BRASÍLIA - O senador Jefferson Péres (PDT-AM) deve pedir hoje a cassação do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no relatório da terceira representação em apuração no Conselho de Ética. O peemedebista é acusado de ter usado "laranjas" na compra de duas rádios e um jornal em sociedade com o usineiro João Lyra. "Eu não vou adiantar o meu parecer em respeito aos colegas do Conselho de Ética", ponderou Péres.
Na contramão de Péres, o senador João Pedro (PT-AM) tende a propor o arquivamento da representação de número dois, na qual Renan é acusado de favorecer a cervejaria Schincariol na negociação de dívidas com o INSS e Receita Federal. O petista também preferiu não adiantar o conteúdo de sua decisão.
"Vocês somente ficarão sabendo da minha decisão no dia da votação", disse aos jornalistas. Entre os assessores de Renan, a expectativa mais pessimista é a de que o presidente licenciado do Senado acabará tendo que ser julgado pelo plenário na representação relatada por Péres.
Para isso, ele tem que ser condenado no Conselho de Ética. Uma manobra para evitar a aprovação do relatório do senador do PDT será apresentada pelo fiel escudeiro de Renan, senador Almeida Lima (PMSB-SE). Ele já adiantou que vai apresentar um voto em separado, alegando que da mesma forma que o senador Gim Argello (PMDB-DF), Renan não poderia ser condenado por supostos atos praticados antes de ser senador.
"A suposta compra aconteceu em 2002, antes de Renan ter sido eleito senador", argumentou Almeida Lima. Um quarto processo, apresentado pelo PSOL e relatado por Almeida Lima, pode ser arquivado antes mesmo de ser apreciado. Ele se refere do suposto esquema de propinas em ministérios comandado pelo PMDB de Renan.
"Não existe fato ou denúncia. Eu estou estudando a possibilidade de não apresentar o relatório, mas isso ainda não está definido. O certo é que não existe fato contra Renan, nem mesmo uma acusação", disse. Almeida Lima informou, assim, que não irá apresentar seu relatório para votação hoje.
Apesar da intenção de Almeida Lima, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), afirmou ontem que vai trabalhar até o início da sessão de hoje, marcada para as 14 horas, para que Almeida Lima também apresente seu relatório. "Vamos tentar liquidar a fatura logo", avisou. A idéia é que os processos de Renan terminem, caso tenham de ir a plenário, até o dia 22, três dias antes do vencimento da licença do peemedebista da presidência da Casa. Renan já foi absolvido, em plenário, da acusação de ter suas despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo.
Ainda que seja vitorioso no Conselho de Ética, o presidente licenciado terá pela frente a suspeita de ter espionado os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Essa representação ainda não tem relator definido e será a última a ser apreciada pelo Conselho.
Depoimentos
Ontem, na véspera de Péres apresentar seu relatório, o pedetista colheu depoimentos de três testemunhas de defesa de Renan: o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), de Sérgio Pimentel (ex-dono de "O Jornal"), e Sérgio Ferreira (ex-diretor administrativo de "O Jornal").
Os três disseram desconhecer participação de Renan na compra dos veículos de comunicação em sociedade com Lyra. Teotônio e Pimentel passaram a maior parte do depoimento, a portas fechadas, desqualificando o acusador de Renan.
"O João Lyra odeia o Renan, é um homem de imagem inidônea pela história de vida, um homem sem escrúpulos. Eu sou alagoano e me sinto no direito de vir aqui jogar flores na Geni", disse o governador, em defesa de Renan, considerado, por ele, a Geni (personagem da Opera do Malandro, de Chico Buarque) da vez.
Pimentel foi na mesma linha. "João Lyra não tem honra, não tem ética", disse o empresário. Na sua versão, ele foi apresentado por Renan a Lyra depois de ter pedido ajuda do senador para vender seu grupo de comunicação. Segundo ele, Renan apenas serviu de intermediário do negócio.
"Renan me apresentou a João Lyra, mas não participou de qualquer negociação sobre a venda, tendo, inclusive, se retirado da sala quando eu e João Lyra começamos a tratar da transação", afirmou sendo relato de participantes da sessão fechada de ontem.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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