Publicado em 25 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
Eduardo Laguna e José Maria Tomazela
Estadão
Ao mesmo tempo em que desocupavam a área da Embrapa Semiárido, invadida desde o último domingo, 16, em Petrolina, sul de Pernambuco, integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) invadiam, neste fim de semana, três novas áreas na Bahia. Com essas novas ações, a promessa do MST de encerrar o “Abril Vermelho” após as negociações com o governo acabaram ficando só na palavra.
O Planalto já cedeu cargos, prometeu verbas e a arrecadação de terras para assentar famílias do movimento, mas as invasões, que assustam o agronegócio e ameaçam a paz no campo, segundo as lideranças do setor, continuam.
MAIS OCUPAÇÕES – Conforme o movimento, a primeira ação foi a reocupação da fazenda Mata Verde, no município de Guaratinga, no extremo sul do Estado, com a entrada de 118 famílias na área, na tarde de sábado, 22. A mesma propriedade tinha sido invadida em abril do ano passado, mas a Justiça mandou retirar os invasores.
Outras duas áreas foram invadidas na madrugada deste domingo, 23. Na região do Salitre, em Juazeiro do Norte, cerca de 200 famílias entraram em uma fazenda de 4 mil hectares que o MST diz ser de terras improdutivas.
Já na região do meio sul baiano, cerca de 200 famílias ocuparam a fazenda Jerusalém, no município de Jaguaquara. Em nota, o MST na Bahia informou que reivindica essas áreas para a reforma agrária e que a ação faz parte da jornada nacional de lutas em defesa da reforma agrária. Na última quinta-feira, 20, ao fazer um balanço da jornada, o MST sinalizou que não haveria novas invasões este mês.
PROMESSA VAZIA – “Esta jornada serviu para reafirmarmos nosso compromisso com a luta como uma forma de negociação. E o apoio ao governo, ao presidente Lula, à democracia e às lutas pelo programa de mudanças sociais que venceu esta eleição”, disse Ceres Hadich, da direção nacional do MST.
No mesmo dia, após ser recebido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em São Paulo, o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, disse que não havia motivos para o MST criar “constrangimento com o governo Lula”, como são as invasões.
“O MST é parceiro do governo. Está com uma agenda de produção de alimentos. Mas nós achamos justo que, no mês de abril, o MST possa apresentar a nossa pauta, que é o assentamento imediato de 60 mil famílias acampadas, na sua maioria, desde o governo Dilma (Rousseff)”, afirmou.
REFÉM DOS SEM-TERRA – As novas invasões na Bahia acirram a crise no governo Lula, decorrente das ações do MST. A avaliação é de que o governo está se tornando refém dos sem terra. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já classificou a ação do MST como “crime” e “inaceitável” em sua rede social.
Na tentativa de conter o “aliado”, o governo nomeou 19 superintendentes regionais do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com nomes indicados ou simpáticos ao MST. Também já se comprometeu a aumentar as verbas destinadas à arrecadação de terras para a reforma agrária.
A desocupação da área de pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária começou no sábado e foi encerrada na manhã deste domingo, 23. De acordo com a Polícia Militar, os sem terra desmontaram os barracos instalados na propriedade pública e deslocaram-se para uma área cedida para o acampamento provisório das 600 famílias envolvidas na ocupação, próxima à BR-428. A PM acompanhou a saída.
ORDEM JUDICIAL – O despejo dos invasores havia sido determinado na quarta-feira, 19, pela justiça de Petrolina. No dia seguinte, um oficial da justiça realizou a intimação das lideranças do movimento para a desocupação em um prazo de 48 horas. A Embrapa confirmou que a saída dos sem terra foi iniciada “de forma tranquila”.
Já o MST disse, através da assessoria, que a área foi desocupada porque o governo federal se comprometeu a atender as reivindicações do movimento, incluindo a compra de cinco propriedades entre os municípios de Petrolina e Lagoa Grande para o assentamento das famílias.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), criticou as invasões. “Na hora que o movimento invade uma área da Embrapa, uma sede do Incra e propriedades produtivas, ele perde apoio político. O momento exige uma reflexão do movimento e um processo mais acelerado de políticas públicas no setor agrário”, afirmou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O país tem fazendas improdutivas em todos os Estados, mas o governo não consegue fazer a reforma agrária. O resultado é esse que estamos vendo. Ninguém se dá ao respeito, ninguém respeita ninguém. (C.N.)