Espera-se que os chefes militares estejam orgulhosos por esculhambarem este país

Publicado em 9 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet

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Os chefes militares poderiam ter evitado tudo isso, porém…

Carlos Newton

Vamos direto ao ponto. Não adianta prender o delegado federal Anderson Torres, como pretende a AGU (Advocacia-Geral da União). Não adianta prender esses pobres diabos que invadiram a Esplanada dos Ministérios, vestidos de verde e amarelo, para depredar os prédios onde funcionam — mal e porcamente, admita-se — os chamados Três Poderes. E também não adianta nomear um interventor federal para tomar conta de Brasília, como fez o presidente Lula da Silva.

Aliás, foram presos alguns participantes da balbúrdia, que a imprensa e as autoridades chamam de “terroristas”. Mas minha ironia não chega a tanto — sei muito bem o que significa um terrorista propriamente dito. Por isso, considero mais adequado chamá-los de “vândalos”, o que realmente são.

DE QUEM É A CULPA? – Esses fanáticos que já foram presos e alguns outros que possam vir a ser, é claro, servirão de exemplo. Como diz a presidente do Supremo, ministra Rosa Weber, “serão severamente punidos”. E os milhares de outros vândalos bolsonaristas, o que acontecerá com eles? Nada, rigorosamente nada.

E de quem é a culpa? Ora, não sejamos hipócritas. Os maiores culpados por essa exacerbação política são os comandantes das Forças Armadas — os anteriores e os atuais. Especialmente, o general Marco Antonio Freire Gomes, que comandava o Exército até o último dia 30.

Foi ele quem permitiu essa esculhambação diante do Quartel-General do Exército, o outrora inexpugnável Forte Apache, e também diante das principais unidades do Exército, espalhadas pelo país. Se o general Freire Gomes tivesse agido como um verdadeiro comandante, impedindo que fosse montado o acampamento dos fanáticos, nada disso teria acontecido.

FLERTE COM O GOLPE – O fato concreto é que os comandantes das Forças Armadas aceitaram a conspiração do golpe de Bolsonaro, sentiram-se envaidecidos com os pedidos de intervenção militar, portanto, comportaram-se como meros espectadores do show, deixando de cumprir suas obrigações constitucionais.

Esse comportamento leniente e conivente das autoridades militares é que entusiasmou os fanáticos, que se sentiram fortes e protegidos. O raciocínio da turba foi linear e lógico. Se o Exército está conosco, quem poderá ficar contra nós — foi o que pensaram os líderes da sublevação.

O comando do Exército foi trocado no dia 30, assumiu o general Júlio Cesar de Arruda, mas nada aconteceu com os fanáticos, que não foram obrigados a levantar acampamento. E essa omissão do novo comandante tornou-se fundamental para reanimar os manifestantes bolsonaristas.

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P.S. 1 – Bem, a novela do bolsonarismo fecha seu último capítulo, sem haver final feliz. Agora, o acampamento será desmontado, a paz voltará a reinar, espera-se. E os chefes militares devem estar orgulhosos por terem causado essa esculhambação institucional.

P.S. 2 – Na Flórida, o ex-presidente Jair Bolsonaro se desespera e entra em profunda depressão. O então chefe do governo precisava que os fanáticos destruíssem a Praça dos Três Poderes antes da posse de Lula, para que ele, ainda presidente, pudesse convocar as Forças Armadas no artigo 142 e declarar “estado de sítio”, suspendendo as atividades do Congresso e do Supremo, e assim se manter no poder, dentro das quatro linhas. Mas deu tudo errado. A insurreição atrasou e o golpe de Bolsonaro ficou sepultado, foi apenas um sonho de início de verão, diria Shakespeare, assustado com tamanha boçalidade.

P.S. 3 – Já ia esquecendo. A culpa de tudo isso também é do Supremo, que libertou ilegalmente Lula, devolveu-lhe os direitos políticos e acabou com a Lava Jato. (C.N.)

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