SÃO PAULO - Em menos de três meses, os dois aeroportos de São Paulo tiveram os piores acidentes de sua história. Ontem, às 14h05, um avião executivo Learjet 35 caiu sobre uma casa na Rua Bernardino de Sena, na Casa Verde, Zona Norte de São Paulo, deixando 8 mortos - incluindo 2 tripulantes - e 2 feridos. Três casas foram interditadas e moradores da região viveram momentos de pânico em meio ao fogo e à fumaça, que lembraram o 17 de julho, em Congonhas, na Zona Sul, quando a queda de um Airbus A320 da TAM matou 199 pessoas.
A aeronave de prefixo PTO-VC caiu minutos depois de ter decolado de Campo de Marte com destino ao Rio, a cerca de 2 mil metros da cabeceira da pista. O piloto Paulo Roberto Montezuma Firmino, de 39 anos, e o tripulante Alberto Soares, de 24, morreram na queda. O médico Edimilson Mariano, de 35 anos, que estava na sacada de seu apartamento viu toda a cena e relata que o procedimento de decolagem não foi o usual.
"Normalmente, os aviões viram para a esquerda no sentido Marginal do Tietê, mas esse foi para a direita, embicou e de repente começou a cair", contou o médico, que saiu correndo para ajudar no socorro às vítimas e foi um dos primeiros a chegar ao local - onde encontrou o caos.
Lúcia Helena Rossetti, de 36 anos, uma assistente social que andava pela rua no momento da queda, também estranhou o comportamento do jato. "Ele veio balançando. Parecia que o piloto queria equilibrá-lo, mas, de repente, caiu com o bico para baixo em cima da casa".
O coronel da Aeronáutica Carlos Minelli afirmou que pode ter ocorrido falha mecânica, uma vez que as testemunhas não ouviram barulho de motor. A má visibilidade chegou a ser cogitada como um dos motivos da queda, mas logo foi descartada.
O vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, esteve no local do acidente no fim da tarde, acompanhado do secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e do secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey. Goldman informou que, assim que fossem concluídos os trabalhos de remoção dos escombros a Polícia Civil iniciaria uma investigação paralela.
Goldman disse ainda que vai se reunir com representantes do governo federal para discutir os problemas advindos da presença de um aeroporto em uma grande região urbana - para que sejam tomadas precauções para evitar uma nova tragédia.
"O problema não foi do aeroporto em si, mas da localização", declarou o vice-governador. A dona de casa Rosa Maria Simões, de 43 anos, dificilmente sai da casa onde vive, nos fundos do número 118 da Rua Bernardino de Sena. Ontem, na hora do acidente, ela estava com dois dos cinco filhos num supermercado.
"Mal tinha chegado lá e me ligaram dizendo que um avião tinha caído em casa. Saí correndo desesperada". "Ouvi um barulho muito próximo do avião e depois um grande barulho de batida", relatou Cristina Simões da Silva, de 19 anos. Ela correu para o banheiro onde a irmã, Adriana, de 15, estava tomando banho e a enrolou na toalha.
"Com socos e pontapés, consegui abrir a porta e saímos pelos fundos". Enquanto as meninas tentavam escapar, a mãe e os dois irmãos chegavam, desesperados. Na casa da frente, atingida em cheio pelo Learjet, estavam sete integrantes da mesma família.
O lugar, totalmente destruído, pertencia a Lina Oliveira Fernandes, de 75 anos, que abrigava os filhos João Fernandes (que não estava na hora da tragédia) e Rosa Lima, de 54 - que residia ao lado da filha, Ana Maria, de 21, do genro Lucas e do neto Luan Vitor de Lima, de apenas 10 meses.
O outro genro de Lina, Aires Fernandes, de 54 anos, também morreu. Só escapou com vida da casa da frente Cláudia Lima, filha de Rosa. Ela sofre de autismo, foi internada no Hospital do Mandaqui e deveria ser transferida para o Hospital do Servidor Público Estadual.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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