segundo o qual os direitos de deputados e senadores são invioláveis em qualquer caso de manifestação de opinião. Mas segundo especialistas ouvidos pelo Estado existem três possibilidades de punição.
A primeira delas, a de maior consenso, fala na punição pela própria Câmara, se for constatado que ele violou regras do decoro parlamentar. A segunda ocorreria no caso de se aceitar a tese de que ele não estava no exercício da profissão quando fez as declarações ao programa humorístico CQC, da TV Bandeirantes. Nesse caso não disporia de imunidade e poderia ser levado à Justiça.
Disputa com gosto de ''déjà vu'' em SP
No dia 29 de março de 2004, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), à revelia de um resistente José Serra, candidato derrotado à Presidência em 2002, lançou-o na corrida pela prefeitura paulistana. "Eu acho que ele deve refletir, porque é a vontade da sociedade. Para um cargo majoritário, você não tem só as vontades pessoais", disse, então, Alckmin.
Sete anos depois, na semana passada, o mesmo governador de São Paulo reeditou sua fala. À revelia do mesmo resistente José Serra, desta vez candidato derrotado à Presidência em 2010, afirmou praticamente a mesma coisa, mas agora sobre a eleição de 2012: "Serra é o candidato mais expressivo. Dos nomes do nosso grupo, é o melhor".
A um ano e meio da eleição municipal, a principal aposta das cúpulas do PSDB e do PT, na eleição para prefeito da maior cidade do País, é a reedição do embate entre quadros tradicionais, evidenciando dificuldade de renovação política.
No PT, por exemplo, desde 98, a senadora Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) se revezam na corrida pelo Estado ou pela Prefeitura - com exceção de 2002, quando José Genoino foi candidato. Marta disputa a Prefeitura desde 2000.
MP intima diretor da ANA a depor sobre fraudes
O Ministério Público Estadual investiga supostas fraudes em contratos de obras e serviços da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. (Sanasa) em Campinas. Após análise de documentos relativos a 10 licitações realizadas nos últimos anos, a promotoria decidiu intimar para depor o ex-presidente da Sanasa Vicente Andreu Guillo, que hoje ocupa o cargo de diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e um nome importante na hierarquia da empresa de economia mista: Aurélio Cance Júnior, diretor técnico.
A promotoria quer ouvir, ainda, o atual presidente da Sanasa, Lauro Péricles Gonçalves, que foi prefeito de Campinas (1973-1976).
FOLHA DE S. PAULO
China que investir na produção de soja do país
A China, maior importador mundial de soja, está promovendo uma ofensiva em várias frentes e vários Estados no Brasil visando aumentar a presença na cadeia produtiva da cultura do país, informam Fabiano Maisonnave e Estelita Hass Carazzai.
A estratégia será concretizada por meio de acordos de exportação com os agricultores, investimentos em indústrias e compra de terras.
Levantamento da Folha mostra que empresários chineses estão em contato com cooperativas e governos de pelo menos seis Estados.
Elio Gaspari: PT planeja golpe regimental para impor voto de lista
O COMISSARIADO PETISTA planeja um golpe regimental para impor ao país um sistema eleitoral pelo qual os cidadãos perderão o direito de votar nominalmente em seus candidatos para a Câmara.
Com o apoio do DEM, o PT conseguiu que a comissão do Senado encarregada de estudar a reforma política recomendasse a instituição do voto de lista. Nele, as direções partidárias enumeram seus candidatos, deixando à patuleia apenas o direito de escolher uma sigla.
O resultado dessa votação quer dizer pouca coisa. O golpe está noutro lugar, escondido.
Imagine-se a seguinte situação: chega-se ao mês de setembro e os plenários da Câmara e do Senado apreciarão as propostas de emendas constitucionais necessárias para que se aprove a reforma.
Uma quer o distritão, outra, o distrital puro e uma terceira sugere um sistema misto. Para ser aprovada, qualquer emenda precisa de três quintos dos votos de cada Casa. Ou seja, o apoio de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores. Cada emenda vai a voto e nenhuma consegue passar.
Nessa hora aparece um sábio pedindo que se passe à votação dos projetos de lei existentes na Casa. Há um, instituindo o voto de lista. Já foi rebarbado duas vezes, mas não custa apreciá-lo de novo. Como se trata de lei ordinária, não demanda três quintos. Basta a maioria simples. No caso da Câmara, uma reforma política travada pela falta de 308 votos poderá ser aprovada por apenas 129 deputados, numa sessão de frequência mínima. Admitindo-se que o plenário esteja lotado, a mudança passa se tiver 257 votos. Os defensores da lista querem criar a figura do deputado sem eleitor. Tudo bem, mas devem se submeter aos três quintos exigidos pela Constituição. Senão, trata-se de uma tunga regimental para alavancar outra, cassando o direito dos brasileiros de escolher seus deputados pelo voto nominal e direto.
Ministros têm "bolsa aluguel" de até R$ 6.680
Os 37 ministros da presidente Dilma Rousseff começaram o ano com aumento de 148% no valor do auxílio-moradia a que têm direito. Desde fevereiro, podem pedir restituição de até R$ 6.680,78 para custear hospedagem.
O novo teto do aluguel corresponde a 12 salários mínimos e equivale a 25% da remuneração dos ministros.
Assim, quando em dezembro passado o Congresso equiparou rendimentos do primeiro escalão do governo ao salário mais alto do funcionalismo -R$ 26,7 mil-, automaticamente reajustou o valor do benefício, fixado anteriormente em R$ 2.600.
O auxílio-moradia não integra os R$ 26,7 mil. É um valor à parte, requisitado pelos ministros e depositado em sua conta bancária.
Além dos ministros, mais de 4.000 funcionários em cargos de confiança têm direito à indenização mediante apresentação de recibo. No ano passado, foram gastos R$ 41,5 milhões em aluguel e hospedagem.
PT quer país "a serviço" do partido, diz Aécio
Antecipando o tom que deve usar em pronunciamento no Senado na quarta-feira, Aécio Neves (PSDB-MG) acusou a presidente Dilma Rousseff de cometer um "escárnio contra a população brasileira" ao criar o Ministério da Micro e Pequena Empresa.
"O PT tem visão diferente da nossa. Nós achamos que um partido político tem de estar a serviço de um país. O PT acha que o país tem de estar a serviço de um partido", disse ao chegar para reunião com os oito governadores do PSDB, em Belo Horizonte.
Com o discurso de quarta-feira, Aécio pretende traçar a linha de atuação do PSDB na oposição a Dilma e marcar território como pré-candidato à sua sucessão.
A Folha teve acesso ao que ele chama de três "pilares" da fala: o resgate da herança do governo Fernando Henrique Cardoso, a exploração das "contradições do PT no governo" e os caminhos de seu partido para o futuro.
Duplicação da BR-101 tem suspeita de fraude
Uma das principais obras do PAC no Nordeste, a duplicação da rodovia BR-101 virou foco de irregularidades e desvios de verba, apontam investigações da PF (Polícia Federal) e do TCU (Tribunal de Contas da União).
Dos cinco trechos entregues pelo governo federal a empreiteiras, três apresentam indícios de fraude, pagamento de propina e má execução de serviços que podem comprometer a durabilidade e a segurança da rodovia.
A obra se arrasta desde 2005 e deve custar R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. O trajeto tem 398 km e corta três Estados: RN, PB e PE.
Procuradas, as construtoras negaram irregularidades ou não quiseram se pronunciar. A direção do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) disse colaborar com as apurações.
Ex-juiz Rocha Mattos cumprirá fim da pena em regime aberto
O ex-juiz federal João Carlos da Rocha Mattos conseguiu anteontem a progressão para o regime aberto. Ele foi solto do Centro de Detenção Provisória do Belém, em São Paulo, na madrugada de sexta para sábado.
O ex-juiz estava detido desde 2003, acusado de envolvimento em esquema de venda de sentenças judiciais desmontado pela Operação Anaconda, da Polícia Federal. Ele foi condenado a um total de 15 anos e dez meses de prisão. Em 2008, já havia obtido o direito ao regime semiaberto.
Pracinhas foram à 2ª Guerra sem preparo
"Não precisa! Os meus meninos tomam aquela merda no grito!"
A frase é atribuída ao general Zenóbio da Costa, um dos comandantes da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra, sobre a necessidade de mais treinamento e planejamento para ir lutar contra os alemães.
A posição ajuda a explicar a falta de preparo dos brasileiros que foram lutar na Itália, conforme novas pesquisas estão revelando.
Elas mostram que os pracinhas mal sabiam usar as armas que recebiam do exército americano. Deixam claro, ainda, que os aliados chegaram a ficar preocupados com a pouca experiência dos colegas que chegavam para lutar na guerra.
"No Brasil, achava-se que uma semana no mato equivalia a treinamento de combate. Muitos acreditavam que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados bastasse para enfrentar o Exército alemão", diz o historiador Cesar Campiani Maximiano, da PUC-SP.
O GLOBO
100 dias: Dilma descumpre promessas mas distende o clima e ganha apoios
Eleita na onda da popularidade de Lula, a presidente Dilma Rousseff chegará aos cem dias de governo com o desafio de resolver dois problemas da herança de seu antecessor: inflação em alta e gastos excessivos. Para isso, já descumpriu promessas de campanha, como a de não privatizar e não fazer ajuste fiscal - em fevereiro, anunciou corte de R$ 50 bi no Orçamento. Dilma mudou o estilo no Planalto, com um perfil mais técnico de administrar, mas ainda repete erros como o de lotear cargos entre aliados. Mostrou força na negociação do salário mínimo e ampliou apoios no Congresso, além de distender o clima com a oposição, como se viu nos dois encontros que já teve com o ex-presidente Fernando Henrique. Na política externa, até agora, a guinada foi ainda mais visível.
O capital político ainda intacto, a folgada maioria parlamentar e um estilo firme na condução da máquina deram à presidente Dilma Rousseff, nesses primeiros cem dias a serem completados no próximo domingo, a segurança para tentar fazer um governo diferente, com marca própria. Mas não muito diferente. Repetiu vícios de seus antecessores no Palácio do Planalto ao fazer nomeações de políticos para cargos técnicos e passou por cima de promessas feitas no calor da campanha eleitoral, como a de que não faria um ajuste fiscal. Por outro lado, surpreendeu ao promover a distensão política e ampliar apoios no Congresso, ao mesmo tempo em que enfrentou e desmontou lobbies de parlamentares e sindicalistas, como o do salário mínimo maior.
Na economia, mesmo com o fantasma da inflação rondando e o dólar ainda derretendo, o clima geral é de confiança, com as restrições de praxe. Há avaliação positiva de que a presidente, nesses primeiros três meses de governo, deu provas de que se concentra em resolver problemas que se agravaram na reta final do governo Lula e que ajudaram na sua eleição: para reduzir gastos públicos elevados e conter a inflação, fez um corte forte no Orçamento, de R$50 bilhões.
Na política externa, fez gestos e ações que indicam correção de rumo, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos e ao Irã, aproximando-se mais dos Estados Unidos. No campo social, ainda não lançou seu grandioso programa de erradicação da miséria - meta que ela própria já admitiu que terá dificuldade para cumprir até 2014 -, mas promoveu medidas setoriais.
Os sem audiência
Em três meses de governo, seis dos 37 ministros não tiveram audiência individual com a presidente Dilma Rousseff, segundo levantamento feito pelo GLOBO na agenda publicada na página da Presidência da República na internet. São eles: Jorge Hage (CGU), Pedro Novais (Turismo), Mário Negromonte (Cidades), Garibaldi Alves Filho (Previdência), Wagner Rossi (Agricultura) e Moreira Franco (Assuntos Estratégicos). Nesse grupo, quatro são filiados ao PMDB. Negromonte é do PP, e Hage não tem partido. A frequência em audiências com a presidente pode ser sinal de prestígio - do próprio ministro ou da pasta.
Na outra ponta, dos mais frequentes, estão ministros que tiveram mais de duas audiências por mês com a presidente. O seleto grupo é integrado por Guido Mantega (Fazenda), Antonio Palocci (Casa Civil), Antônio Patriota (Relações Exteriores), Edison Lobão (Minas e Energia), Fernando Haddad (Educação), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Padilha (Saúde). Coincidência ou não, sete deste grupo de nove ministros são petistas.
Agenda pública não registra todas as reuniões
O ministro da CGU - que faz parte da estrutura da Presidência - tem uma condição semelhante à dos ministros palacianos. Algumas vezes, Jorge Hage é chamado ao gabinete presidencial, mas seu nome não é registrado na agenda pública. Segundo a assessoria da CGU, o ministro já teve audiências com a presidente, mas elas não foram incluídas na agenda. Embora a agenda de Dilma registre quatro encontros com o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, ele também é chamado com frequência ao Planalto sem que haja retificação nos compromissos da presidente.
Moreira Franco disse que não pediu audiência e está aguardando ser chamado pela presidente para tratar de assuntos da sua pasta. O ministro não vê motivação partidária no fato de ainda não ter tido audiência individual com Dilma:
- Isso é natural. A presidente tem uma rotina que não é só despacho administrativo com ministros. Ela tem um plano de trabalho para seguir. Eu vou esperar que ela me chame, a não ser que ocorra alguma coisa urgente. Agora, não há nenhuma questão partidária envolvida.
Oposição amarga período de crise
A promessa do PSDB e do DEM de construir uma oposição forte, uma agenda propositiva para o país e uma ação fiscalizadora do governo está restrita, até agora, ao plano do discurso. Enquanto a presidente Dilma Rousseff completa os primeiros cem dias do seu governo com uma alta aprovação, a oposição amarga no período um desempenho marcado por crises internas e falta de unidade. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), anunciado como o principal líder oposicionista, manteve-se distante da linha de frente dos debates políticos.
Na discussão sobre o reajuste do salário mínimo no Congresso, o primeiro teste da oposição neste ano, ficou clara a fragilidade e a dificuldade de articulação entre os dois principais partidos oposicionistas.
PSDB e DEM, já em desvantagem numérica em relação à base governista, não conseguiram construir um discurso único e marcharam separadamente. O PSDB defendeu a proposta de R$600 para o mínimo, e o DEM, de R$560. Venceu o governo com R$545.
Lula cria empresa, a LILS Palestras
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou empresário. Aos 65 anos, o ex-metalúrgico abriu sua primeira empresa para oficializar sua mais recente profissão, a de palestrante. A LILS Palestras, Eventos e Publicações Ltda foi constituída na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) no dia 18 de março, em sociedade com seu amigo e assessor Paulo Okamotto. O ex-presidente deve criar ainda o Instituto Lula, para que possa receber verbas de empresas e assim desenvolver seus projetos.
O capital declarado na abertura da LILS, de R$100 mil, é menor que o preço médio de cada palestra, entre R$150 mil e R$200 mil. O endereço é o apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo. Uma dessas palestras foi realizada no mês passado para uma indústria de eletrônicos, a LG, ao custo de R$150 mil. Esta semana, o ex-presidente embarca para os Estados Unidos para outra atividade remunerada, desta vez em um encontro organizado pela Microsoft, em Washington.
Três filhos do ex-presidente têm negócios de marketing e tecnologia
Antes mesmo de o ex-presidente Lula iniciar sua "vida de empresário", seus três filhos abriram empresas em São Paulo. A mais recente é a LFT Marketing Esportivo, aberta em 3 de março por Luis Claudio Lula da Silva com mais dois sócios e capital de R$100 mil. Os sócios, com 10% cada, são Fabio Tsukamoto e Otavio Portugal Linhares Ramoso. No ano passado, eles abriram com Luis Claudio a ZLT 500, que foi vendida em março a outros empresários.
Luis Claudio chegou a ser sócio do irmão Fabio Luis, por alguns meses, em duas outras empresas abertas em agosto do ano passado e já fechadas.
Mas é Fabio o filho mais bem-sucedido no mundo dos negócios. Com os filhos do ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar, Fabio tem, desde 2004, as empresas Gamecorp, G4 e BR4. Foi com essas empresas que "Lulinha" se tornou sócio de empresas parceiras do governo, como a Telemar (hoje Oi).
Já Sandro Luis Lula da Silva é sócio da FlexBR Tecnologia, aberta em junho de 2009, com capital de R$20 mil. A empresa desenvolve programas de computador.
De doméstica a ministra do Tribunal do Trabalho
Quando a leve faixa vermelha e branca destinada ao grupo de 27 ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST) cingiu seu ombro direito, Delaíde Alves Miranda Arantes não podia mais fugir do peso da responsabilidade. O sorriso fácil e o vasto currículo - que inclui 30 anos como advogada trabalhista, duas pós-graduações e três livros publicados - são incapazes de transparecer as dificuldades que ela driblou para ser empossada ministra no último dia 24. Aos 58 anos, Delaíde é uma ex-empregada doméstica.
Até a adolescência, ela viveu na roça, como se refere a Pontalina, cidade de 17 mil habitantes a 120 km de Goiânia (GO). Foi lá que, aos 16 anos, Delaíde trabalhou pela primeira vez numa casa de família, para custear os estudos, já que os pais não tinham condições de arcar com a educação de nove filhos.
- Como fui criada na roça, era habituada a fazer trabalho de casa - conta a ministra, hoje casada e mãe de duas filhas.
O teorema de Atnágoras
Com 39 anos, Atnágoras Lopes saiu dos canteiros da construção civil do Pará para ser uma terceira via no sindicalismo, aproveitando-se do comprometimento da CUT com o governo. Filiado ao PSTU, lidera a Conlutas e defende a independência das centrais.
CORREIO BRAZILIENSE
Quando envelhecer é um castigo
O brasileiro vive cada vez mais.
Porém, ao contrário do que se imagina, a notícia nem sempre é boa para ... quem envelhece. Atualmente, para cada 100 crianças de até 14 anos no país, há 24 idosos. em 2050, serão 172. Na série que o Correio publica de hoje a quarta-feira, a repórter Renata Mariz traça o retrato de um país que não sabe lidar com essa questão. e mostra como o descaso do estado e da sociedade, muitas vezes da própria família, transformam em um inferno a vida de quem deveria estar desfrutando da longevidade. O caso do viúvo Heleno Mendes da silva (camiseta branca), 88 anos, é emblemático. Ele nunca tinha pensado que um dia sairia de casa Mas denúncias de que sofria maus-tratos fizeram com que fosse parar num asilo onde afirma se sentir melhor do que na companhia dos familiares. "Pelo menos aqui zelam por mim", resigna-se.
Tucanos vão para o ataque
Ao lado de oito governadores do PSDB, o senador Aécio Neves avisa que o partido vai agir com firmeza contra os "desmandos" do Planalto.
Fonte: Congressoemfoco