A Amazônia está sufocando e parte da floresta corre o risco de se transformar num imenso cerrado. É este o alerta emitido ao Brasil e ao mundo pelos cientistas do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, organizado pela ONU. Ao anunciar os resultados do quarto e último relatório do ano, no fim de semana, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, ratificou as más notícias registradas nos três documentos anteriores e confirmou: é hora de agir.
O texto assinado por pesquisadores de várias nações - incluindo brasileiros - informa que a temperatura do planeta está subindo mais rápido do que o previsto. Onze dos últimos 12 anos figuram entre os mais quentes desde que a medição começou a ser feita, em 1850. O nível dos oceanos subiu 1,8 milímetro ao ano desde 1961, e a partir de 1993 o ritmo passou a 3,1 milímetros por ano. As calotas polares e as geleiras vêm derretendo mais rapidamente. As tempestades tornaram-se mais fortes e mais freqüentes.
O relatório confirma: as causas da reviravolta climática são humanas. A emissão de gases que provocam o efeito estufa aumentou 70% desde 1970. A principal fonte é a queima de combustíveis fósseis - ou seja, o vilão é o petróleo, que alimenta a riqueza e o bem-estar das nações desenvolvidas e sustenta o crescimento econômico de 10 entre 10 países em desenvolvimento. Nas próximas duas décadas, a temperatura tende a manter a elevação média de 0,2ºC por ano.
A boa notícia - talvez a única, diante da aridez de dados e números minuciosamente calculados - é a de que ainda há tempo para se reverter o cenário catastrófico que se legará às futuras gerações. Há como evitar o pior, contanto que o ser humano e os governantes mudem já de atitude. Sem adiamentos.
A palavra-chave é mesmo o desenvolvimento sustentável - expressão cunhada por ambientalistas na década de 80, que se traduz numa série de posicionamentos (individuais e coletivos) e políticas (governamentais) em prol do bem-estar conjunto do homem e da Terra. Os cientistas recomendam: mais eficiência no uso da energia pelas indústrias, prédios e casas; mais eficiência no consumo pelos automóveis; e o uso de novas tecnologias que reduzam as emissões (da energia solar a nuclear).
O custo para reverter processos em andamento - como a desertificação do sertão nordestino e o desaparecimento de parte da floresta amazônica - não é tão elevado. Poderá ser compensado, em parte, com a diminuição dos gastos do sistema de saúde com o tratamento das doenças provocadas pela poluição do ar.
O relatório aumenta a pressão sobre os ministros de meio ambiente que se reúnem em Bali, na Indonésia, em dezembro. Ali serão acertadas as bases de um acordo que, espera-se, substitua o Protocolo de Kyoto. Ratificado em 1999, o tratado internacional com metas rígidas para redução de emissão de gases obteve sucesso apenas parcial. Jamais contou, por exemplo, com a assinatura dos Estados Unidos, o maior poluidor mundial.
É fundamental, portanto, que os governos das nações desenvolvidas assumam o compromisso de buscar novas fontes de desenvolvimento, menos poluentes e mais benéficas ao clima do planeta. Mais do que ajudar a Terra, estarão garantindo o futuro da humanidade.
Fonte: JB Online
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