Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Entre as piadas ouvidas na infância, tiradas do fundo da memória, destacava-se aquela do luso cidadão que ao anoitecer colocou dois grilos numa caixa de fósforos e jurou estar ela vazia na manhã seguinte: "Ora, um comerá o outro e o outro comerá o um"...
Imagina-se como terá sido o encontro dos governadores José Serra e Aécio Neves, na noite de terça-feira, em Belo Horizonte. Sem a menor dúvida, ao abordarem a sucessão presidencial de 2010, terão pronunciado a mesma frase, ao mesmo tempo: "Você é o meu candidato..."
"Me engana que eu gosto", terão pensado antes de passarem ao esporte preferido de ambos, de falar mal do Lula. O problema é que não acontecerá com eles o que o cidadão da piada imaginava acontecer com os grilos. Não vão desaparecer, nem o que vier a ser escolhido pelo PSDB, nem o derrotado no âmbito partidário. Por enquanto, mantêm as pretensões, sabendo o mineiro da vantagem do paulista no ninho tucano.
O que por enquanto parece fora de propósito é a formação da moderna dobradinha do "café-com-leite", isto é, Serra para presidente, Aécio para vice. Sabem da reação das outras regiões diante do Sudeste. Nem gaúchos nem nordestinos do partido aceitariam.
Os dois governadores têm a retaguarda garantida. O de São Paulo poderá, numa emergência qualquer, disputar o segundo mandato. O de Minas terá, à sua disposição, uma vaga de senador.
As preliminares, no entanto, começam a esquentar. Serra não gostou nem um pouco da intervenção de Aécio nas eleições para a prefeitura de São Paulo. Apoiar a reeleição de Gilberto Kassab, do DEM, faz parte dos planos do paulista, uma espécie de garantia prévia do apoio do ex-PFL à sua candidatura presidencial. Por isso mesmo o mineiro declarou-se favorável à apresentação de Geraldo Alckmin para a prefeitura.
Uma evidência flui da ida de José Serra a Belo Horizonte. Tanto ele quanto Aécio Neves praticam a teoria de que intermediários só servem para atrapalhar. Melhor resolverem olho no olho suas diferenças, enquanto podem. Rejeitaram, com certa educação, a oferta de Fernando Henrique Cardoso para servir de mediador. Não confiam no ex-presidente da República, eterno candidato a tertius, sempre pensando que a sorte poderá bafejá-lo outra vez.
Em suma, o jantar na capital mineira foi mais um de muitos encontros havidos e por haver, daqui até a definição do PSDB. Os dois governadores valem-se das pesquisas de opinião para imaginar a vitória de um deles, daqui a pouco menos de três anos. Só temem, mesmo, a possibilidade do terceiro mandato para o presidente Lula. Se esse inusitado acontecer, haverá então verdade na frase com que analisaram a situação: "Você é o meu candidato..."
A grande farsa
Presta-se a algumas conclusões o reconhecimento de que desmatamos a Amazônia muito mais do que recomendaria o bom senso.
A primeira, de que, além de haver faltado com a verdade, o governo acaba de fornecer munição para a cobiça internacional. Basta passar os olhos nos principais jornais da Europa e dos Estados Unidos. Todos abrem espaço para o que lhes parece a destruição do "pulmão do mundo", não demorando o retorno da seqüência de que a Amazônia precisa ser internacionalizada. Para alguns ingênuos e um número bem maior de malandros, o Brasil carece de condições para deter soberania na região, estando a prova nas sucessivas queimadas e devastações denunciadas e reconhecidas.
Não se imagina qualquer ocupação militar por parte das nações ricas. Elas saberão das sucessivas transferências de unidades militares do Sul, Sudeste e Centro-Oeste para a Amazônia, nos últimos anos. Não que pudéssemos enfrentar por mais de quinze minutos uma guerra convencional contra alguma "coligação" tecnologicamente muito mais avançada. Acontece, porém, ser outra a estratégia brasileira: nossos guerreiros se transformarão em guerrilheiros.
Por esse motivo já nos obrigaram a assinar um tratado militar comprometendo-nos a não colocar minas em pontos-chave da floresta. Não importa, essa iniciativa só depende de nós. Além disso, vêm sendo cavados bem fundo, no solo amazônico, depósitos de munição, combustível e mantimentos.
Não faz muito uma delegação das Forças Armadas brasileiras visitou o Vietnã. Por via das dúvidas, fomos buscar a experiência de um povo que saiu vitorioso nessa espécie de conflito. Entrar, os adversários podem. Sair, só derrotados...
Existem outros tipos de internacionalização, como o da aquisição de imensas glebas amazônicas por estrangeiros. Vergonhosamente estimulados pelo próprio governo do Brasil, e pela lei, os compradores arrendam milhares de hectares por 40 anos, renováveis por mais 40, comprometendo-se a preservar a floresta, mas, de modo estranho, autorizados a extrair madeira.
A invasão se faz por via econômica, impulsionada por mil e uma ONGs, nacionais ou vindas de fora. Além de tentarem interromper o desenvolvimento da região, que numa etapa inicial gostariam fosse um imenso jardim botânico, essas entidades trabalham tribos indígenas, apesar delas constituírem parte indissolúvel de nossa população. Pretendem transformá-las em "nações".
Além disso, convenceram o Congresso e o governo a conceder-lhes monumentais espaços onde o cidadão brasileiro é impedido de entrar, mas, estranhamente, estrangeiros podem. Aguardam a oportunidade para algum organismo internacional reconhecer a "independência" dessas nações, com governo próprio e até assento na ONU.
Seria, então, oportunidade para estabelecerem protetorados e sucedâneos, celebrando acordos de "cooperação", imagine-se por parte de quem. Estaria consumada a exploração das riquezas amazônicas, o verdadeiro objetivo de toda essa farsa. Acorda, Lula...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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