Publicado em 30 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
A História só se repete como farsa, afirmou o jornalista Karl Marx em seu ensaio sobre o golpe de Estado de “18 de Brumário do ano VIII” – data do esquisito calendário da Revolução Francesa, que corresponde a 9 de novembro de 1799, considerado o início da era napoleônica na França. Aqui no Brasil, a História também se repete como farsa, com a crise provocada pelo presidente Jair Bolsonaro, que reprisa, 50 anos depois, a tentativa de golpe de Jânio Quadros.
Em Goiânia, neste sábado, Bolsonaro fez uma declaração surpreendente, dizendo que “na Praça dos Três Poderes não somos três, somos dois. Executivo e Legislativo trabalham em harmonia”. Essa afirmação mostra que o presidente não lê jornal nem se informa, totalmente fora da realidade.
ESTÁ SOZINHO – De tanto provocar desavenças e insistir em erros, na verdade Bolsonaro conseguiu ficar sozinho, isolado no eixo Planalto-Alvorada. O Supremo virou-lhe as costas, solenemente, e o Congresso já desistiu de apoiá-lo.
Tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, têm dado repetidas entrevistas negando a possibilidade de aceitar um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.
Mas o presidente insiste em confiar num apoio geral, amplo e irrestrito do Legislativo, sem perceber que o Centrão não gosta de aventuras e prefere se adaptar ao governo que estiver no poder.
APOIO DOS MILITARES – Aliás, nem mesmo os militares apoiam Bolsonaro incondicionalmente, por vários motivos, inclusive a forma leviana com que ele trata o general Hamilton Mourão, um ícone das Forças Armadas, que fez graves denúncias contra o governo petista quando ainda estava na ativa e ajudou expressivamente a eleger Bolsonaro.
Nesta semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco fará mais uma tentativa de reunir os três Poderes, para apaziguar os ânimos antes do Sete de Setembro. Mas é inútil, sem chance. Bolsonaro está completamente desequilibrado. Acredita que, se as manifestações forem um sucesso, poderá fazer o que bem entender e terá apoio das Forças Armadas. Ilusão à toa, diria o sábio e educado Johnny Alf.
APOIO AOS PROTESTOS – As manifestações do Sete de Setembro serão um sucesso, porque a infraestrutura da organização é perfeita, com transporte barato e até grátis, conforme já mostramos aqui na TI, alguns ônibus têm três refeições incluídas. Para quem mora no interior, é um programa e tanto, no feriadão.
A família Bolsonaro e o Planalto estão jogando todas as fichas para reunir multidões em Brasilia e São Paulo. Mas há elevado risco de quebra-quebra, por se tratar de uma manifestação negativa, cheia de ódio. E a temperatura pode explodir, se a fala de Bolsonaro for no sentido da radicalização política (e será).
INSUFLANDO AS MASSAS – O discurso de Bolsonaro no final da manhã ou início da tarde em Brasília vai ser assistido pelos militantes que estarão à tarde na Avenida Paulista, à espera do segundo pronunciamento do presidente. Assim, é em São Paulo que o clima estará mais perigoso.
Agências bancárias e lojas vão cobrir de tapumes suas vitrinas. O governo paulista estará nas ruas com suas forças de segurança máxima, porém ninguém sabe o que vai acontecer.
Nesse sentido, são irresponsáveis as declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que “não haverá nada no Sete de Setembro”. Ele deveria ser mais cauteloso e dizer: “Vamos torcer para que não aconteça nada, porque numa situação assim todo cuidado é pouco”.
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P.S. – É claro que Exército, Marinha e Aeronáutica estarão de prontidão, com suas tropas preparadas para entrar em cena e restabelecer a ordem, mas não pretendem se curvar aos delírios de poder que dominam a mente doentia de Jair Bolsonaro. (C.N.)