Deu no Estadão
Além de militares e PMs – da reserva e da ativa, como revelou o Estadão, os atos em defesa do presidente Jair Bolsonaro marcados para o 7 de Setembro, dia da Independência, mobilizam grupos do ‘bolsonarismo raiz’, como evangélicos, ruralistas e caminhoneiros.
A adesão se dá em meio aos ataques do chefe do Executivo a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), colocando em dúvida o resultado e a realização das próximas eleições.
Programação – Ao menos 16 Estados já têm manifestações programadas. Bolsonaro afirmou que comparecerá às manifestações em Brasília e em São Paulo, onde deve ocorrer o ato mais cheio. Há diversas caravanas programadas para as duas cidades.
Neste cenário, a pauta ideológica estará presente, representada por movimentos como o Nas Ruas e lideranças evangélicas como o pastor Silas Malafaia. No entanto, ela deve dividir espaço com reivindicações mais objetivas, como o pedido de diminuição do preço do diesel por parte dos caminhoneiros.
Além da defesa do presidente, organizadores dizem que irão propagar ideias que compõem o ideário bolsonarista – inclusive temas já superados pelo Congresso, mas que continuam na retórica dos apoiadores. É o caso do voto impresso, por exemplo.
SANEAMENTO INSTITUCIONAL – O impeachment de ministros do Supremo também é citado no âmbito do que chamam de “saneamento das instituições” em um áudio que circula no WhatsApp. Observa-se, contudo, uma estratégia de martelar a palavra “liberdade” como a principal motivadora das manifestações.
Malafaia, da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, publicou um vídeo em que convoca os evangélicos do Rio de Janeiro a comparecerem às ruas. Chama atenção que outros dois pastores que participam do vídeo citam a “liberdade de expressão” como bandeira fundamental do ato.
Vários bolsonaristas foram alvo de operação neste ano acusados de ataques às instituições. Há duas semanas, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, foi preso; na semana passada, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) e o cantor Sérgio Reis foram alvo de mandados de busca e apreensão.
CAMINHONEIROS – No caso dos caminhoneiros, a mobilização tem se dado de forma mais individualizada, por meio de lideranças nas redes sociais. O caminhoneiro Odilon Fonseca, por exemplo, tem mais de 40 mil seguidores no Facebook e vem convocando para o 7 de setembro.
Em uma das transmissões ao vivo que fez na sua página na internet, criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em vez de abordar temas específicos relativos ao universo caminhoneiro, ele prefere martelar bordões genéricos como “Vamos passar o Brasil a limpo”.
Já entre os ruralistas, uma figura tem motivos para estar de acordo com essas pautas. Trata-se de Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja). Ele foi alvo de busca e apreensão no mesmo dia de Reis e Otoni. Mesmo assim, dobrou a aposta: continuou atacando os ministros do STF e apoiando a ida às ruas no 7 de Setembro.
FINANCIAMENTOS – As investigações apuram se a Aprosoja é financiadora do esquema orquestrado de ameaças à Corte. Galvan nega, mas já admitia, antes mesmo da operação, que apoiava o movimento. “A Aprosoja apoia o movimento do dia 7 de setembro”, disse ao Estadão na quarta-feira da semana passada.
Além de São Paulo e Brasília, os Estados com manifestações planejadas são: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Piauí, Paraíba, Sergipe, Maranhão, Amazonas, Pará, Roraima, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Em alguns deles, contudo, há apenas pequenos movimentos programados. É o caso do Maranhão, onde até agora só existe planejamento em Pinheiro, que fica a 113 quilômetros da capital.
Diversos lugares que terão seus próprios atos também começam a planejar caravanas para a capital paulista e a capital federal, de olho nos eventos que terão a presença de Bolsonaro.
RIO E SÃO PAULO – No Rio, por exemplo, os bolsonaristas manterão a tradição de defender suas bandeiras na praia de Copacabana, na zona sul, mas a oferta de ônibus que sairão da cidade e de municípios do interior em direção a São Paulo também circula em grupos de WhatsApp. Pelo menos outros oito Estados têm esquemas parecidos programados.
Para o ato da Paulista, haverá ainda o reforço de bolsonaristas do interior do Estado mais populoso do País. Cidades como Bauru, Piracicaba, Jundiaí e São José dos Campos, entre outras, compõem o grupo “Busões Paulista 07/Setembro”, criado para organizar as excursões de fora da capital São Paulo.