Publicado em 12 de abril de 2021 por Tribuna da Internet
Constança Rezende
Folha
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) para ampliar a CPI da Covid e apurar a conduta de prefeitos e governadores. A conversa foi gravada e publicada pelo congressista em redes sociais.
Bolsonaro disse que, se os senadores não mudarem o escopo da CPI, ampliando para investigar as ações de governos regionais também, será investigado apenas o governo federal e seus aliados. Segundo ele, vão ouvir “só gente nossa” para produzir “relatório sacana”.
“LIMONADA” – “Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada”, disse ao senador. Na conversa com Kajuru, Bolsonaro afirmou que o objetivo do autor da CPI, que disse não saber quem é, “é investigar omissões do governo federal na Covid”.
“A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro, ponto final. Quer fazer uma investigação completa? Se não mudar o objetivo da CPI, ela vai vir só pra cima de mim. O que tem que fazer para ser uma CPI que realmente seja útil para o Brasil? Mudar a amplitude dela. Bota governadores e prefeitos. Presidente da república, governadores e prefeitos”, afirmou.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou neste sábado (10) um pedido de aditamento da CPI da Covid para ampliar o escopo, com a intenção de incluir nas investigações atos praticados por agentes políticos e administrativos de estados e municípios na gestão de recursos federais.
APROVAÇÃO – “Para não deixar margem de dúvida, já está apresentado, foi protocolado, e a gente vira esta página e o governo vai ter de inventar outra desculpa [para não apoiar a CPI]”, disse. Após a instalação da CPI, o pedido precisa ser aprovado por maioria simples.
Não é a primeira vez que o STF determina a instalação de CPIs a pedido da oposição. Em 2005, o Supremo mandou instaurar a dos Bingos, em 2007, a do Apagão Aéreo, e, em 2014, a da Petrobras.O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve ler nesta terça-feira, dia 13, o requerimento de instalação da CPI da Covid, solicitada por mais de um terço dos membros da Casa no início de fevereiro.
O objetivo dos senadores da minoria é apurar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro na pandemia, como em relação ao colapso do sistema de saúde de Manaus, onde pacientes internados morreram por falta de oxigênio. O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, já é investigado pelo caso.
PRAZO – A comissão tem um prazo determinado para realizar procedimentos de investigação e elaborar um relatório final, a ser encaminhado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.
A CPI somente será instalada após ordem do ministro Luís Roberto Barroso (STF) ao presidente do Senado, contrário à comissão neste momento. A decisão de Barroso será julgada na quarta-feira, dia 14, pelo plenário do Senado. Kajuru respondeu ao presidente que já entrou com procedimento para investigar o ministro Alexandre de Moraes, ao que o presidente responde “ tudo bem”.
“Tenho que começar pelo Alexandre de Moraes porque o do Alexandre de Moraes meu já está lá engavetado pelo Pacheco. Só falta ele liberar”, diz o senador. “Você peticionou o Supremo, né?”, pergunta o presidente. “Sim, claro, entrei ontem, às 17h40”, diz Kajuru. “Parabéns para você”, responde Bolsonaro.
CRÉDITO – Ao ouvir o elogio, Kajuru afirma que só queria que o presidente lhe desse crédito nesse ponto. “Kaujuru, depois do que nós conversamos aqui, nós dois estamos afinados, é CPI ampla, investigar ministro do supremo. Dez para você”, afirma.
“Pode deixar que, tendo a oportunidade, eu falo com a mídia, e cito a minha conversa contigo sobre CPI ampla da Covid e também que o supremo”, diz Bolsonaro. “Se ele fez com a CPI, ele tem que fazer também com o ministro”, completa Kajuru.