Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

terça-feira, janeiro 24, 2023

Voltaire deu exemplo ao mundo, ao lutar contra a intolerância político-religiosa

Publicado em 24 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet

IDEIAS E PRINCÍPIOS - O filósofo francês Voltaire: todos merecem julgamento justo -

Voltaire foi um gigante ao enfrentar a intolerância

Fernando Schüler
Veja

Ainda agora a intolerância política resolveu banir mais uma leva de brasileiros. Um deles foi Nikolas Ferreira, o jovem deputado mais votado do país. Qual foi exatamente seu crime? Ele pediu que as investigações dos atos do dia 8 de janeiro envolvessem também autoridades federais. Dançou. Um deputado deveria ser inviolável em “palavras, opiniões e votos”, como diz a Constituição, para, inclusive, pedir as investigações que julgar devidas. No Brasil de hoje, foi calado.

A maioria ri. Outros dão de ombros. Ainda outros andam com medo. Essas coisas surgem sempre quando aceitamos que cabe ao Estado decidir sobre a verdade, quando entra em cena o delito de opinião e quando admitimos que os tribunais, que deveriam preservar a lei, ajam com “ousadia” diante da lei, como leio por aí.

MARTÍRIO DE CALAS – Há uma história que nos fala exatamente do quanto o respeito a princípios foi crucial no nascimento da moderna ideia da tolerância e dos direitos individuais. É a história de Voltaire e o martírio de Jean Calas, comerciante de Toulouse acusado de matar o próprio filho, em 1761.

Calas tinha 63 anos e era um protestante numa cidade marcada pelo fanatismo católico. A acusação era frágil, mas ele foi condenado ao suplício e à morte. Cada parte de seu corpo foi quebrada. Enfiaram um funil na sua garganta, por onde despejaram 17 litros de água.

Depois o colocaram na roda, onde foi esticado até arrebentar. A tudo ele suportou repetindo que era inocente. Sua obstinação tocou a alma de Voltaire. Ele viu naquilo toda a barbárie do século, mas também a chama da dignidade individual. Convencido da inocência dele, Voltaire torna para si uma questão de honra a reabilitação da memória de Jean Calas.

VOLTAIRE INSISTE – O que encanta nesse episódio trágico é a atitude “absurda” de Voltaire. Voltaire era um homem consagrado, havia acabado de publicar o “Cândido,” e andava prestes a inaugurar seu Castelo de Ferney. E nem sequer conhecia Jean Calas. Apesar disso, por dois anos, se dedicou à reabertura do caso simplesmente em obediência a um princípio. Por fim conseguiu.

Em março de 1765, três anos depois do suplício, os juízes de Paris revisaram a condenação, e a viúva de Calas foi recebida em Versalhes por Luis XV. Na sequência, Voltaire escreve seu “Tratado sobre a Tolerância”.

Afirma princípios simples e até hoje válidos: a ideia de que todos merecem um julgamento justo, que a tolerância é a via possível para vivermos em paz e prosperar. E que é preciso superar o fanatismo, essa “sombria superstição que induz as almas fracas a imputar crimes a qualquer um que não pense como elas”.

PAIXÃO PÚBLICA – A política hoje substituiu a religião, como a paixão pública. A mensagem de Voltaire permanece: abrindo mão de certos princípios, só nos resta o universo incerto dos instintos, de nossas preferências e juízos precários sobre o bem e o mal. Se no Brasil de hoje achincalhamos um jornalista por defender a liberdade de expressão e o direito ao devido processo, é porque estamos com um problema.

Se aceitamos passivamente a volta da censura prévia, o banimento de jornalistas e deputados da internet, ou coisas ainda piores, como o bloqueio de contas bancárias, pressão econômica, censura a emissoras e mesmo a prisão por delito de opinião, é porque estamos com um problema bastante complicado. Algo que não será resolvido por uma razão instrumental, que diz “é preciso esticar um pouco a Constituição porque há um inimigo a ser derrotado”.

Lembrar de Voltaire é fazer o percurso inverso, que nos vincula a certos princípios feitos precisamente para frear nossos instintos. Princípios que não são “americanos”, mas que estão todos lá, na Constituição e nas leis brasileiras, cujo respeito é a única via possível para reconciliar este país que por vezes mal conseguimos reconhecer.

Em destaque

Justiça suspende decreto que restringe cidadania por nascimento nos EUA

Publicado em 23 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Juiz disse que nunca tive visto um decreto tão il...

Mais visitadas