Jornais internacionais criticam atuação do governo e ironizam anúncio de Lula de que desmatamento estaria caindo
RIO - O aumento da devastação na Amazônia foi destaque em vários jornais de todo o mundo. Mas o britânico The Guardian foi mais incisivo e irônico na crítica ao governo Lula. O título da reportagem é Salvação da Amazônia recua, mas é o subtítulo que dá o tom: Imagens espaciais desmentem a mais recente ‘grande realização’ do Brasil de parar a destruição da floresta. O correspondente do jornal Tom Phillips diz no texto que depois de décadas de destruição constante, “a maré” parecia ter virado quando o presidente Lula “alardeou” no rádio que os índices de desmatamento haviam caído muito.
Em seguida, ele informa que as boas notícias foram interrompidas quando os ministros admitiram que, depois de três anos de redução, o desmatamento voltava a crescer. O repórter relembra a viagem que fez ao norte do Mato Grosso e Sul do Pará, quando sobrevoou o local com ativistas do Greenpeace:
“Nas duas regiões era fácil ver os sinais de aumento da devastação”. Ele afirma que ambientalistas já haviam alertado para os riscos de desmatamento em maio. O americano Washington Post reproduziu ontem reportagem da agência Associated Press (AP), do dia 24, que informa que o Brasil anunciou que mandaria reforços da Polícia Federal para Amazônia devido ao fato de o desmatamento ilegal “ter dado um salto dramático” ano passado.Essa mesma reportagem foi reproduzida pelo também americano Herald Tribune, e pelo South China Morning Post, de Hong Kong.
O The New York Times reproduziu reportagem da Reuters, com o título Brasil: desmatamento da Amazônia cresce muito. O texto também podia ser lido no site da agência. Em setembro, o jornal francês Le Monde publicou extensa reportagem sobre o impacto da plantação de soja na Amazônia, do jornalista Hubert Prolongeau, com colaboração de Béatrice Marie, que antecipava as discussões do encontro de Lula com os ministros. Um dos citados na matéria é o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, chamado pelo repórter de um dos mais importantes produtores de soja do mundo.(AG)
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Facilidade de crédito ajuda a desmatar
BRASÍLIA - As facilidades de crédito oferecidas pelo Banco da Amazônia (Basa) para o setor de pecuária, tanto para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) quanto para produtores maiores, contribuem para o desmatamento da Amazônia nos últimos cinco meses. Estudo do cientista Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), indica que isso ocorre porque o Pronaf empresta recursos em todo o Brasil a taxas de juros que variam de 1% a 4% ao ano, além de descontos de 40% sobre o principal para valores até R$12 mil. A taxa básica de juros (Selic) fixada pelo Banco Central está em 11,25% ao ano. O total do Fundo Constitucional do Norte Especial (FNO) caiu de R$ 419 milhões, em 2003, para R$158 milhões, até outubro de 2007. Mas a porcentagem do Pronaf pulou de 38% para 66% no mesmo período.
De acordo com o estudo, que trata do avanço da pecuária na Amazônia, em 2006, dos R$371 milhões emprestados para o setor de pecuária, R$190 milhões foram para o Pronaf. Até outubro de 2007, dos R$158 milhões emprestados para o setor, R$105 milhões também foram destinados à agricultura familiar. O Pronaf é um dos principais programas do governo federal destinados às pequenas propriedades. Com ele, aqueles que honram suas dívidas têm bônus de 25% na taxa de juros de parcelas de empréstimos de custeio.
Outros estudos já concluídos pelo Imazon indicam que a influência do crédito fácil está ocorrendo na derrubada da floresta. Na Transamazônica, por exemplo, pequenos produtores em assentamentos rurais – o que permite o acesso ao FNO Especial – desmataram mais do que aqueles que fora dos assentamentos e sem crédito. Outro estudo mostrou que a taxa de desmatamento em 343 assentamentos na Amazônia foi quatro vezes maior do que fora deles. O Basa também emprestou recursos do FNO para produtores rurais não familiares (FNO Normal) com taxas de juros subsidiadas – variando de 5% a 9%, conforme a escala do empreendimento.
Esse mesmo fundo destinado a agricultores não familiares oferece ainda um desconto de 15% sobre os encargos financeiros para aqueles que pagam em dias suas dívidas. Conforme estudos da ONG Amigos da Terra, em 2007 pela primeira vez a Amazônia Legal passou da marca dos dez milhões de abates bovinos, com aumento de 46% em relação a 2004. O número significou 41% dos abates bovinos de todo o Brasil em 2007, frente a 34% em 2004. Outro dado fornecido pela Amigos da Terra dá conta de que um terço das exportações brasileiras de carne in natura em 2007 foi oriundo de exportação direta da Amazônia, principalmente de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins.
Em 2004, o Pará aumentou sua exportação direta em 7.800%, Rondônia em 1.350%, Mato Grosso em 360% e Tocantins em 150%. Existem ainda, 200 abatedouros na região, sendo que somente 87 têm registro do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura. Paulo Barreto mostra que as taxas de juros rurais na Amazônia estiveram muito abaixo das taxas de juros livres. (AE)
Fonte: Correio da Bahia
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