Julia Lindner e Paulo Cappelli
O Globo
Por oito a três, os membros titulares da CPI da Covid elegeram o senador Omar Aziz (PSD-AM) como presidente do colegiado nesta terça-feira. Além dos votos da oposição e dos independentes, que já eram esperados, Aziz recebeu o apoio do senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado do governo. Como previamente acordado, Aziz indicou Renan Calheiros (MDB-AL) para relatar as investigações.
Até o último momento, governistas tentaram impedir a escolha de Renan como relator. O senador Jorginho Mello (PL-SC), que é próximo ao presidente Jair Bolsonaro, reapresentou uma questão de ordem instantes antes da indicação para que o senador alagoano fosse considerado suspeito na condução das investigações, considerando que o seu filho é governador de Alagoas. Em tom firme, Aziz indeferiu o pedido.
“SENADOR POR COMPLETO” – “Eu indefiro a questão de ordem por entender que não existe senador pela metade. Todos nós somos senadores por completo. E o senador Renan tem colocado uma coisa que é verdade: se o senador não pode participar de uma CPI ele não é senador. Essa discussão está madura na sociedade. Estamos malhando em ferro frio. O senador Renan votou a PEC da Guerra, a ajuda para estados e municípios, se ele fosse suspeito não poderia votar”, disse Aziz a Jorginho.
Em seguida, o presidente eleito da CPI também criticou a decisão da Justiça Federal do Distrito Federal, determinada ontem, que tentava impedir Renan de assumir a relatoria. A decisão foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª região (TRF-1).
“Ontem tivemos esse constrangimento novamente de um juiz de primeira instância… Felizmente o TRF-1 colocou na linha essa questão, é uma coisa que o Senado está acostumado. E colocar essa questão aqui [de Jorginho Mello] me deixa constrangido em dizer que não vou acatar a questão de ordem e vou indicar Renan Calheiros. Já está indicado o senador Renan Calheiros, essa questão já está passada”,declarou o senador amazonense.
ÂNIMOS EXALTADOS – Governista, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) insistiu que Renan não poderia ser escolhido relator por considerá-lo como suspeito, mas foi interrompido por Aziz, que disse já ter decidido sobre o tema. Marcos Rogério, então, pediu calma e disse que o presidente estava nervoso.
“A única coisa que eu não estou é nervoso. Só que você está desde o primeiro… Nós estamos há duas horas e meia aqui e três ou quatro senadores querendo não instalar. Qual é o medo da CPI? É o medo da CPI ou medo do senador Renan? Não estou entendendo. O próprio líder, o seu líder do governo, Fernando Bezerra, diz que não tem medo da CPI e quer dar transparência. Vossa Excelência quer questionar novamente a questão do Renan e diz que eu estou nervoso?”,reagiu Aziz.
SUSPEIÇÃO – Em seguida, Marcos Rogério afirmou que a suspeição de Renan não seria apenas por sua relação familiar, mas por já ter criticado a gestão do governo federal na pandemia. Ele alega que não há isenção.
Antes, Marcos Rogério também criticou o discurso de Omar dizendo que a CPI não deve fazer justiça pelas vítimas da Covid-19. “Essa CPI não tem esse papel. Por mais que quiséssemos ter força instrumental para formulação de políticas públicas de enfrentamento da pandemia. A CPI investiga fato determinado, sobretudo do passado, mas não serve para fazer justiça aos mortos”, disse Marcos Rogério.
Omar Aziz reagiu dizendo que não entendeu o que o senador estava querendo dizer e reforçou que a CPI serviria para fazer justiça direta ou indiretamente. “É justo as pessoas não terem a segunda dose para se vacinar? Isso é justo?”, questionou Aziz. Marcos Rogério rebateu novamente dizendo que a CPI não pode garantir vacinas para a população e que Aziz estava nervoso.
IMPARCIALIDADE – Aliado de Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que votou em Omar Aziz para presidir a relatoria. Segundo Nogueira, Aziz lhe prometeu que seria “imparcial” na condução dos trabalhos. O presidente nacional do PP, no entanto, disse ver com “preocupação” o fato de Renan Calheiros assumir a relatoria da investigação.
“Parabenizo Randolfe pela vice-presidência e digo a Renan: neste momento não vejo obstáculo algum para que seja relator. Há uma hora atrás, existia uma decisão judicial, que era absurda, mas existia. Não se pode cumprir uma decisão e descumprir outra. Se essa CPi está funcionando é por conta de uma decisão judicial. Não vejo obstáculo, Renan, (porque a decisão que havia foi derrubada). Eu vejo preocupação. E espero que minhas preocupações se percam no tempo. Espero que saiba honrar essa vontade do nosso presidente, da maioria, de ser relator”, disse.
“Tenho total divergência que, no caso de acusação contra seu filho (o governador de Alagoas, Renan Filho), o senhor vai se ausentar. Não existe “meio relator”. Ou é relator ou não é. Espero que não haja nenhum tipo de acusação contra seu filho, que é um grande amigo meu, mas se isso vier a ocorrer, o senhor tem que relatar. Até porque ficará sob sua responsabilidade a elaboração do relatório será final”, argumentou Nogueira.