Mariana Rios
Não foi fácil o retorno ontem para o trabalho de Anatália Silva, 46 anos, um dos dez funcionários envenenados com chumbinho no último sábado, na Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Aosid), situada no Largo de Roma. Não conteve as lágrimas no trajeto de sua casa, no Uruguai, até o Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências (CRPD). “Pensei que fosse morrer. Na hora, não sabia da gravidade do atentado sofrido por mim e pelos colegas. Temos um inimigo oculto”, afirmou ontem, antes do depoimento na 3ª Delegacia de Polícia (Dendezeiros). Quinze pessoas já foram ouvidas e o laudo do Departamento de Polícia Técnica (DPT), liberado no final da tarde de terça-feira, confirmou a presença do raticida ilegal no café com leite servido aos cuidadores – responsáveis pelos 120 moradores deficientes do centro.
A suspeita policial é de que o café tenha sido adulterado no próprio setor e não na cozinha da unidade – onde o café é preparado e misturado ao leite. O restante da bebida servida aos moradores do centro e aos funcionários do 1º andar não causou mal-estar aos demais. A aparente ausência de um motivo para o crime intriga o delegado Miguel Cicerelli, já que o ambiente de trabalho era considerado harmonioso e sem conflitos. “Estamos na fase inicial da investigação, que se mostra de alta complexidade: não existem câmeras nem cartão de ponto. Complica ainda mais o fato de qualquer pessoa ter acesso à copa onde foi deixada a garrafa térmica, inclusive pacientes. Vamos analisar todas as frentes: funcionários, possíveis acompanhantes e pacientes. Todo mundo que estava no local é suspeito”, explicou Cicerelli, titular da 3ª DP. O prazo de 30 dias para que o processo seja remetido à Justiça pode ser dilatado. Todas as 40 pessoas que trabalhavam no local devem ser ouvidas.
O que se sabe é que quem colocou o raticida, o fez de forma proposital. O rápido atendimento médico evitou a complicação dos sintomas e até mesmo a morte de algum deles. O laudo não especifica a quantidade de veneno colocada na bebida. Os peritos identificaram em menos de um litro de café com leite, ainda contidos na garrafa térmica, grânulos de coloração cinza escuro. Após análise, foi identifica a substância aldicarbe – princípio ativo do “chumbinho”. As vítimas, que pensaram ter sofrido uma intoxicação alimentar, só souberam que haviam sido envenenadas na segunda-feira.
Menos de cinco minutos depois de beber dois copos de café com leite, Anatália conta que primeiro sentiu “as vistas escurecerem”. Depois, veio a tontura, suor intenso e um terrível mal-estar no estômago. No banheiro, vomitou e mal conseguiu se vestir para chamar ajuda. “Tudo foi muito assustador. Acho que não foram os pacientes. Eles não têm onde conseguir o chumbinho nem a agilidade necessária para colocar o veneno sem ser vistos”, declarou Anatália, que desmaiou ao sair do banheiro. Ontem, um pouco abatida, brincou na delegacia, dizendo que “café agora só em casa”.
Intranqüilidade - O clima ontem foi de alegria pela volta dos colegas, mas também de preocupação. “Espero em Deus que o delegado descubra. Não sabemos a intenção e estamos correndo risco”, explicou Anatália, que estranhou o gosto forte do café, mas disfarçou dobrando a dose do adoçante. A cuidadora Rute Moreira, 52 anos, que também foi ouvida ontem, contou que não tem mais coragem de beber o café servido e optou por um suco que havia comprado. “A gente perde o sono pensando quem teria feito isso. Nos damos bem com todos os colegas”, lamentou Rute.
Para as cinco vítimas reunidas ontem na delegacia o mais doloroso é a angústia de ter, sem nenhuma explicação até agora, um inimigo. “O centro é uma grande família e por isso não consigo entender”, desabafou Maria de Cássia Lima, 41 anos. Os dez funcionários da Aosid intoxicados eram cuidadores, responsáveis pela assistência aos deficientes que moram no centro de reabilitação.
Fonte: Correio da Bahia
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