Carlos Newton
Parece brincadeira, mas no mês passado o ministro Alexandre de Moraes determinou à Polícia Federal que retome as investigações do inquérito sobre as interferências que o presidente Jair Bolsonaro tentara fazer na Polícia Federal, para blindar um de de seus filhos, o senador rachadista Eduardo Bolsonaro.
O delegado Felipe Alcântara Leal então indagou ao ministro Moraes, relator do caso, se a Procuradoria-Geral da República e a defesa do ex-juiz Sergio Moro teriam oportunidade de fazer questionamentos para novos depoimentos.
ENFIM, INVESTIGANDO – Segundo a mídia, o documento não apresentava os nomes de quem será ouvido, mas Moraes subitamente resolveu destituir o delegado, que pretenderia colher depoimento do atual diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, acusado de atuar como serviçal do presidente. Além disso, pretendia esmiuçar a demissão do delegado Alexandre Saraiva, que atuava na Amazônia; e apurar a blindagem de Flávio Bolsonaro pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O resultado desse ofício do delegado Leal foi surpreendente, porque Moraes, ao invés de parabenizá-lo por estar trabalhando, mandou substitui-lo, alegando que os fatos ocorreram após o início do inquérito. Mesmo assim, porém, mandou o delegado substituto apurá-los.
Fica claro que Moraes, acusado por Bolsonaro de perseguição política, deu uma recuada estratégica para mostrar que não é bem assim.
RECORDAR É VIVER – Convém lembrar que essa ação foi aberta pelo procurador Augusto Aras a pedido de Bolsonaro, quando Moro, ao se demitir do Ministério da Justiça, acusou o presidente de tentar interferir na PF para blindar o filho rachadista Flávio Bolsonaro.
O chefe do governo ficou furioso e mandar Aras abrir no mesmo dia esse processo contra Moro, que numa petição pequenina foi acusado de denunciação caluniosa e mais seis crimes. Por incrível que pareça (porque isso é ilegal), o Supremo depois mudou a página inicial do processo, fazendo com que Bolsonaro, que era “vítima”, passasse a “investigado” pelos crimes, e o nome de Moro, que era o acusado, nem constasse mais da página de rosto dos autos, vejam só a esculhambação em que estamos.
Isso nunca ocorreu antes em nenhum país. É uma inovação brasileira, igual à “incompetência territorial absoluta”, que também não existe no Direito Universal, mas Édson Fachin inventou para anular as condenações de Lula e limpar a ficha imunda do ex-presidente. E fica tudo por isso mesmo, como se dizia antigamente.
ENTRANHAS DO GOVERNO – Fica claro que o delegado Felipe Leal resolver revirar as entranhas do governo, focando nos atos do diretor atual da PF e no caso em que a Abin atuou diretamente na blindagem de Flávio Bolsonaro, por ordem do presidente.
O delegado Leal não deveria ser afastado, porque agiu corretamente, diante de atos do atual diretor-geral da PF e da Abin, que confirmaram a denúncia de Sérgio Moro, mostrando que Bolsonaro passou a interferir de fato.
Existe um outro inquérito, sobre o caso da Abin, que está com a ministra Cármen Lúcia. Todas as provas estão à mão, públicas e notórias, mas a relatora não se mexe, parece sofrer de uma paralisia investigativa, e o inquérito tem jeito de estar sendo sepultado.
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P.S. – Diante de tamanha bagunça institucional, não dá mesmo para acreditar nesse Supremo que aí está, cujos ministros parece não ter medo do ridículo. É lamentável. (C.N.)