Publicado em 5 de março de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Além de inconstitucional, invadir fazendas ou terras produtivas é algo que ficou no passado, quando a foice e o martelo, símbolos do comunismo, representavam os trabalhadores numa perspectiva universal. No Brasil, na sucessão presidencial de 1960, a reforma agrária foi um tema predominante e deu margem, inclusive, à crise verificada em 1964, culminando com o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.
Parece incrível, mas 63 anos depois, o tema permanece como um dos mais importantes para a economia e para o desenvolvimento social do país. Permanece, mas a solução não pode ser invadir a propriedade alheia, sobretudo porque com a modernização da agricultura é praticamente impossível pensar-se no martelo, na foice e na enxada para realizar algum projeto por si sustentável.
INTERESSES POLÍTICOS – A invasão só serve a interesses políticos e no caso agora ocorrido em cinco fazendas – uma das quais já foi desocupada – representa um fato incompatível, na medida em que o MST esquece a sua vinculação e a sua esperança no governo Lula da Silva para indiretamente assumir uma posição que só interessa à oposição comandada concretamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que permanece voltado contra o resultado das eleições de outubro e incentivando um golpe militar que se tornou impossível, mas que no seu rastro levou ao triste episódio de 8 de janeiro e revelou permanecer na intenção golpista e antidemocrática.
Fora a questão política que se percebe na inconsequência das invasões, é impossível nos dias de hoje obter-se resultados econômicos positivos fora da modernização da agricultura brasileira. Ela hoje se fundamenta em equipamentos e projetos de avançada tecnologia, a começar pelo plantio, passando pela irrigação, pelos implementos agrícolas da época e das colheitadeiras mecanizadas.
Com isso, o universo da produção rural tornou-se um programa complexo que não pode ser resolvido de forma rudimentar. Invadir na marra, como chegou a defender Luís Carlos Prestes, atualmente não produzirá efeito positivo algum. Para semear, produzir e colher são necessárias máquinas sofisticadas e produtos químicos legais, cujo custo exige investimentos que evidentemente os trabalhadores sem-terra não poderão arcar.
NOVA VISÃO – É preciso, portanto, uma visão nova para a questão que surge de reivindicações legítimas, mas cujo atendimento não poderá ser obtido com equipamentos do passado e que tantos acidentes trágicos produziram, como a colheita da cana-de-açúcar. Não se pode querer transformar latifúndios improdutivos – existem de fato muitos no país – em minifúndios igualmente improdutivos que terminarão na compra das terras atingidas pelos invasores que se tornarão vendedores.
O objetivo do desenvolvimento econômico e social, é claro, não é esse. O problema tem que ser enfrentado sob o ângulo da modernização; um vendaval tecnológico que cobre as plantações e lavouras brasileiras. Matéria no O Globo deste sábado, assinala já ter sido desocupada uma fazenda no Norte da Bahia. Mas a desocupação foi marcada pelo início de um confronto entre um grupo do MST e a Polícia Militar.
A questão da terra no mundo inteiro, mas especialmente no Brasil, constitui um desafio permanente tanto para o governo quanto para o próprio país. É preciso iniciar um processo construtivo nessa área, até porque uma consequência do desenvolvimento agrário será sempre o avanço do mercado de consumo, tanto de alimentos, quanto de produtos industrializados. É preciso considerar ainda que em nosso país, 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome. E outros tantos milhões quando dormem não têm a certeza se poderão se alimentar no dia seguinte.
PRESSÃO CONTRA O BC – O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, recomendou à sua equipe que conclua um projeto sobre a nova regra fiscal – excelente reportagem de Manoel Ventura, O Globo de ontem – antes da reunião do Conselho Monetário Nacional marcada para os dias 21 e 22 deste mês. Deixou claro, o titular da Fazenda, que ele e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, votarão pela redução da Selic, hoje em 13,75% ao ano.
A taxa incide, como digo sempre, sobre a dívida interna calculada em cerca de R$ 6 trilhões. São portanto R$ 800 bilhões por ano para rolar o endividamento. E a taxa de 13,75% constitui um surpreendente exemplo em que o devedor propõe ao credor juros mais altos para a sua dívida. Os juros altos são do interesse dos que detém os títulos do Tesouro que lastreiam o endividamento. Não interessam a mais ninguém. E é uma fantasia de que uma Selic alta contribui para conter a inflação. A realidade não confirma a teoria da elite econômica do país.
DIAMANTES – Os diamantes são eternos é o título de um livro de Ian Fleming que integra a série fascinante de James Bond. A verdade contida no título é tão eterna quanto os diamantes, acentuo. O Estado de S. Paulo e O Globo divulgaram o episódio dos diamantes, entre outras joias, doados pela Arabia Saudita ao governo brasileiro que se destinariam a Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente da República. A matéria foi divulgada também na noite de sexta-feira pela GloboNews e pela TV Globo.
As joias entraram no país no meio da bagagem, segundo a reportagem, de um militar que trabalhou com o almirante Bento Nogueira, ex-ministro das Minas e Energia. Bento Nogueira foi ao aeroporto tentar liberar as joias apreendidas pela Alfândega. Não conseguiu. Novas tentativas foram feitas pelo governo passado, mas não tiveram êxito.Os diamantes ficarão na eternidade de um museu brasileiro.