Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

sábado, julho 02, 2022

Por que oposição no Senado votou a favor da PEC Eleitoral, que dá ‘cheque em branco’ para Bolsonaro




Parlamentares fizeram duras críticas, mas não tiveram coragem de figurar em lista contra a proposta que aumenta verbas públicas para programas sociais, mesmo dando vantagem eleitoral ao presidente

Por Manoel Ventura, Camila Zarur e Alice Cravo 

BRASÍLIA - O Senado aprovou ontem, em dois turnos, a proposta de emenda à Constituição (PEC) Eleitoral, que institui até o fim do ano um estado de emergência no Brasil. O objetivo é viabilizar a criação e a ampliação de uma série de benefícios sociais a três meses das eleições.

A aprovação dessa PEC em tramitação acelerada, segundo juristas, abre um precedente perigoso e irreversível, pois pode permitir que qualquer pretexto seja usado tanto para driblar a lei eleitoral como para afrontar a Constituição, criando um “vale-tudo eleitoral”. Além disso, a medida provoca um impacto bilionário nas contas públicas.

Senadores da oposição admitem os riscos da PEC e que ela dá um "cheque em branco" para Bolsonaro em plena corrida eleitoral. O presidente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e aposta nos gastos públicos para tentar superar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança. Mesmo assim, praticamente todos os senadores da oposição votaram a favor da PEC.

No primeiro turno, a PEC foi aprovada por 72 votos a favor e 1 contrário. No segundo turno, por 67 votos a favor e 1 contrário. Até mesmo a senadora Simonte Tebet (MDB-MS), pré-candidata à Presidência da República, votou a favor, apesar de criticar o texto da PEC como feito "na coxa".

Tasso Jereissati (PSDB-CE), cotado para ser vice de Tebet, também votou a favor. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos mais aguerridos oposicionistas, votou a favor no primeiro turno e ausentou-se no segundo. O único voto contra foi o do senador José Serra (PSDB-SP).

Em uma rede social, Serra justificou o voto, afirmando que a PEC é uma bomba fiscal. “Essa PEC viola a Lei de Responsabilidade Fiscal e fura o teto de gastos”, escreveu.

“O pretexto foi defender quem mais precisa, mas isso deveria ser feito de outra forma”, acrescentou.

O "pretexto" citado por Serra, a ampliação de programas sociais, acabou funcionando como uma armadilha para a oposição, como observaram os colunistas do GLOBO Míriam Leitão e Álvaro Gribel.

Os senadores oposicionistas preferiram ceder à decretação de um estado de emergência previsto na PEC do que figurar entre parlamentares que barraram aumento de benefícios.

— O governo está constrangendo senadores. Quem é o senador que vai ficar contra esses benefícios num país que tem milhões passando fome? — avaliou a advogada Juliana Vieira dos Santos, mestre em Direito pela Harvard Law School e doutora em Teoria do Estado pela USP, em entrevista ao GLOBO ontem, antes da votação.

Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e por duas vezes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro aposentado Carlos Velloso considerou a PEC "inconstitucional". Em entrevista ao GLOBO, afirmou que a proposta é uma "afronta à democracia" por ameaçar os princípios de isonomia nas eleições:

— É preocupante que o Legislativo brasileiro assuma a responsabilidade, o ônus, de aprovar uma PEC que pode ter consequências tão graves.

Impacto bilionário nas contas públicas

O texto segue agora à análise da Câmara, onde se espera que seja votado na próxima semana. Durante a votação, o custo das medidas subiu de R$ 38,7 bilhões para R$ 41,2 bilhões, com a inclusão de um benefício mensal de R$ 200 para taxistas e ampliação do programa Alimenta Brasil.

Os benefícios que somam R$ 41,2 bilhões, aprovados só até o fim do ano e pagos fora das regras fiscais incluem aumentar o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, além de mecanismo para zera fila do programa, ampliação do vale-gás, que passa a ser equivalente a um botijão de 13kg a cada dois meses, criação do vale-caminhoneiro no valor de R$ 1 mil por mês, gratuidade do transporte público para maiores de 65 anos, subsídios para o etanol, criação de benefício mensal de R$ 200 para taxistas e ampliação do programa Alimenta Brasil.

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) criticou a PEC, mas acabou votando a favor:

— Estamos quebrando a Lei de Responsabilidade Fiscal, a regra de ouro, o teto de gastos, a Lei Eleitoral. Estamos quebrando muita coisa, estamos abrindo uma exceção enorme — afirmou, acrescentando que não tinha como ser contra, pois se sentiria um “monstro” por votar contra medida que auxilia quem tem fome.

Senadores da oposição até tentaram tirar do texto a instituição de um estado de emergência para driblar a lei eleitoral, mas não conseguiram. E mesmo assim votaram a favor. Não faltaram discursos críticos ao governo, mas votos contra.

— Estado de emergência é coisa muito séria para ficar se decretando a cada momento. Porém, isso não pode pesar mais que os benefícios. Mas usar estado de emergência é intolerável — disse Jean Paul Prates (PT-RN), outro que votou a favor sem concordar com o texto.

A legislação atual proíbe concessão e criação de benefícios no ano do pleito, exceto em casos de calamidade ou emergência. O objetivo é evitar que governantes abram o caixa antes da eleição em busca de voto. Para contornar a lei, o texto prevê o estado de emergência relacionado ao preço dos combustíveis. Para juristas, trata-se de ação inconstitucional.

Zenaide Maia (PROS-RN) afirmou estar consciente dos equívocos da PEC, mas também votou contra sob o argumento de que não poderia impedir ampliação de benefícios em meio à crise que afeta os mais pobres:

— É claro que nós votamos a favor da PEC, porque quem tem fome, tem pressa. Essa PEC é uma maneira de burlar a lei eleitoral.

Apesar de a PEC ser patrocinada pelo governo, a autoria formal do texto é de parlamentares. Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) foi o relator. Bolsonaro comemorou a aprovação da medida com a ajuda da oposição:

— Auxílio Brasil vai de R$ 400 para R$ 600, tem o auxílio-caminhoneiro de R$ 1 mil. Sei que é pouco, sei que caminhoneiro gasta bastante combustível, mas é uma ajuda que nós estamos dando aqui, e vamos dobrar também o valor do vale-gás. E vem mais coisa sobre redução de impostos de combustíveis nesta PEC.

Durante a discussão, o governo aceitou incluir benefício mensal de R$ 200 mensais para taxistas, limitado a R$ 2 bilhões. Os motoristas de aplicativo não serão beneficiados. Bezerra disse que as medidas serão pagas com receitas extraordinárias, como a privatização da Eletrobras e dividendos de estatais (Petrobras e bancos públicos).

O Globo

Em destaque

Unicorp-TJBA: universidade avança em 2024 rumo ao interior com aberturas de polos avançados

  Foto: Divulgação Feira de Santana, Vitória da Conquista, Ilhéus, Juazeiro, Porto Seguro, Luís Eduardo Magalhães e Salvador são as sedes do...

Mais visitadas