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sábado, agosto 28, 2021

Bernardo Mello Franco e Vera Magalhães iluminam o verdadeiro retrato de Paulo Guedes


Charge do Duke (domtotal.com)

Pedro do Coutto

Na edição desta sexta-feira de O Globo, os colunistas Bernardo Mello Franco e Vera Magalhães iluminaram o verdadeiro retrato do ministro Paulo Guedes, um homem que custou a ser desmascarado, mas cujo processo envolvendo a sua imagem real passou a se desenrolar com nitidez absoluta, sobretudo a partir dos artigos a que me refiro.

Bernardo Mello Franco aconselha Paulo Guedes antes de debochar dos que não podem pagar a conta de luz elétrica, a comparecer ao supermercado e ver os aumentos de preços. Vera Magalhães lembra a Paulo Guedes que chorar em relação a uma situação desagradável ainda é grátis no país do governo Jair Bolsonaro.

FARSANTE – Para mim, Paulo Guedes tornou-se o maior farsante da economia brasileira, pelo menos de 1955 aos dias de hoje, período em que acompanho as questões políticas que envolvem o Brasil.

Paulo Guedes, lembra Bernardo Mello Franco, já debochou de várias categorias profissionais, e depois de sua frase infeliz (“não adianta ficar chorando”), tenta se desculpar mais uma vez, dizendo a frase de sempre: “o que eu disse foi retirado de um contexto”. A que contexto Paulo Guedes se refere? A um contexto imaginário, respondo.

Paulo Guedes olhando a sua imagem no espelho do tempo se vê como um ser humano diferente do que aquele que realmente é. Durante mais de dois anos, como na figura do Posto Ipiranga, foi visto também assim com a imagem idealizada pelo presidente Bolsonaro. De repente, a luz sobre os cristais revelam a sua inadaptação absoluta para a política, sobretudo porque despreza os assalariados e as assalariadas do país, e de forma consciente atribuiu a todos o seu modo de pensar. Uma falsificação.

REALIDADE SOCIAL – O ex-ministro da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho e da Previdência Social, cargos que acumulou impossivelmente como ministro da Economia, revela desconhecer a realidade social brasileira, realidade sobre a qual repousa o direito do voto e a capacidade de escolher governantes.

O preço da energia elétrica não é o mesmo para ele e para o morador de uma favela do Rio. Porém o peso do voto na urna é o mesmo. Ele não pensou nunca nisso. Mas Bolsonaro começou a pensar agora. Com Paulo Guedes, para mim, é impossível qualquer governo dar certo, principalmente porque ele despreza a grande maioria do povo que vive na pobreza, enfrenta o desemprego, sobrevive ao transporte precário e ainda por cima arca com os reflexos de uma política super conservadora  que não tem mais lugar nos dias de hoje a não ser nos regimes da extrema-direita. Não cito as ditaduras dos regimes da extrema-esquerda porque esta desapareceu com a capitalização da China e da Rússia.

A questão das tarifas de energia elétrica, consequência da crise hídrica, é muito mais ampla do que calculam Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Não se trata apenas de fazer com que os telespectadores diante da televisão ou do computador desliguem uma ou outra lâmpada que ilumina o apartamento.

PERFIL DO CONSUMO – O consumo de energia elétrica, seja ela hídrica ou movida a óleo, não se limita ao consumo domiciliar. Trabalhei 15 anos em Furnas e conheço o perfil do consumo. Em números redondos é o seguinte: 60% referem-se ao consumo industrial, 20%  ao consumo comercial e de serviços e o consumo domiciliar, este sim, outros 20% dividido em partes desiguais por 50 milhões de residências do país.

O reflexo do aumento de tarifas atinge todo o complexo econômico brasileiro. Não é uma questão de um ar refrigerado ligado mais tempo do que outro, ou de uma porta entreaberta de geladeira gerando mais consumo, ou de um ventilador fazendo circular o ar menos pesado do calor que tem atingido o Rio nas últimas semanas.

SEM SAÍDA – É muito mais amplo o problema. A crise hídrica forçada pela redução de chuvas poderia ter sido enfrentada através da expansão da rede de transmissão capaz de unir as áreas mais abastecidas de água das que são menos atendidas. Se o governo Bolsonaro conta com homens como Paulo Guedes para traçar as linhas econômicas, então ele não terá saída para desafio algum  da política e da economia, questões que caminham juntas eternamente.

O governo Bolsonaro desabou. A imagem de Paulo Guedes à frente de um imaginário Posto Ipiranga também desapareceu do espelho. Como definiram com exatidão Bernardo Mello Franco e Vera Magalhães no Globo de ontem.

CABUL – As reportagens internacionais publicaram ontem, como está no O Globo, reflexos negativos para a popularidade do presidente Joe Biden, consequência do episódio que culminou com a retirada das Forças Americanas do Afeganistão.

Mas, examinando-se friamente a questão, verifica-se, como definia o senador Juracy Magalhães, que a política  também é a arte do possível.  Atos heroicos, como aqueles destacados por personagens eternos, não podem ocupar o lugar de soluções políticas difíceis de serem tomadas diante de circunstâncias que mudam a cada momento.

TRAGÉDIA – Claro que a retirada das Forças de Cabul causou a morte cruel e absurda de seres humanos, entre eles 12 soldados dos Estados Unidos. Mas o que fazer ? Usar metralhadora contra talibãs e dissidências? Seria efetivamente muito pior. Morreriam muitos talibãs, mas seriam dizimados também dezenas de milhares de pessoas  que apenas estavam movidas pelo impulso de escapar de uma tragédia.

Metralhar a multidão para que pudesse morrer dezenas de criminosos não seria uma solução. A política é muito mais complexa do que se imagina. É o preço que a história cobra por existir e entregar o poder a tiranos e fanáticos.


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