O Partido da Mídia Golpista (PIG) não pára de fazer avançar a sua agenda política: crise aérea, crise na saúde, hecatombe econômica, prejuízo aos investimentos por causa da corrupção - federal, já que não existe corrupção municipal em São Paulo, nem estadual em Minas Gerais -, caso Renan Calheiros, CPMF, inchaço do Estado e agora a Venezuela.É um jogo de desgaste, que obedece à estratégia política do PSDB. A cientista social Lucia Hipolyto fala na Globonews e no UOL. O geógrafo Demétrio Magnoli escreve no Estadão e em O Globo. O sociólogo Arnaldo Jabor fala no Jornal da Globo e tem a coluna distribuída Brasil afora. As agências Estado, Folha e O Globo municiam os artilheiros estaduais e municipais.Até parece o período pré-eleitoral de 2006, quando as notícias econômicas que poderiam, indiretamente, beneficiar a reeleição de Lula, quase sumiram do noticiário da Globo. Marco Aurélio Mello, editor de economia e política, testemunhou: recebeu do Rio de Janeiro a instrução para "tirar o pé" das reportagens econômicas que sempre foram o forte da praça São Paulo.A bola da vez é a Venezuela. Capa da Época em uma semana, capa da Veja na semana seguinte. É a criação de uma "ameaça externa" que tem duplo objetivo: desgastar Lula sempre que ele aparecer ao lado de Hugo Chávez, impedir a entrada da Venezuela no Mercosul e servir à política externa dos Estados Unidos, que buscam desesperadamente frear as reformas que ameaçam seus interesses de hegemonia no "quintal".George W. Bush não é mais levado a sério em Washington, mas é levado a sério no Jardim Botânico. Ele articulou o isolamento do Irã mas tomou um roque maior de Vladimir Putin, o czar russo. Colocando os interesses da Rússia acima dos interesses dos Estados Unidos, Putin foi a Teerã e disse que já não se faz mais guerra na região do mar Cáspio. Deu a entender que a Rússia intervirá em caso de um ataque americano ao Irã. Esnucou Bush, já que Putin tem ao lado dele a China e a Índia, sedentos pelo petróleo iraniano. Teria sido por acaso que, sentindo a oportunidade, o pré-candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, prometeu um "ataque diplomático" à Teerã, sem descartar nem mesmo o reatamento de relações diplomáticas?(Para benefício de meus leitores jovens, roque maior é uma jogada no xadrez em que rei e torre trocam de posição radicalmente, com o objetivo de desnortear o ataque do adversário)A proposição de que a Venezuela representa uma ameaça militar ao Brasil é completamente absurda. De quantos homens Hugo Chávez precisaria para ocupar o Brasil? Vamos ver:Venezuela: 916.445 quilômetros quadradosBrasil: 8.514.876.599 quilômetros quadradosVenezuela: 28 milhões de habitantesBrasil: 190 milhões de habitantesVenezuela: 176 bilhões de dólares de PIB (estimativa para 2006)Brasil: 1 trilhão, 655 bilhões de PIB (estimativa para 2006)Entre a Venezuela e o Brasil existe uma densa floresta tropical. Se pretende nos atacar com infantaria, Chávez teria que empregar metade da população venezuelana só para capinar a Amazônia. Se pretende nos atacar com caças Sukhoi russos, qual seria exatamente o objetivo? Destruir o Maracanã? A produção industrial brasileira é desconcentrada. A da Venezuela, não. Já que estamos embarcando nessa viagem absurda, vamos testar a hipótese de que o Brasil encomendasse a Washington um bombardeio às instalações petrolíferas da Venezuela. Cheque mate.(Já que estamos nesta viagem, é bom lembrar que os Sukhoi que a Venezuela comprou da Rússia levam por baixo três horas de vôo para chegar ao primeiro alvo realmente significativo, Brasília; depois de bombardear o Palácio do Planalto, deveriam ser reabastecidos para a viagem de volta. Será que vão pedir permissão de pouso no aeroporto JK?)Chávez ameaçar militarmente o Brasil é tão absurdo quanto imaginar que Cuba é ameaça militar aos Estados Unidos. A recíproca não é verdadeira. Além de financiar a oposição a Chávez, Washington ajudou a promover um golpe contra o governo constitucionalmente eleito da Venezuela. Será que eles simplesmente não foram com a cara ameaçadora do Chávez que saiu na capa da Época?Deixa eu pensar um pouquinho:1. Chávez assumiu e decidiu exercer a soberania da Venezuela sobre os recursos naturais do país;2. Matou a proposta de privatizar a PDVSA, que uniria grupos econômicos venezuelanos e americanos;3. Fortaleceu a Organização dos Paises Produtores de Petróleo (OPEP), que a Venezuela costumava enfraquecer produzindo acima da cota prevista e derrubando o preço do barril;4. Diversificou os mercados externos da Venezuela, do jeitinho que o Brasil fez, para não depender apenas do mercado americano;5. Aproximou-se do Irã, que é produtor de petróleo, tanto quanto Brasil e Estados Unidos se aproximaram por conta de um produto comum, o álcool combustível;6. Aproximou-se da China, o que o Brasil também fez, dado que é um grande mercado consumidor das commodities brasileiras;7. Interferiu nas campanhas eleitorais de países vizinhos, o mesmo que o Brasil faz sem estardalhaço nos bastidores;8. Comprou armas porque precisa de um poder dissuasório para evitar um ataque dos Estados Unidos, o que o Brasil também deveria fazer pensando num desembarque de fuzileiros navais americanos na Amazônia em duas ou três décadas;9. Peitou a mídia golpista, que ajudou a organizar um golpe de estado (perdeu), um referendo revogatório (perdeu) e campanhas diversas contra o governo, de forma ininterrupta, desde 1998, com apoio da Casa Branca.Não dá para pensar no Chávez fora do contexto histórico, como se ele existisse no vácuo. Política é um jogo de ação e reação. Se, durante o governo FHC, Lula tivesse se aliado à Casa Branca para puxar o tapete dos tucanos, teria ou não queimado seu filme no Brasil? A oposição venezuelana queimou o filme. Ficou sem pai, nem mãe, nem eleitor. Perdeu todas as eleições. Vai perder mais uma em dezembro. Conta com o apoio das famílias Civita e Marinho. Espero que eles sejam os primeiros a botar a farda e patrulhar a fronteira para evitar a invasão bolivariana.
Fonte: Vi O Mundo