Laryssa Borges
Veja
O fator Moro. É assim que auxiliares do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, explicam o motivo de o magistrado não ter levado adiante acenos de que poderia ser chefe da pasta da Justiça no governo Lula. Seu nome circulava entre os potenciais ministeriáveis desde o final do ano passado, atrelado ao combo de que supostamente estaria disposto a antecipar a aposentadoria compulsória do STF, prevista para maio, a fim de cerrar fileiras com o recém-eleito presidente. Não era bem assim.
A interlocutores, Lewandowski – de longe o mais afinado ao petista desde que foi indicado à Suprema Corte em 2006 – afirmou que, se concordasse em deixar o tribunal para imediatamente integrar o Executivo, repetiria o erro do ex-juiz Sergio Moro, que ungido a níveis inéditos de popularidade na Lava-Jato, abandonou a magistratura para compor o primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro.
NÃO ACEITOU – Um dos mais ferrenhos críticos de Moro e das investigações que desvendaram o petrolão – foi dele, por exemplo, a decisão que garantiu acesso de Lula às mensagens hackeadas do ex-juiz de Curitiba e de procuradores – Lewandowski detectou as digitais de outros magistrados nos rumores de que toparia antecipar a aposentadoria e ser chefe da Justiça.
Por este raciocínio, espalhar que ele não chegaria até o fim de sua temporada no STF abriria caminho para que outros magistrados pudessem tentar emplacar um nome a eles afinado.
Apesar de nunca ter levado a sério a ideia de se tornar ministro da Justiça, Lewandowski sentia-se prestigiado em ter o nome aventado para a pasta e estrategicamente não afastava publicamente a hipótese de aceitar o cargo quando sondado por colegas do STF.
AGORA, A DEFESA – Situação diferente, avaliam interlocutores do magistrado, ocorreu quando seu nome passou a integrar a bolsa de apostas para ser ministro da Defesa de Lula. Neste caso – embora o caminho de deixar o Judiciário e adentrar no Executivo fosse o mesmo – o vice-decano do tribunal deixou o ‘precedente Moro’ de lado e gostou de ser lembrado.
Lewandowski completa 75 anos no próximo dia 11 de maio, idade-limite para que magistrados deixem o STF. Sua aposentadoria abre a primeira indicação do terceiro mandato de Lula ao Supremo.
A atual presidente da Corte Rosa Weber também se aposenta compulsoriamente este ano, dando lugar a um segundo nome de escolha do petista para o tribunal.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Lewandowski é a imagem da esculhambação que reina hoje na Justiça. Apesar de ser amigo de Lula desde a época em o petista casou-se com Marisa Letícia. Lewandowski descumpriu as leis e o Regimento do Supremo com a maior desfaçatez, jamais se declarou suspeito para julgar processos envolvendo o amigo e até conseguiu tirá-lo de situações dificílimas, colaborando expressivamente para a libertação de Lula e sua volta à política. Semana passada, trancou mais três processos contra Lula. Agora, está novamente contado para trabalhar diretamente com ele, no Ministério da Defesa. Quem é que pode confiar nesse tipo de magistrado? (C.N.)