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quarta-feira, junho 01, 2022

Como moeda russa teve maior valorização do mundo durante a guerra




Contrariando todas as expectativas, a moeda russa se tornou a moeda de melhor desempenho do mundo em relação ao dólar até agora este ano, superando até mesmo o real brasileiro — que também tem se saído bem.

Por Cristina J. Orgaz

Nem mesmo as sanções econômicas mais duras da história moderna impostas por EUA e Europa em resposta à invasão da Ucrânia foram capazes de conter a ascensão da moeda russa.

Apenas dois meses depois que o valor do rublo caiu drasticamente para menos de um centavo dos EUA, a moeda deu uma virada surpreendente.

Em 7 de março a moeda atingiu a mínima histórica de 0,007 rublos por dólar. Mas agora a moeda russa se valorizou em aproximadamente 15% em relação à moeda americana e está sendo negociada em torno de 0,016.

O motivo, segundo os especialistas, são os rígidos controles de capital impostos pelo Kremlin que — quando a guerra com a Ucrânia começou — provocaram filas de russos nos caixas eletrônicos em busca de dólares.

A proibição de cidadãos russos de venderem rublos para comprar moedas estrangeiras foi descrita pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, como manipulação da moeda.

Esses controles serviram para congelar grande parte das reservas cambiais da Rússia no momento em que o país mais precisava desses recursos, tanto para compensar o êxodo de investimentos e capital quanto para financiar a invasão militar da Ucrânia, que tem sido mais longa do que o inicialmente planejado pelo Kremlin.

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Os casos de Turquia e Argentina

O que é inesperado nessa recuperação é que outros países, como Turquia ou Argentina, que impuseram medidas semelhantes, tiveram resultados completamente opostos — com consequências desastrosas para suas economias.

Ambas as moedas atingiram mínimas recordes e ainda hoje estão lutando para se recuperar.

Após tomar conhecimento das sanções internacionais, o Kremlin passou a adotar medidas inéditas para as gerações que não viveram o tempo da União Soviética.

"O banco central russo foi forçado a aumentar drasticamente as taxas de juros e aumentar os controles de capital em resposta às sanções ocidentais", disse Ben Laidler, estrategista de mercados globais da plataforma de investimentos eToro, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

"As taxas de juros mais que dobraram para 20%. Os exportadores russos foram forçados a converter 80% de sua renda externa em rublos, e as pessoas ficaram limitadas em termos de quanto poderiam transferir para o exterior", diz.

Uma sanções que mais impactou a Rússia foi o congelamento de contas no exterior.

Outra medida de defesa do moeda russa foi exigir que compradores de gás natural pagassem em rublos, em vez de dólares ou euros.

Retaliação estratégica contra a Europa

Os países europeus são fortemente dependentes do gás russo e, apesar da busca por fontes alternativas de energia, o projeto da União Europeia de interromper o fornecimento da Rússia levará anos para ser concluído.

A Alemanha, um dos maiores clientes da estatal russa de gás Gazprom, já concordou em pagar em rublos junto com outros grandes compradores europeus.

"A decisão da Rússia é uma retaliação estratégica contra a UE, aproveitando seu poder como principal fornecedor de gás natural para a Europa. O Velho Continente recebia cerca de 40% de seu gás da Rússia antes da guerra na Ucrânia", explica Levon Kameryan, analista da Scope Ratings.

Por fim, os preços mais altos das commodities também ajudaram muito. Petróleo mais caro significa que os clientes da Rússia agora terão que pagar mais dólares por barril e, portanto, precisam de mais rublos.

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Soluções de curto prazo

No entanto, especialistas apontam que os três fatores — controles rígidos de capital, taxas de juros mais altas e preços mais altos das commodities — só conseguiram atenuar o que será um ano problemático para a economia russa.

"O rápido aumento do rublo é um problema para exportadores e alguns produtores domésticos, aumentando a pressão das sanções. Também significa menos receita para o orçamento", diz Scott Johnson, economista que cobre a Rússia para a Bloomberg Economics.

A recuperação do rublo poderia ser vista como um termômetro para saber se as sanções estão funcionando?

Para Johnson, "de fora da Rússia é tentador ver a recuperação do rublo como um sinal de que as sanções não estão surtindo o efeito desejado. Mas isso não é totalmente correto".

"A valorização foi em grande parte impulsionada pela conversão obrigatória das receitas de exportação e outros controles de capital, o que limita o fluxo de caixa do exterior", explica.

"O rublo traça uma imagem precisa da balança de pagamentos, mas não da economia como um todo, onde as perspectivas são mais sombrias", diz ele.

Laidler concorda.

"A alta do rublo pode ter acabado agora. A força da moeda tornou as exportações russas menos competitivas e as sanções mais rígidas dos EUA aumentaram as chances de um calote da dívida."

BBC Brasil

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