Bruno Boghossian
Folha
Rumo a uma nova campanha, Donald Trump resolveu agitar o picadeiro. No fim de semana, o ex-presidente americano disse ter recebido a informação de que seria preso e convocou apoiadores para um protesto: “Retomem nossa nação!”.
Trump seguiu a cartilha de sempre. O ex-presidente afirmou que é perseguido nas investigações sobre o pagamento ilegal feito por seu advogado a uma estrela pornô em troca de silêncio. Ele posou de vítima de uma conspiração, fez barulho para chamar atenção e tentou usar seu eleitorado como escudo.
IMITADORES DE TRUMP – Se o recente ciclo do populismo ensinou algo, ninguém deveria se surpreender com o comportamento de imitadores do trumpismo em situações semelhantes.
Flávio Bolsonaro deu pistas desse rito em entrevista à Folha. Com o pai na mira do Tribunal Superior Eleitoral pelos ataques às urnas, o senador disse que os processos contra Jair Bolsonaro são “ações políticas”.
Afirmou que torná-lo inelegível “seria a maior atrocidade das últimas décadas” e sentenciou que seria antidemocrático “tirar na canetada uma pessoa que representa grande parte da sociedade”.
FALOU A INCITAÇÃO – Está quase tudo ali: a ideia de um conluio, o argumento de que a inelegibilidade seria arbitrária e o esforço para atribuir uma falsa imunidade a um político apenas porque ele carrega uma popularidade robusta.
Faltou a incitação a uma insurgência, mas os bolsonaristas já mostraram que essa é uma carta disponível.
Antes da eleição, Flávio falava em “perigo de instabilidade” diante das suspeitas sobre as urnas, que sua família alimentava, e dizia que era impossível conter a reação de apoiadores em caso de derrota.