Luísa Marzullo
O Globo
Ao afirmar que o plano para matar o senador Sergio Moro (União-PR) seria, na verdade, uma “armação” do ex-juiz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inflou um embate de narrativas que vem opondo integrantes do governo e oposição nas redes sociais.
Ao longo dos últimos dias, opositores questionam o petista sobre o embasamento de sua declaração, já que a investigação colocada em xeque foi respaldada pela Justiça Federal. Do outro lado, aliados justificam a rixa entre Lula e Moro, datada da Lava-Jato, e criticam a retirada do sigilo do processo.
LULA SAI PERDENDO – O episódio foi prejudicial à imagem do presidente nas redes. De acordo com monitoramento feito pela Quaest, 812 mil menções no Twitter, Facebook e Instagram abordaram a fala de Lula na última quinta-feira e 93% delas foram negativas ao presidente.
O embate entre Lula e Moro, no entanto, havia se iniciado dois dias antes e já havia tido impacto negativo nas redes. Na terça-feira, em entrevista ao Brasil 247, o presidente relembrou o período em que esteve preso na sede da Polícia Federal em Curitiba. Ao falar das visitas que recebia na prisão, Lula disse que, ao ser perguntado por procuradores respondia que tudo estava bem, respondeu que só estaria bem “foder esse Moro”.
A fala gerou mais de 358 mil menções nas principais plataformas e menos de 10% foram em defesa de Lula, apontou a Quaest.
OPERAÇÃO DA PF – Menos de 24 horas após a entrevista, a PF iniciou uma operação para prender integrantes de uma facção criminosa que planejavam atentar contra a vida de autoridades, entre elas o senador. Uma falsa correlação dos eventos foi usada como munição da oposição na arena digital, estratégia que foi alvo críticas do ministro da Justiça, Flávio Dino, que apontou “politização” do caso.
Na quinta-feira, o presidente se referiu ao plano de homicídio como uma “armação de Moro”:
— É visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar e vou saber o porquê da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele — disse Lula.
MORO REAGIU – A declaração foi explorada por adversários. Neste mesmo dia, Moro reagiu e questionou se Lula “não tem decência”. Parlamentares se juntaram, em peso, ao ex-juiz. O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou no Twitter que faltava “equilíbrio emocional” para o presidente e classificou Moro como “um homem de honra”.
O deputado federal Deltan Dallagnol (União-PR) também repudiou a declaração e disse que a fala de Lula desmoralizava Flávio Dino, que, na véspera, confirmou que havia indícios do planejamento de morte por parte da facção criminosa.
Horas antes da declaração, no Telegram, o canal oficial de Lula pregava a narrativa de que a PF do governo havia salvado a vida de Moro.
MOBILIZAÇÃO DIGITAL – A fala do petista repercutiu nas redes e o termo “armação” ficou horas nos assuntos mais comentados do Twitter. Expoentes bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) atuaram na mobilização digital.
Enquanto o holofote se concentrava na fala dos políticos, a PF pediu a quebra do sigilo da investigação, o que foi concedido parcialmente. E foi justamente a retirada do sigilo que pautou os aliados governistas na sexta-feira.
O ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, questionou os motivos por trás da decisão da juíza Gabriela Hardt, substituta na comarca e próxima de Moro.
E-MAIL LULALIVRE – Apesar das tentativas do PT, a oposição seguiu dominando a repercussão do caso e, no sábado, um novo detalhe da investigação foi usado como munição: um endereço de e-mail de nome “lulalivre” teria sido usado por um dos integrantes da facção preso na operação. O e-mail foi cadastrado na linha telefônica usada para a comunicação dos criminosos envolvidos no planejamento da morte de Moro.
Na decisão judicial, consta que a conta pode ter sido cadastrada em nome de terceiro para evitar suspeitas por parte da polícia.
Moro, Dallagnol e bolsonaristas buscaram associar Lula à facção criminosa, o que levou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann a sair em defesa de Lula.