Publicado em 1 de julho de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Em matéria de reflexão junto ao eleitorado feminino, não poderia ter sido pior o episódio causado pelo ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães e as várias denúncias de assédio sexual que tornaram impossível a sua permanência no cargo. Some-se a isso, o fato de Bolsonaro ter perdido na Justiça a ação contra ele movida pela jornalista Patrícia Campos Mello.
A repercussão foi enorme do caso do processo desencadeado por Pedro Guimarães, acusado por diversas funcionárias da CEF. Na imprensa, as reportagens da Folha de S. Paulo e do O Globo foram arrasadoras contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal e o seu reflexo sobre o governo Bolsonaro. Na TV Globo, na noite de quarta-feira e na manhã de ontem, e na GloboNews nos mesmos horários, as condenações foram cerradas contra o comportamento de Guimarães.
CONDENAÇÃO – A quinta-feira não poderia ter sido pior para Bolsonaro, pois além do episódio Pedro Guimarães, na véspera, por quatro votos a um, o Tribunal de Justiça de SP condenou Bolsonaro por ofensa à repórter Patrícia Campos Mello, da Folha, por insinuações sexuais descabidas e extremamente condenáveis, não só pelo machismo de seu conteúdo, mas por terem sido pronunciadas por um presidente da República, numa linguagem inadequada para qualquer pessoa, sobretudo para o chefe do executivo do país.
Bolsonaro perdeu votos em grande quantidade nesta semana que talvez sejam irrecuperáveis a poucas semanas das eleições presidenciais. Na tentativa de obter uma recuperação de votos perdidos, a maioria do governo no Senado tenta aprovar uma emenda constitucional que é um tremendo absurdo.
Trata-se de emenda que passa a permitir concessão de auxílios e de vantagens aparentemente financeiras a segmentos de renda baixa da população, portanto do eleitorado. A emenda acoplada à da redução do ICMS dos combustíveis, inclui o aumento do Auxilio Brasil de R$ 400 para R$ 600, e do Auxílio Caminhoneiro de R$ 1000 até o fim deste ano deixando claro que o tempo de concessão é restrito, mas suficiente para tentar cooptar votos para as urnas.
CONTRADIÇÃO – A emenda constitucional é contraditória, pois como se pode justificar emendar uma Carta Magna com a duração de apenas cinco meses, de julho a dezembro? Não faz sentido. É um erro atrás do outro. Fechando o ciclo contrário ao governo, destaca-se também o problema da criação da CPI para o escândalo dos pastores do MEC, cujo número de assinaturas foi alcançado e a decisão agora está nas mãos de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal.
Pacheco anunciou que dará resposta no início da próxima semana. Mas, dificilmente poderá fazer o jogo que o governo deseja, de embaralhar as CPIs existentes para reduzir o impacto da questão no MEC. Em relação à CEF, Bolsonaro resolveu nomear para substituir Pedro Guimarães, a economista Daniella Marques. Foi indicada para o cargo pelo ministro Paulo Guedes que assim aumentou o seu espaço na administração federal.
TRÊS BASES – Tanto é assim, que além de Daniella Marques, ele tornou-se também responsável pela indicação de Adolfo Sachsida, também da sua equipe, para ministro de Minas e Energia, e também pela nomeação de Caio Paes de Andrade para presidir a Petrobras. Guedes reúne então três bases para as ações do governo. As três nomeações devem ter causado reação contrária por parte do Centrão.
O Centrão não conseguiu indicar a deputada Tereza Cristina para vice-presidente de Bolsonaro, que preferiu manter o general Braga Netto no posto, vale frisar. Braga Netto não acrescenta votos, mas como observou Fernando Gabeira, sob o ângulo de pensamento de Bolsonaro, Braga Netto fortalece uma ação contestadora do resultado das urnas.
CONTRA O ASSÉDIO – Muito bom o artigo da jornalista Malu Gaspar, O Globo de ontem, atacando fortemente a atuação de Pedro Guimarães assediando de forma repugnante mulheres que trabalham na CEF. O responsável pelo assédio se foi, o respeito à condição humana e ao direito das mulheres predomina.
Malu Gaspar encerra o seu artigo dizendo que o caso Pedro Guimarães demonstrou que há forças na sociedade brasileira para resistir a quem insiste em empurrar o país para o atraso; força que vem de milhões de mulheres que trabalham e muitas vezes sustentam famílias inteiras sozinhas.
Mulheres que sabem o que é ser apalpada em trens e ônibus lotados, enfrentando o assédio masculino, e que já entenderam que muitas vezes não há opção a não ser falar bem alto se quiserem ser ouvidas. Malu Gaspar acentua ainda a sua inclusão no problema agressivo, dizendo que não há opção a não ser falar bem alto “se quisermos ser ouvidas”, concluindo que o voto é só uma consequência.