Publicado em 3 de março de 2023 por Tribuna da Internet
Bernardo Mello Franco
O Globo
O senador Juscelino Filho (União Brasil-MA) usou verba do orçamento secreto para asfaltar a estrada em frente ao seu haras. Promovido a ministro, embolsou diárias da União para participar de um leilão de cavalos.
As peripécias do titular das Comunicações não chegam a causar surpresa. Reproduzem velhas práticas do patrimonialismo brasileiro. O que espanta é a ausência de explicações para justificar sua permanência no governo.
BAIXO CLERO – O ministro não tem parentesco com o ex-presidente homônimo. É filho de Juscelino Rezende, ex-prefeito de Vitorino Freire, município de 31 mil habitantes no interior do Maranhão. O patriarca teve seus 15 minutos de fama em 1999, durante a CPI do Narcotráfico. Foi preso e indiciado sob acusação de receptar mercadoria roubada.
O herdeiro sempre pertenceu ao baixo clero, que reúne deputados com poucas ideias e muitos interesses paroquiais. No ano passado, apresentou um único projeto de lei. Queria criar o Dia Nacional do Cavalo. “Desde os primórdios, os cavalos desempenham um papel de grande importância na Humanidade”, filosofou.
O parlamentar acrescentou que os animais teriam grande contribuição a dar ao mundo corporativo.
MAIS ARGUMENTOS – Recomendou também que os executivos se dedicassem à prática do polo, “esporte capaz de cultivar a liderança e a tomada de decisões rápidas”. Apesar da solidez dos argumentos, o projeto foi devolvido, porque o autor ignorou a lei que exige a realização de audiências públicas antes da instituição de datas comemorativas.
O amor aos equinos está por trás de outro rolo de Juscelino. Ele escondeu do TSE a propriedade de ao menos R$ 2,2 milhões em cavalos quarto de milha, raça preferida dos adeptos da vaquejada. Os três casos foram revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo. As reportagens começaram a ser publicadas em janeiro, mas o ministro continua impassível.
LULA SEGUE INERTE – Juscelino chegou à Esplanada por imposição do União Brasil. O partido abocanhou três ministérios e ensaia se declarar independente. A base do governo é tão frágil que o presidente não se arrisca a enquadrar a sigla.
O ministro também parece seguro de que ninguém interromperá seu galope. Nesta quinta-feira, dia 2, ele anunciou a devolução das diárias recebidas indevidamente, mas garantiu ter “zelo com o dinheiro público” e “compromisso com a transparência”.
No mesmo dia, em entrevista à BandNews, Lula disse que o auxiliar “tem o direito de provar sua inocência”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A gente sabe que ele é tão “inocente” quanto Lula. (C.N.)