Pedro do Coutto
O New York Times divulgou nesta semana a permanência do ex-presidente Bolsonaro durante pelo menos duas noites seguidas na Embaixada da Hungria, após ser obrigado a entregar o passaporte à justiça brasileira. O jornal divulgou imagens de vídeo e fotos indicando que Bolsonaro entrou na embaixada em Brasília no dia 12 de fevereiro e só saiu de lá dois dias depois. O NYT divulgou ainda fotos de satélite mostrando que o veículo usado pelo ex-presidente ficou estacionado na embaixada.
Segundo o veículo americano, a estadia de Bolsonaro na embaixada da Hungria sugere que o ex-presidente estava tentando “alavancar a sua amizade” com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que é um político da extrema-direita do país europeu. A estratégia seria tentar escapar de punições judiciais. Se a Justiça expedisse um mandado de prisão preventiva contra Bolsonaro, com o presidente hospedado em uma embaixada internacional, a decisão judicial não poderia ser feita porque os consulados são considerados territórios dos países de origem.
ASILO – Fica evidente que a iniciativa tinha como objetivo recorrer a um asilo político caso viesse a ter a sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro identificou a situação que o ameaçava, e com isso buscou refúgio. Alegou, conforme noticiaram os jornais, que foi “conversar” com amigos, gerando assim uma situação bastante sensível.
Momentos antes de sua chegada, imagens de segurança mostraram Miklós Halmai, embaixador do país no Brasil, andando e digitando em seu telefone. A pequena embaixada estava praticamente vazia, exceto por alguns diplomatas húngaros que lá vivem, segundo relato do jornal. Os funcionários locais estavam de férias porque a estadia ocorreu no meio das celebrações do Carnaval nacional do Brasil.
O diário americano lembrou que Bolsonaro, alvo de diversas investigações criminais, não poderia ser preso em uma embaixada estrangeira que o estava acolhendo, porque está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais. Bolsonaro chamou Orbán de seu “irmão” durante uma visita à Hungria em 2022.
AJUDA – Mais tarde naquele ano, o ministro das Relações Exteriores da Hungria perguntou a um funcionário do governo Bolsonaro se a Hungria poderia fazer alguma coisa para ajudar a reeleger Bolsonaro, de acordo com o governo brasileiro. Em dezembro, Bolsonaro e Orbán se reuniram em Buenos Aires na posse do novo presidente de direita da Argentina, Javier Milei. Lá, Orbán chamou Bolsonaro de “herói”.
Todo o cenário constitui mais um novo episódio de um processo que poderá causar um desentendimento diplomático com pedidos de explicações por parte do governo brasileiro, aliás como já foi feito. Afinal, conversar com amigos não demandaria a permanência de dois dias seguidos na embaixada húngara sediada em Brasília. O ex-presidente da República não foi bem no episódio e certamente refletirá consequências negativas para Bolsonaro que envolve-se cada vez mais numa teia de contradições e complicações perante à justiça.